Poder, Geopolítica e Desenvolvimento
Nunca haverá lugar ao sol para todos, no sistema interestatal capitalista. Curiosamente, todos os “ganhadores” desrespeitaram, um dia, regras estabelecidas
José Luís Fiori
José Luís Fiori
“Em última instancia, os processos de desenvolvimento econômico também são lutas de dominação”Max Weber, Escritos Politicos
ii. Num segundo grupo, situam-se os países que questionam a hierarquia internacional e adotam estratégias de mudança do status quo e de crescimento acelerado, com o objetivo de mudar sua participação nadistribuição internacional do poder e da riqueza. São projetos nacionais que podem ser bloqueados, e podem não conseguir superar as “barreiras à entrada” do “núcleo central”, impostas pelas grandes potências. Mas que também podem ter sucesso e dar origem a uma nova potência regional ou global, como foi o caso dos EUA, na primeira metade do século XX, e da China, neste início do XXI.
Na outra ponta do sistema, o pequeno grupo das grandes potencias “ganhadoras” também é hierarquizado e reproduz internamente – num outro patamar de poder — a mesma dinâmica competitiva de todo este universo. Mas mesmo assim, é possível identificar duas grandes regularidades na sua trajetória “vitoriosa”:
1º. Todos enfrentaram, em algum momento, invasões externas, guerras civis ou rebeliões sociais, e estes acontecimentos contribuíram, de uma forma ou outra, para o fortalecimento de suas identidades nacionais e para a mobilização de suas sociedades em torno de grandes projetos de defesa e/ou de projeção internacional. Por estarem situados dentro de tabuleiros geopolíticos altamente competitivos, estes países também compartiram um sentimento constante de “cerco” e de ameaça externa, que explica a centralidade dos seus sistemas de defesa na definição de suas politicas de desenvolvimento e industrialização, e sua permanente preocupação com a conquista e o controle monopólico das “tecnologias sensíveis” que foram decisivas para o seu sucesso de toda a sua economia nacional.
2º. Todos seus estados e seus grandes capitais privados “desrespeitaram” sistematicamente as regras e instituições competitivas de mercado que devem ser obedecidas obrigatoriamente pelos que estão situados nos degraus inferiores do sistema. Neste ponto, pode-se formular uma lei quase universal: quem liderou a expansão vitoriosa do capitalismo foram sempre os estados e os capitais que souberam navegar com sucesso na contramão das “leis do mercado”, ou seja, os “grandes predadores” que conseguem manter e renovar permanentemente o seu controle monopólico das “inovações”, e dos “lucros extraordinários”.
Este caminho dos “ganhadores” está aberto para todos os países? Não, porque a energia que move este sistema vem exatamente desta luta contínua, entre estados, economias nacionais e capitais privados, pela conquista de posições e de monopólios que são desiguais, por definição. Mesmo assim, alguns estados podem modificar sua posição relativa dentro deste sistema, dependendo do seu território, dos seus recursos e da sua coesão social. E da existência de uma elite política capaz de assumir as grandes pressões sociais e o aumento dos desafios e provocações externas, como sinal de amadurecimento de um país que já está preparado para sustentar uma estratégia de longo prazo, de questionamento do status quo internacional, e de desenvolvimento com mobilidade social generalizada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário