quinta-feira, 4 de julho de 2013

Crise altera migração entre países na Europa


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É um movimento modesto ainda, mas uma dinâmica foi claramente desencadeada: a crise econômica está redesenhando o mapa dos fluxos migratórios dentro da Europa. Jovens formados do sul do continente têm se dirigido em um número cada vez maior para os países mais prósperos da União Europeia.

Elise Vincent
Professores protestam contra medidas financeiras do governo grego, em Atenas, nesta terça-feira (2)
Desde a crise de 2008, os fluxos mais dinâmicos vêm da Itália e da Espanha. O colapso das economias do sul da Europa reativou uma imigração que havia estacionado desde meados do século 20. Entre 2007 e 2011, a imigração italiana cresceu mais de 30%, a da Espanha mais de 140% e a da Grécia mais de 200%, sendo que o principal destino desses imigrantes é a Alemanha.
Nesse cenário, os portugueses se encontram um pouco à parte. A imigração deles está aumentando desde 2010, mas somente para a Suíça e Angola, uma ex-colônia que veio passando por forte crescimento nos últimos dez anos. No total, e em valor absoluto, a imigração portuguesa para os países da UE caiu 16%.
A principal novidade desse cenário inimaginável até cinco anos atrás é o fim da hegemonia dos fluxos migratórios do Leste para o Oeste. Até então, os países que forneciam mais candidatos para a imigração eram a Polônia e a Romênia, com respectivamente mais de 320 mil e 530 mil saídas em 2007. Seus cidadãos se dirigiam sobretudo para quatro destinos: Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha.
De maneira geral, esses novos movimentos migratórios, apesar de sua nova orientação, devem ser relativizados. "Existe um crescimento da imigração de certos países, mas como partiu de um número muito baixo, ela continua sendo de dimensão moderada", explica o especialista da OCDE Thomas Liebig. As migrações provenientes da Itália, da Espanha ou da Grécia envolveram "50 mil pessoas em média" em 2011, ele resume.
A título de comparação, apesar de sua relativa saúde econômica, a Alemanha, desde 2007, viu partirem mais de 100 mil de seus cidadãos a cada ano, sobretudo para a Suíça e a Áustria. Da mesma maneira, seja na Alemanha, na Espanha ou na Itália, a taxa de imigração, por enquanto, não passa de um a três para cada mil de suas respectivas populações totais. Portanto, esse movimento não tem nada a ver com os 2 milhões de portugueses que deixaram seu país nos anos 1960-1970, ou seja, 23% do total da população.
No caso da Espanha, o movimento de migração para o norte da Europa hoje poderia ser também menos o de jovens espanhóis nascidos de pais espanhóis do que o de imigrantes antigos que chegaram com o boom daeconomia nos anos 2000, segundo Liebig: "Houve uma onda de naturalização e alguns, com a crise, aproveitaram a livre circulação para irem se estabelecer em outros lugares."
Embora os fluxos provenientes da Polônia e da Romênia tenham diminuído muito desde 2007 (respectivamente 18% e 43%), nem por isso eles pararam e continuam sendo, de longe, os maiores na Europa.
O caso da França é especial. Pela falta de registro da população, é impossível saber com precisão a taxa de imigração. Só se pode ter estimativas a partir das listas consulares, onde a inscrição não é obrigatória. "É um verdadeiro desafio", reconhece o ministério para os Franceses no Exterior.
Segundo essas listas, constatou-se um aumento regular de 2% ao ano do número de franceses que vivem fora da França. Entre 2006 e 2012, eles passaram oficialmente de 1,4 milhão para 1,6 milhão. E, desde 2007, as curvas das inscrições mais ascendentes se encontram no Oriente Médio, na Ásia e na América do Norte.
De acordo com esses registros, a França se encontra na 12ª posição entre os países da OCDE em matéria de imigração. Portanto, a crise não teria causado uma partida em massa dos franceses para o exterior. Tampouco teria havido  uma verdadeira fuga de cérebros, ainda que certos indicadores mostrem uma internacionalização crescente de uma elite altamente qualificada. Entre 2000 e 2006, a porcentagem de pessoas com um "nível elevado de educação" entre os franceses expatriados passou de 34% para 40%. No território dos Estados Unidos, esse número chega a 70%.
Com exceção de um pequeno número de espanhóis e de portugueses, a atração dos europeus pelos países emergentes também seria limitada de forma geral. O único verdadeiro movimento observado para esses países é o da volta de latino-americanos que moram principalmente na Espanha. Segundo um estudo de 2012 da Organização Internacional de Migrações, cerca de 107 mil europeus, dentre eles muitos com dupla nacionalidade, voltaram em 2008 e em 2009.
"Leva tempo até as pessoas deixarem seus países", lembra Thomas Liebig, da OCDE. O exemplo da Irlanda é emblemático. A ilha foi o primeiro país europeu atingido pela crise, em 2007. "No início, os fluxos migratórios caíram", explica o especialista. "Em seguida, houve um retorno dos imigrantes poloneses para seus países, e foi somente a partir de 2011 que se viu uma forte imigração dos nativos irlandeses, sobretudo para o Reino Unido e a Austrália."
Esta mais do que dobrou, passando de 19 mil para 47 mil ao ano, entre 2009 e 2012. "A volta da imigração a partir dos grandes países europeus é um fenômeno real, mas tem sido menor do que se poderia esperar, diante da extensão dos desequilíbrios", conclui Liebig.
Tradutor: UOL

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