A Carta Maior conversou com o co-diretor do Center for Economic and Policy Research, Dean Baker, sobre a marcha da economia dos EUA e seu impacto mundial.
Marcelo Justo
Marcelo Justo
CM: Os Estados Unidos cresceram 3,6% no último trimestre e o desemprego baixou. Esses são números de uma economia em estagnação?
Dean Baker
CM: Em 1978, um salário médio (anual) estadunidense equivalia a cerca de US$ 48.000 em valores atuais. Hoje é de US$ 33.000. Se o consumo segue sendo um motor do crescimento dos Estados Unidos nestas décadas foi graças ao crédito. A economia pode crescer sem bolhas?
DB: Não. Seguimos dependendo das bolhas. Quando Obama assumiu falou de promover um crescimento baseado mais na produção industrial do que na especulação financeira e agora mesmo acaba de falar sobre o impacto negativo da desigualdade em nível econômico, mas concretamente não fez muito. Há uma defasagem entre os discursos pronunciados por Obama e a política concreta. A agenda comercial que está impulsionando é a mesma. Em nível financeiro, não mudou praticamente nada. Temos um déficit comercial de 3%. Enquanto isso, estamos vendo um aumento dos preços imobiliários. Não é ainda uma bolha, mas estamos indo por esse caminho.
CM: Falou-se muito de um relaxamento da política de emissão monetária eletrônica, a Quantitative Easing. Este ano, tivemos uma emissão de aproximadamente 80 bilhões de dólares mensais, mas cada vez que se menciona a possibilidade de diminuir isso há pânico nos Estados Unidos e no mundo. Quando pensa que isso vai ocorrer? Que impacto pode ter sobre a economia?
DB: Creio que em algum momento do próximo ano haverá uma redução dessa emissão. É difícil prever o efeito que terá na economia dos Estados Unidos porque ainda há muito tempo acerca do impacto que teve. Pessoalmente creio que é uma política positiva de estímulo, mas tem que estar acompanhada por uma política que evite a formação de bolhas. Hoje, a Reserva Federal tem uma política de acompanhamento das taxas de juro pela qual anuncia com antecipação que tipo de taxa haverá no futuro, às vezes um período de dois anos. O mesmo poderia ser feito com os preços imobiliários para evitar uma bolha. Se as pessoas souberem que haverá intervenção para que os preços não passem de certo ponto, elas especularão menos.
Ao mesmo tempo, creio que o governo deveria olhar para o que fez o Banco Central do Japão que, para sair da estagnação, subiu a taxa de inflação mensal. A Reserva Federal deveria fazer algo similar e elevar as metas inflacionárias para 3 ou 4%. Não creio que a nova presidenta Janet Yellen se atreva a fazer isso a menos que haja uma queda muito abrupta da economia.
CM: A mera possibilidade de um relaxamento da flexibilização monetária afetou o Brasil que acaba de sofrer uma queda de 1,5% no valor de sua moeda, a maior entre 24 países emergentes estudados pela Bloomberg. Qual será o impacto quando efetivamente ocorrer esse relaxamento do qual tanto vem se falando?
DB: É inevitável que estas intervenções da Reserva Federal tenham um impacto em todo o mundo porque são fundamentais para fixar a taxa de juros em nível mundial. Isso segue ocorrendo em nível financeiro apesar das mudanças globais que estão ocorrendo e da crescente importância da China que significa também menor relevância dos Estados Unidos. Esta menor relevância pode ser vista mais claramente com a marcha econômica em geral. A economia vem crescendo a um ritmo baixo de 2% em 2011, 2012 e 2013 e deve ocorrer o mesmo em 2014. Ainda falta muito para voltarmos ao ponto prévio à crise de 2008.
No entanto, isso vai afetar a América Latina muito menos do que em outras épocas. Os EUA são hoje muito menos importantes para a economia mundial que em outras épocas. Se a China seguir com sua mudança de modelo econômico e crescer ao ritmo deste último ano, inclusive um pouco menos, 6 ou 7% digamos, isso permitirá a América Latina ter um bom desempenho mesmo que a economia estadunidense siga debilitada.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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