É um movimento modesto ainda, mas uma dinâmica foi claramente desencadeada: a crise econômica está redesenhando o mapa dos fluxos migratórios dentro da Europa. Jovens formados do sul do continente têm se dirigido em um número cada vez maior para os países mais prósperos da União Europeia.
Elise Vincent
Elise Vincent
Professores protestam contra medidas financeiras do governo grego, em Atenas, nesta terça-feira (2)
Nesse cenário, os portugueses se encontram um pouco à parte. A imigração deles está aumentando desde 2010, mas somente para a Suíça e Angola, uma ex-colônia que veio passando por forte crescimento nos últimos dez anos. No total, e em valor absoluto, a imigração portuguesa para os países da UE caiu 16%.
A principal novidade desse cenário inimaginável até cinco anos atrás é o fim da hegemonia dos fluxos migratórios do Leste para o Oeste. Até então, os países que forneciam mais candidatos para a imigração eram a Polônia e a Romênia, com respectivamente mais de 320 mil e 530 mil saídas em 2007. Seus cidadãos se dirigiam sobretudo para quatro destinos: Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha.
De maneira geral, esses novos movimentos migratórios, apesar de sua nova orientação, devem ser relativizados. "Existe um crescimento da imigração de certos países, mas como partiu de um número muito baixo, ela continua sendo de dimensão moderada", explica o especialista da OCDE Thomas Liebig. As migrações provenientes da Itália, da Espanha ou da Grécia envolveram "50 mil pessoas em média" em 2011, ele resume.
Embora os fluxos provenientes da Polônia e da Romênia tenham diminuído muito desde 2007 (respectivamente 18% e 43%), nem por isso eles pararam e continuam sendo, de longe, os maiores na Europa.
O caso da França é especial. Pela falta de registro da população, é impossível saber com precisão a taxa de imigração. Só se pode ter estimativas a partir das listas consulares, onde a inscrição não é obrigatória. "É um verdadeiro desafio", reconhece o ministério para os Franceses no Exterior.
Segundo essas listas, constatou-se um aumento regular de 2% ao ano do número de franceses que vivem fora da França. Entre 2006 e 2012, eles passaram oficialmente de 1,4 milhão para 1,6 milhão. E, desde 2007, as curvas das inscrições mais ascendentes se encontram no Oriente Médio, na Ásia e na América do Norte.
Com exceção de um pequeno número de espanhóis e de portugueses, a atração dos europeus pelos países emergentes também seria limitada de forma geral. O único verdadeiro movimento observado para esses países é o da volta de latino-americanos que moram principalmente na Espanha. Segundo um estudo de 2012 da Organização Internacional de Migrações, cerca de 107 mil europeus, dentre eles muitos com dupla nacionalidade, voltaram em 2008 e em 2009.
"Leva tempo até as pessoas deixarem seus países", lembra Thomas Liebig, da OCDE. O exemplo da Irlanda é emblemático. A ilha foi o primeiro país europeu atingido pela crise, em 2007. "No início, os fluxos migratórios caíram", explica o especialista. "Em seguida, houve um retorno dos imigrantes poloneses para seus países, e foi somente a partir de 2011 que se viu uma forte imigração dos nativos irlandeses, sobretudo para o Reino Unido e a Austrália."
Esta mais do que dobrou, passando de 19 mil para 47 mil ao ano, entre 2009 e 2012. "A volta da imigração a partir dos grandes países europeus é um fenômeno real, mas tem sido menor do que se poderia esperar, diante da extensão dos desequilíbrios", conclui Liebig.
Tradutor: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário