Modelo capitalista na Itália está esgotado
Dois grandes empresários italianos, Diego Della Valle e Giorgio Armani, pareciam alunos brigando durante o recreio em um pátio de colégio: no domingo (22), o primeiro, dono da Tod's, disse ao segundo: "Eu, com 25 milhões de euros, estou restaurando o Coliseu de Roma. E você, que faz para a Itália?" O estilista respondeu, irritado: "Eu faço mecenato discretamente, sem ter de anunciar aos quatro ventos". É uma polêmica entre dois representantes do "made in Italy", com destaque dado pela imprensa, que tem agitado os desfiles de moda em Milão.Philippe Ridet
O estilista Giorgio Armani, um dos representantes do estilo de vida italiano
Um exemplo típico é Roberto Colaninno, proprietário da montadora de lambretas Piaggio e atual presidente da Alitalia, que foi um dos beneficiários e idealizadores da privatização da Telecom Italia.
"Falta de visão estratégica"
Por não terem uma estratégia industrial clara, em razão de seu desconhecimento do sistema no qual eles investem muitas vezes eles se contentam em recuperar seu investimento com as filiais sadias da empresa, para depois sair quando esta desanda.
"É verdade que os acionistas não tiveram uma visão estratégica, mas para mim isso não é o mais importante", explica Gianluca Spina, professor de gestão na Universidade Politécnica de Milão. "O principal problema dessas empresas está no fato de que os grandes bancos acionistas que garantiam o acesso a um crédito quase ilimitado tiveram de se concentrar, em razão da crise, na salvaguarda de seu patrimônio em detrimento de seus parceiros. Isso aconteceu na Alemanha e na França."
Esse recuo do capitalismo empresarial vem acompanhado de uma crise do capitalismo familiar, o outro pilar do modelo industrial italiano. Marcas prestigiosas, exportadoras, detentoras de um savoir-faire sem igual há gerações, se viram obrigadas a se vender, para grande alegria das gigantes do luxo francês, a LVMH e a Kering (ex-PPR). O mais recente episódio desse surto de aquisições foi a compra de 80% da especialista em caxemira Loro Piana, por 2 bilhões de euros, pela LVMH.
Novamente, o rareamento do crédito foi o culpado. Para se expandirem, essas empresas, cuja característica familiar dos acionistas não permite investimentos pesados, não têm outras escolhas a não ser se entregar a outras maiores.
"Muitas foram fundadas nos anos do boom econômico do pós-guerra," explica Spina. "Elas estão nas mãos da terceira geração de dirigentes. Os filhos e netos nem sempre têm a veia empreendedora dos fundadores."
A compra de grandes marcas italianas por grupos estrangeiros gerou, na primavera, uma ampla introspecção por parte dos capitães da indústria italiana. Cada um seguiu sua fórmula: abertura de capital na Bolsa, procura de novos parceiros, networking de atividades. O verão encerrou tudo. Enquanto isso, Diego Della Valle escreveu um comunicado no qual ele se diz "desolado" com a reação de Giorgio Armani.
Tradutor: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário