quinta-feira, 25 de julho de 2013

Mais de cem pequenas vinícolas já saíram do mercado

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Por De Porto Alegre
Espremidas entre as grandes indústrias nacionais e os produtos importados na briga por mais espaço no mercado brasileiro, as pequenas vinícolas carregam custos operacionais mais elevados por conta da baixa escala de produção. Segundo o presidente da União Brasileira de Vinícolas Familiares (Uvifam) e diretor da Vallontano, Luís Henrique Zanini, mais de cem pequenas empresas, com produção de até 200 mil litros (perto de 370 mil garrafas) por ano, deixaram de vinificar desde 2009.
A maior parte dessas cem empresas corresponde a produtoras de vinhos comuns, de mesa, mas a lista também inclui ex-engarrafadoras de vinhos finos que sucumbiram ante custos até 40% maiores em relação às grandes empresas, afirma Zanini, que é enólogo.
Uma delas foi a Cordelier, de Bento Gonçalves, que produzia perto de 130 mil garrafas por ano. Pressionada por sucessivos prejuízos, há dois anos a empresa vendeu os ativos industriais para a Union Destillery Maltwhisky do Brasil e as marcas Cordelier para a vinícola Fante e Granja União para a cooperativa vinícola Garibaldi. O ex-presidente da empresa e sócio da Maltwhisky, Lídio Ziero, não quis falar sobre o assunto.
As pequenas vinícolas pedem o enquadramento no Simples Nacional, regime do qual estão fora por produzirem bebidas alcoólicas. E também criticam iniciativas do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), como o trabalho pela implantação do selo fiscal, adotado em janeiro de 2012, e a tentativa de impor salvaguardas contra a entrada de produtos estrangeiros.
Um dos maiores problemas do setor é o peso e a complexidade do sistema tributário, com regras diferentes em cada Estado para o ICMS, diz Zanini. Conforme o enólogo Adolfo Lona, que em 2006 deixou de produzir vinho para dedicar-se exclusivamente aos espumantes devido à predominância do produto nacional no mercado interno, o enquadramento no Simples reduziria pela metade a carga tributária, que chega a representar 53% do preço do vinho e 57% do valor dos espumantes no ponto de venda.
Para Eduardo Angheben, diretor da vinícola Angheben, o selo fiscal e a tentativa do Ibravin de impor salvaguardas aos importados, suspensa depois do acordo firmado com importadores e varejo no fim de 2012, engrossam a lista de dificuldades. Segundo ele, a exigência do selo aumentou em até 30% o custo de mão de obra nas pequenas vinícolas porque elas têm que fazer o processo manualmente, enquanto a briga em torno das salvaguardas "queimou a imagem do vinho brasileiro" no mercado.
Para o diretor executivo do Ibravin, Carlos Paviani, porém, o pedido de salvaguardas deu força ao setor na negociação com importadores e varejo para fechar o acordo sobre a implementação do programa de valorização do vinho nacional. Ele também defende o selo fiscal como instrumento de combate ao contrabando, embora cerca de 70% dos importados estejam isentos da obrigação graças a uma liminar obtida pela Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Bebidas (ABBA).
Conforme Paviani, o Ibravin também negocia com o governo o enquadramento das pequenas vinícolas de vinhos finos no Simples Nacional e já conversou a respeito do assunto com o ministro do Desenvolvimento Agrário, o gaúcho Pepe Vargas.
Para as pequenas produtoras de vinhos comuns, a entidade pretende lançar ainda neste ano, junto com os ministérios do Desenvolvimento Agrário, da Agricultura e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, um programa de modernização da vitivinicultura no Sul do país, com assistência técnica e linhas de financiamento para modernização industrial e melhoria de parreirais. (SRB)


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