O sociólogo do trabalho Ricardo Antunes estuda sindicalismo e estava no Congresso de Fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983. Hoje, a central tem 3.806 entidades filiadas e, de acordo com os dados mais recentes do Ministério do Trabalho, de 2011, representa 36,7% dos trabalhadores sindicalizados. Em entrevista concedida ao Valor, Antunes analisa as mudanças da CUT ao longo dos últimos 30 anos.
Camilla Veras Mota
Camilla Veras Mota
As mudanças estruturais da Central foram uma adaptação àstransformações econômicas e sociais ou aconteceram de maneira mais proativa?
Como isso afetou o movimento sindical e a CUT?
Como o senhor vê a oposição da Força Sindical?
O dualismo sindical se tornou mais forte no Brasil quando a Força nasceu, nos anos 1990. Na época, era uma central que aceitava o ideário neoliberal, era a favor das privatizações, do desmonte dos direitos dos funcionários públicos. Depois ela mudou, por muitos motivos também – quando percebeu que perderia apoio se não lutasse pelos trabalhadores, inclusive os do funcionalismo público, mas isso é outra história. A CUT, de certo modo, passou a ter como polo de confrontação a Força Sindical. As demais organizações se articularam em outras centrais. Hoje temos uma espécie de pluralismo sindical de cúpula, com as duas mais fortes, mas, com a exceção do Conlutas e do movimento Intersindical, as demais são próximas do governo.
Mesmo com a queda das taxas de sindicalização no Brasil, a CUT ainda é a central mais representativa do país. Por quê?
A dessindicalização ocorreu, com raras exceções, em todos os países que passaram pela onda da reestruturação produtiva e do neoliberalismo, como Inglaterra, França e Itália. Há uma nova morfologia do trabalho: os terceirizados informais (que são entre 8 e 11 milhões dos trabalhadores brasileiros), as mulheres, a precarização. As plantas fabris agora são da "engenharia liofilizada", que elimina substâncias vivas. A CUT se mantém forte porque está fincada em setores importantes. O problema é que ela tem uma política próxima ao que era uma socialdemocracia sindical – negocial, institucionalista – em um período em que não há mais socialdemocracia sindical.
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