sábado, 19 de outubro de 2013

O voto não filtra caráter

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“O voto não filtra caráter”
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“Wanderley Guilherme dos Santos é, há meio século, uma das vozes mais influentes na Ciência Política brasileira. Aos 27 anos de idade, em 1962, lançou um artigo de ampla repercussão, com o seguinte título: Quem vai dar o golpe no Brasil? Dois anos depois, a análise se mostraria dramaticamente realista. O golpe derrubou o presidente João Goulart e mergulharia o país em 21 anos de ditadura. Professor, analista político, integrante do Conselho de Orientação do Ipea e ex-presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Wanderley Guilherme dos Santos fala da situação política do país, dos partidos e do funcionamento da democracia brasileira. Entre outras coisas ele lembra que “A corrupção não está no DNA das pessoas, mas na sociedade. A competição por recursos às vezes extrapola os limites da legalidade”

Rogério Lessa Benemond
Professor e analista, Santos foi presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, autarquia do Ministério da Cultura, entre 2011 e 2012. Conhecido por suas agudas reflexões sobre a cena política brasileira, nesta entrevista ele aponta algumas linhas mestras para uma reforma política que consolide conquistas democráticas das últimas décadas. Entre seus pontos principais deveriam estar, segundo ele, o papel dos partidos políticos, os vícios do financiamento de campanha por parte de empresas privadas e o combate à corrupção.

Desenvolvimento - Quem é a direita e quem é a esquerda brasileira hoje?

Wanderley Guilherme - Não sei, mas o eleitor sabe. Essa é uma questão a ser discutida no agregado. As pessoas mudam de opinião no decorrer da vida, mas o voto do eleitorado é consistente ao longo do tempo. As mudanças na composição do parlamento são gradativas. A distribuição das preferências é quase sempre a mesma. O termo “direita” se tornou praticamente um xingamento, mas sempre há um lado mais cauteloso. Muita gente já foi de esquerda e depois deixou de ser. Ulysses Guimarães [1916-1992 deputado pelo MDB e principal líder parlamentar de oposição à ditadura] inicialmente apoiou o golpe [de 1964]. Teotônio Vilela [1917-1983, senador governista dos tempos da ditadura que se aliou à oposição] também. Então não me preocupo com essa definição. O eleitor sabe definir melhor o que é direita e esquerda.
Desenvolvimento - Como seria uma reforma política para amenizar distorções no sistema democrático?
Wanderley Guilherme - Vários pontos podem ser discutidos. Um exemplo: acabar com a figura do suplente. Ele às vezes é um filho ou o financiador da campanha, que não teve um voto sequer. Outro ponto é discutir o financiamento de campanha e as alianças. O voto não filtra caráter. Além disso, falta encarar o maior problema de todos, que é a constitucionalização de todo o território.

Desenvolvimento - O que quer dizer constitucionalização de todo o território?

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