terça-feira, 5 de março de 2013

Com alto desemprego e baixo crescimento, recuperação econômica da Irlanda mostra limites


Com alto desemprego e baixo crescimento, recuperação econômica da Irlanda mostra limites

Eric Albert
Casal caminha com seu bebê ao lado de cartazes anunciando a venda de casa nos arredores de Dublin
Casal caminha com seu bebê ao lado de cartazes anunciando a venda de casa nos arredores de Dublin
Hoje muitas vezes a Irlanda é citada como um modelo que a Europa – do Sul, principalmente – deveria seguir. Apesar de uma queda de 15% do produto interno bruto (PIB) entre 2007 e 2010, e depois de ter sido forçada a recorrer a um plano de resgate europeu no final de 2010, a economia se estabilizou.
O crescimento se aproximou de 1% em 2012, e poderá chegar a 1,8% em 2013. Melhor, a taxa de emprego (proporção de pessoas em idade ativa que possuem um emprego) avançou um pouco no segundo semestre de 2012, pela primeira vez desde o início da crise.
Mas o modelo tem suas limitações. A taxa de desemprego permanece em 14,2% e muitos irlandeses ainda estão afundados em dívidas, contraídas para comprar imóveis durante a efervescente primeira década de 2000. Por causa disso, a demanda interna caiu brutalmente – 26% - desde o início da crise.
"A austeridade não funciona", argumenta David Begg, secretário-geral da ICTU, a confederação sindical. "As exportações andam bem, mas isso não basta".
Porém, são as perspectivas para a exportação que mais preocupam as empresas hoje. Assim, todos falavam de um assunto na cúpula do IBEC, o patronato irlandês, na quinta-feira (28), em Dublin: a crise econômica europeia.
Enquanto nos anos anteriores os grandes empresários se preocupavam antes de tudo com a economia nacional, agora é o resto do continente que lhes causa inquietações.
Com olhar franco, fala rápida e discurso direto, Gary McGann também manifesta essa preocupação. Ele dirige a Smurfit Kappa, uma multinacional irlandesa que fabrica embalagens de papelão (faturamento de 8 bilhões de euros, 41 mil funcionários em 32 países).
Seu negócio é simples: ele está presente onde bens de consumo são vendidos. E, segundo ele, estará cada vez menos no Velho Continente, que no entanto é seu principal mercado. "Nos cinco últimos anos investi 2 bilhões de euros, sendo 70% na Europa. Nos próximos cinco anos, grande parte disso pode ir para outros lugares", ele avisa.
Segundo ele, os países europeus deveriam fazer como a Irlanda, que reduziu em um quarto o custo unitário da mão de obra desde o início da crise. Como prova da flexibilidade do país, ele apresenta o exemplo de sua empresa: quando a crise começou, em 2008, ele impôs um congelamento dos salários – que ainda está em vigor.
Na Irlanda, ele pôs 200 pessoas na rua, ou seja, 20% do efetivo local. "Foi muito doloroso. Mas os sindicatos entenderam que era preciso aceitar isso, senão havia o risco de não restar mais emprego nenhum".
Ainda que ele se permita tomar a Irlanda como exemplo, ela é o país que tem mostrado os primeiros sinais sérios de recuperação. O que dá a esperança de sair do plano de resgate do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia no final do ano, como previsto inicialmente. "O pior período econômico já passou", acredita Enda Kenny, primeiro-ministro irlandês.
E qual seria o método irlandês? Oito orçamentos de austeridade em cinco anos, destinados a restaurar a competitividade do país. Os salários baixaram, tanto no setor privado quanto no público, o setor imobiliário afundou, tornando os escritórios muito mais baratos, a contribuição social foi reduzida e os impostos subiram.
Para Petter Made, um sueco que no final de 2011 fundou juntamente com alemães a start-up SumUp (terminais de pagamento para cartão de débito, instalável em iPhone ou iPad), isso fez de Dublin o lugar ideal para se estabelecer.
E o que seduz na Irlanda? A facilidade de recrutar, além de salários moderados. "Os bancos demitiram muita gente e nós precisávamos de funcionários que conhecessem a regulamentação financeira. Eles foram fáceis de achar, e em quatro a seis semanas estavam disponíveis". A isso se somou a tributação sobre as empresas, de somente 12,5%. "É até menos do que registrar os royalties no exterior", ele explica.
A flexibilidade da mão de obra irlandesa não foi seguida de praticamente nenhuma revolta social. Somente cinco grandes manifestações foram organizadas em cinco anos.
Pierre Pringuet, diretor-geral da Pernod Ricard, cujas destilarias de Midleton (sul da Irlanda) fabricam o uísque Jameson, acha que sabe a razão disso. "Quando compramos as destilarias (em 1988), Dublin era muito pobre. A maioria dos irlandeses estão muito mais ricos que na época, e se lembram disso. Quando a crise chegou, eles não tiveram medo de reagir e de ter uma atitude firme".
No entanto, a Pernod Ricard é um bom símbolo da economia de dois pesos e duas medidas da Irlanda: multinacionais em plena forma que exportam, mas um mercado interno deprimente. A empresa de destilados investiu 200 milhões de euros em uma nova fábrica em 2012, porque as vendas do Jameson andam de vento em popa… no resto do mundo. Mas, localmente, a queda no consumo foi nítida.
Tradutor: Lana Lim

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