sexta-feira, 26 de abril de 2013

A bezerrona, que virou vaquinha e se chamava bruxinha’. Ciclo de formação faz contraponto à ideologia do agronegócio



 
CPT-MS
Comissão Pastoral da Terra - MS
Adital
Fotos e texto: Comunicação CPT/MS


Crianças brincando no assentamento Capão Bonito II
Sonhos realizados "na terra”, depois de longas jornadas de "luta pela terra”; sonhos relatados por agricultoras e agricultores no meio de uma dinâmica de "presentificação”. Este jeito de participar de uma roda de conversa é uma forma de partilhar mais do que o nome. É contar detalhes da vida de cada um; as luzes e sombras de uma caminhada; as certezas de uma busca e os acidentes de um encontro. Para os camponeses é falar também dos acampamentos, dos despejos, dos anos de espera para entrar num assentamento, das primeiras criações, das grandes e pequenas dificuldades. É lembrar-se da primeira "chacrinha” no lote X que deu certo; e das "formiguinhas” que acabaram com os primeiros pés de alface. É a somatória das caminhadas e das vivencias das lutas para chegar até aqui, para ir além, ou para continuar em busca do "bem viver” na "terra prometida”.
Uma oportunidade, um curso de formação da CPT, uma "presentificação” para buscar valorizar o sentido histórico e político do campesinato. Dar valor a sua história, sua existência como povo, sua relação ancestral com a terra, seu dinamismo no confronto pela mesma terra almejada e invadida pelo agronegócio. Um curso de formação; aquele fato, aquela idéia que vem e se incorpora dando sentido a uma resistência e precisa ser resgatada, recreada, e recolocada na trama do cotidiano como reafirmação de um povo que acredita em que "vai dar certo” na terra. E que junto com a CPT encontra um momento, uma ocasião, para também refletir além do lote, é ficar de olho na reforma agrária, que hoje esta mais parada do que desenvolvida; enquanto o agronegócio avança e domina, faz negocio e mercancia, destrói e discrimina, e até "o céu” não tem limite.

Descobrindo e partilhando, beleza, vida e simplicidade do sitio
Em São Gabriel do Oeste e Sidrolândia, municípios de Mato Grosso do Sul, a CPT/MS reiniciou o fim de semana seus círculos de reflexão junto aos agricultores e agricultoras. Durante 2013 e 2014 a proposta da entidade é seguir levando "informação e compreensão da história das lutas pela terra e clareza política para os camponeses e as camponesas atuarem como agentes de transformação social e da estrutura fundiária sul-matogrossense e brasileira”. É apresentar, descobrir, que existe um grande desafio que a estrutura fundiária do Estado coloca para o campesinato. Refletir que Mato Grosso do Sul segue sendo "valorizada” como a "terra e os territórios de negócios” das transnacionais. E que estas ameaçam o avanço da reforma agrária, transformando a "terra da vida” em campos de monocultura, agrotóxicos, de poluição ambiental, de violência e trabalho escravo.
Em Capão Bonito II, Sidrolândia, agriculturas e agricultores refletiram sobre o sentido atual de suas lutas no assentamento, no município e no Estado. Colocaram suas histórias. Sentiram com suas mãos e suas consciências, literalmente, mediante uma dinâmica, o "chão” do assentamento. E perceberam que, enquanto nela há uma infinidade de vidas ao redor, alem do ser humano, e que elas estão inter-relacionadas, que umas dependem das outras; no mesmo chão, ao mesmo tempo, onde se estende o campo do agronegócio, não voa uma borboleta, nem uma minhoca se movimenta para adubar a terra; pois, foi se desdobrando em campo de veneno e monocultura.
Algumas das agricultoras que participaram da formação
Eles e elas disseram que vieram de "lugares diferentes”; que carregam a "identidade da agricultura familiar”; que nos acampamentos sofreram discriminação por ser "sem terra”; que conquistaram a terra "mediante os movimentos sócias”, pois, de outro jeito "seria impossível”; que o objetivo na terra é "crescer, produzir e viver dignamente”. Todas e todos com uma história digna para ser contada, admirada. Todas e todos lutam para se fixar na terra. Más seus sonhos lindam também com os desertos verdes, as usinas, o poeirão, a poluição dos córregos, o desespero dos pássaros, as noticias sobre assassinatos e despejos nos acampamentos e aldeias indígenas. Com a pulverização aérea dos agrotóxicos em cada canto e nos perímetros dos assentamentos, a migração dos jovens nas cidades e o aliciamento destes nas usinas de cana de açúcar.
Pela terra, pela vida, e no "enfrentamento” desigual com o agrocapital, cada um arranjou seu jeito de sair para frente, melhorar a produtividade, a renda, e conseguir mais dignidade. Como a Joana Ferreira, por exemplo, do assentamento Capão Bonito II que ao partilhar sua "presentificação” falou: "Meu sonho e o de meu esposo sempre foi morar e trabalhar acima de terra e começamos a nossa aventura com uma bezerrona, que virou vaquinha, e se chamava bruxinha... e até agora deu certo”.

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