Para protestar contra a deportação de Leonarda, colegial kosovar deitda pela polícia no dia 9 de outubro durante uma excursão escolar, e de Khatchik Kachatryan, um aluno armênio parisiense de 19 anos, milhares de estudantes se mobilizaram em Paris, na quinta-feira (17), véspera das férias escolares. Segundo a secretaria de Educação e os sindicatos, pelo menos 14 colégios tiveram tumultos e quatro outros --Maurice-Ravel, Hélène-Boucher, Charlemagne e Sophie-German-- ficaram totalmente paralisados durante a manhã.
François Béguin E Maryline Baumard
François Béguin E Maryline Baumard
Estudantes do ensino médio protestam em Paris, na quinta-feira (17), contra a expulsão de alunos estrangeiros após uma adolescente de 15 anos ter sido deportada para Kosovo
Reunidos por convocação sobretudo do movimento estudantil FIDL, da Rede Educação Sem Fronteiras (RESF) e da CGT Educ'action, centenas de jovens se agruparam pela manhã diante da Secretaria de Educação de Paris antes de se dirigirem para a praça da Nação, com a adesão de professores. A passeata, que reuniu 7.000 pessoas segundo o FIDL e 2.500 segundo o Departamento de Polícia de Paris, tomou em seguida a direção de Saint-Augustin, no 8º distrito.
Os manifestantes, alguns deles com dois traços paralelos riscados no rosto em sinal de igualdade, soltavam palavras de ordem contra o ministro Manuel Valls, como "Khatchik na França, Valls na Armênia", "Renuncia, Valls" ou "Libertem Khatchik". Nos cartazes, "Não à educação pela expulsão" ou "Na França, a vallsa dos imigrantes".
"Valls é supostamente de esquerda e deveria defender a igualdade"
"Professores distribuíram panfletos na segunda-feira (17) na saída das aulas e propuseram fazer um abaixo-assinado", conta Astri, 17, aluna do último ano no colégio Dorian, no 11º distrito. "Em seguida, criamos um grupo no Facebook em apoio a Khatchik, que já tinha 500 membros até anteontem". Todos os alunos entrevistados falam em uma mobilização através de redes sociais (Facebook, Twitter) e mensagens de texto.
Para Elisa, 16, aluna do colégio Charlemagne, no 4º distrito, "essa deportação foi a gota d'água". "É inadmissível que alunos sejam deportados", diz Fanny, 16, aluna do colégio Hélène-Boucher, no 20º distrito. "Isso vai contra a Constituição e os direitos humanos." Ao seu lado, Mathilde concorda. "Valls não tem o direito de fazer isso, ele supostamente é de esquerda e deveria defender a igualdade."
"Meu pai concorda, conversei isso com ele"
"A professora de francês nos chamou de filhos de Rabelais porque ela achou nossa atitude muito humanista", diz Neil Chemlal, aluno do segundo ano de Humanas do colégio Paul-Valéry, no 12º distrito. Hoje ele prefere cantar: "Manu, enfia sua política no..."
Muitos estavam somente em sua segunda manifestação, como Léonie Esbron, uma aluna do colégio Hélène-Boucher. "Fui à manifestação do casamento gay e hoje estou aqui", ela comenta. Ao seu lado, Alice, de 16 anos, também mostra um rosto lambuzado de batom. "Era só o que eu tinha para escrever o nome de Khatchik no rosto. Não é o ideal, mas serve."
Para Lucie Zeitoun, do colégio Brassens, é importante ter uma consciência política. "Receber jovens estrangeiros e mantê-los na França enquanto eles estão no colégio é um dos valores de nosso país. Não se deve abrir mão de nada". Elie, Mathieu e Eddy, todos alunos do primeiro ano do colegial, ligaram para seus pais para explicar que eles iriam à manifestação no lugar da aula de física. "Meu pai concordou. Conversei com ele a respeito. Só não posso ser reprovado em física depois", brinca Mathieu.
O dispositivo policial, leve entre a praça da Nação e da Bastilha, foi mais pesado no resto do percurso. Durante a passeata, os policiais usaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes mais agitados. Os manifestantes chegaram no início da tarde à praça Saint-Augustin, antes de se dispersarem em paz.
A Federação dos Conselhos de Pais de Alunos (FCPE) convocou "os pais parisienses" a se juntarem ao movimento, exigindo a regularização das famílias clandestinas e jovens maiores de idade ainda na escola.
A mobilização também se estendeu para fora da capital. Em Mende, em Lozère, havia uma centena de manifestantes, segundo a polícia, unidos pelas palavras de ordem: "Leonarda não vai à aula? Nós também não!". E em Avignon, alunos membros da UNL pretendiam passar de colégio em colégio para distribuir panfletos chamando para uma mobilização. Em Grenoble, o colégio de Eaux Claires também foi fechado no início da manhã.
O 5º aluno maior de idade expulso desde a eleição de Hollande
Enquanto o caso de Leonarda Dibrani era manchete na mídia desde o início da semana, o de Khatchik Kachatryan havia passado despercebido até agora. Esse aluno do colégio Camille-Jenatzy (18º distrito), de 19 anos, foi deportado no sábado para a Armênia, segundo a RESF, onde ele deverá se inscrever no serviço militar no início de novembro.
Em 2011, somente dois jovens maiores de idade frequentando a escola foram deportados, sendo que um deles voltou logo com um visto regular. Khatchik Kachatryan é o quinto aluno maior de idade deportado desde que a esquerda chegou ao poder, segundo a RESF. "Tal mobilização nos comove", diz Dante Bassino, professor de uma escola técnica voltada para tecnologia, secretário-geral da CGT Educ'action Paris e membro da RESF. "Esperamos que o governo anuncie que não haverá mais deportações de alunos e que isso seja incluído na lei."
Tradutor: UOL
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