Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Adital
Meus artigos não costumam ser sobre futebol. Mas dá muito bem associar futebol, política e vida. Muitas vezes, no futebol, na vida e na política, uma derrota pode ser uma vitória.
Meu time de futebol favorito chama-se São Luiz, da Vila Santa Emília, Venâncio Aires, interior do interior do Rio Grande do Sul. Comecei a jogar futebol no São Luiz, anos 1960. Meus seis irmãos homens também jogaram no São Luiz, assim como uma das irmãs. E todos fomos campeões em algum momento da história.
O futebol numa pequena localidade do interior, de agricultores familiares, junto com a Comunidade (em geral) cristã e a Sociedade, é um dos cimentos da vida das pessoas e famílias. Notícia da semana na rádio e jornal locais, espaço de comentários na venda, armazém ou Ginásio, onde acontecem os encontros para se jogar carta e tomar um ‘schnaps’ (cachacinha) ou uma cerveja, ou nas missas e cultos antes de entrar na igreja, na escola, nas rodas ao redor do fogão a lenha no frio do inverno, junto com um bom chimarrão. O futebol anima, empolga, leva as pessoas a sair de casa. Minha mãe de 86 anos ainda se anima a torcer na arquibancada do estádio e tomar um refrigerante, quando o tempo está bom e faz sol.
São as pequenas/grandes belezas de uma comunidade que se junta e organiza em torno de objetivos, onde as pessoas tiram trocados do bolso para fazer as coisas acontecerem, cantarem vitórias e chorarem derrotas inesquecíveis, emolduradas nas paredes do Ginásio com as fotos dos times que encantaram ao longo do tempo. Para minha felicidade, ainda com cabelos e sem barba, estou em duas fotos dessas de muito tempo atrás.
Domingo passado, aconteceu o segundo jogo da semifinal do campeonato municipal de futebol de Venâncio Aires organizado pela Associação Esportiva de Venâncio Aires – ASSOEVA, entre São Luiz de Santa Emília e Floriano da Linha Marechal Floriano. O São Luiz perdeu e não foi para a final do campeonato.
Mas o que interessa não foi isso. O São Luiz foi São Luiz. Valente, lutador, sem medo de ser feliz, debaixo de água, chuva, barro e tudo mais que se possa imaginar num domingo de clima feio à beira do inverno. Assim como o Floriano da Linha Marechal Floriano, vencedor, foi Floriano. Brigador, não se entregando nunca.
O Grêmio, meu time no Rio Grande do Sul, não foi Grêmio semana passada contra o Santa Fe da Colômbia na Taça Libertadores. Acovardado, preso no seu campo, com medo de perder. E perdeu. Todos que conhecem o Grêmio sabem de sua alma castelhana, o que não se entrega nunca, o Imortal Tricolor da Batalha dos Aflitos contra o Náutico em Recife, quando ganhou o jogo com sete jogadores. Pois não foi assim semana passada e não tem sido assim nos últimos tempos.
Muitas vezes, no futebol, na vida e na política, a gente perde mas a gente ganha. Como domingo. A torcida do São Luiz não arredou pé, torceu até o final, aplaudiu os jogadores pela garra e foi festejar depois no Luizão. Não foi o amargo gosto da derrota como foi a derrota do Grêmio, que podia ter ganho e não ganhou por falta de coragem. O São Luiz lutou até o fim, até o limite das forças, e nos detalhes, que muitas vezes acontecem no futebol – duas bolas na trave no primeiro tempo, gols quase feitos perdidos no segundo tempo -, não ganhou.
A vida, o futebol e a política muitas vezes se aproximam. Perder lutando é saber que se jogou para ganhar. Perder eleições, mas se afirmando para o futuro, tendo feito jogo limpo, na ética, engrandece. Lutar contra uma doença grave até a última gota de sangue ou a derradeira esperança, faz da pessoa gente, cidadã, cidadão, ser humano.
Na vida, na política e no futebol, a atitude nunca pode ser a de quem já ganhou e não precisa fazer mais nada. É o primeiro passo para perder. Nem se pode achar que está tudo perdido, porque, aí sim, está tudo perdido. Na vida, no futebol e na política, há sempre um perde-ganha. Perde-se algumas, ganha-se outras. Já perdi eleições ganhas, como em 1989, Lula contra Collor, ou minha reeleição a deputado estadual em 1990. Já ganhei eleições quase impossíveis de se ganhar, como a de Olívio Dutra, 1988, prefeito de Porto Alegre, quando se avançou na participação popular, ‘inventou-se’ o Orçamento Participativo, conhecido e reconhecido no mundo inteiro.
Já enfrentei uma doença aos sete anos de idade, que na época chamavam de reumatismo no coração, semanas no hospital, dois anos de tratamento, e estou hoje estou aqui, lépido, faceiro e são.
Na vida, no futebol e na política, o sonho é fundamental. Acreditar em si, acreditar no coletivo, trabalhar junto, como equipe, renovar sempre as esperanças no novo e no futuro.
É assim na vida, na política, no futebol. E depois da partida jogada, nenhuma guerra ou inimizade. Apenas saber do dever cumprido, da jornada que terminou bem.
Em vinte e dois de maio de dois mil e treze.
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