segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Parlamento britânico pode votar de novo ataque a Síria


Parlamento britânico pode votar de novo ataque a Síria

O prefeito de Londres, Boris Johnson (à esquerda na foto), o ex-líder dos liberais, Lord Paddy Ashdown, o ex-líder dos conservadores, Michael Howard, e o ex-chanceler Malcolm Rifkind, lideraram uma ofensiva neste final de semana para que o governo volte a convocar o parlamento se aparecerem novas provas sobre a participação síria em um ataque com armas químicas. Por Marcelo Justo, de Londres

Londres – O parlamento britânico votará outra vez sobre a intervenção militar na Síria? Na semana passada a coalizão conservadora-liberal democrata sofreu uma contundente derrota que, conforme admitiu o próprio primeiro ministro David Cameron ante à Câmara dos Comuns, encerrava o debate. “Estou a favor de uma intervenção na Síria, mas o parlamento falou”, disse Cameron. Assunto encerrado? Aparentemente, não.

O prefeito de Londres, Boris Johnson, o ex-líder dos liberais, Lord Paddy Ashdown, o ex-líder dos conservadores, Michael Howard, e o ex-chanceler Malcolm Rifkind, lideraram uma ofensiva neste final de semana para que o governo volte a convocar o parlamento se aparecerem novas provas sobre a participação síria em um ataque com armas químicas.

No domingo, o vice-primeiro ministro, o liberal Nick Clegg e o ministro da Economia, o conservador George Osborne, negaram essa possibilidade com o argumento de que “o parlamento não pode votar duas vezes sobre o mesmo tema”. Mas nesta segunda, o ministro da Defesa Philip Hammond colocou uma primeira condicional sobre o tema. “Só se as circunstâncias mudarem muito significativamente poderia haver uma nova votação”, disse Hammond.

Esta “mudança significativa” de circunstâncias aponta para a aparição de provas conclusivas sobre a responsabilidade do governo sírio no ataque há duas semanas. Ninguém discute se houve ou não o uso de armas químicas no ataque de 21 de agosto em Ghouta que causou a morte de mais de 600 pessoas: o tema é a identidade do executor. As acusações choveram de todos os lados sobre o governo de Assad. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, no domingo, e a França nesta segunda são os últimos capítulos de “provas indiscutíveis” que acabam não sendo tão convincentes assim.

Ao mesmo tempo, testemunhos feitos este ano sobre o uso de armas químicas por parte dos rebeldes reunidos em torno de Jahbhat al-Nusra, uma agrupação vinculada a Al Qaeda, foram deixados de lado ou esquecidos tanto pelos governos como pela maioria dos meios de comunicação. Em maio, a relatora da ONU, Carla Del Ponte assinalou que as evidências envolvendo um ataque com armas químicas em abril apontavam para os grupos rebeldes de Jahbhat al-Nusra. “Durante nossa investigação, recolhemos testemunhos que apontam para o uso de armas químicas por parte da oposição. Não há nenhuma indicação de que o governo sírio tenha sido responsável”, disse Del Ponte.

As declarações de Del Ponte foram desprezadas quando comparadas com a projeção que se dá a qualquer testemunho que aponte contra o governo de Assad. No entanto, antes dos ataques do fim de agosto, os próprios meios de comunicação ocidentais publicavam informações que diziam que grupos vinculados a Al Qaeda poderiam ter acesso a armas químicas.

Em dezembro, o Washington Post revelou a preocupação do governo de Barack Obama uma semana depois que membros da Jahbhat al-Nusra, organização que os EUA definiu como terrorista, participaram da tomada da base militar de Sheik Suleiman, perto de Aleppo, eixo de uma da das grandes batalhas da guerra civil síria. Os rebeldes negaram que houvesse armas químicas, mas um ex-general que passou para suas fileiras em junho, Adnan Silou, disse que os depósitos com armas químicas não estavam bem protegidos. “O Exército Livre Sírio ou os grupos extremistas islâmicos poderiam toma-los sem problemas”, assinalou ao canal de televisão árabe Al Arabiya.

O jornal britânico “Daily Telegraph” mencionou outra fonte de acesso de armas químicas para os rebeldes. A publicação reproduziu as declarações do chefe de inteligência da Polícia Nacional espanhola Enrique Baron que assinalou que os grupos rebeldes líbios vinculados a Al Qaeda, fundamentais na queda de Kadaffi, podiam ter acesso às armas químicas. Muitos destes grupos rebeldes na Líbia se somaram à rebelião contra o governo de Assad aproveitando as porosas fronteiras da Turquia, inimigo jurado do governo sírio.

Em maio, a polícia turca encontrou um cilindro de dois quilos com gás sarín em uma casa de islamistas sírios no sul do país depois que 12 membros da Jahbhat al-Nusra foram presos. Em um artigo publicado neste fim de semana, Dale Gavlak, jornalista da Associated Press e Yahya Abaneh assinalaram que militantes sírios teriam reconhecido que o ataque teria sido causado por um “acidente” com armas químicas fornecidas pela Arábia Saudita.

Nenhum destes testemunhos é verdade revelada, mas nenhum foi investigado ou citado nestes dias febris, de muitos tambores de guerra e escassas provas. Neste clima, nada é impossível, nem que o governo britânico esteja esperando o momento para voltar a convocar o parlamento para fazer-lhe a mesma pergunta que já fez. Uma coisa pode dissuadi-lo. Em uma pesquisa publicada domingo, cerca de 75% dos britânicos responderam que estavam de acordo com a decisão da Câmara dos Comuns na semana passada de rechaçar a intervenção militar na Síria.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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