domingo, 1 de dezembro de 2013

Inspirado por Thatcher, partido inglês cria uma 'nova direita'

Inspirado por Thatcher, partido inglês cria uma 'nova direita'
O primeiro-ministro do Reino Unido David Cameron que é " fraco, brando, um pragmático", segundo Wheeler
Margaret Thatcher está aqui, é claro. Estamos no luxuoso duplex londrino de um antigo conservador 
britânico, em Mayfair. O retrato da Dama-de-Ferro se destaca na parede, empertigada em seu volumoso 
cabelo laqueado. "Olhos de Calígula e boca de Marilyn Monroe", costumava dizer o presidente François 
Mitterrand a seu respeito. Para um verdadeiro "tory", a ex-premiê é mais do que isso. É um ideal, um ícone.

Marion Van Renterghem
O primeiro-ministro do Reino Unido David Cameron que é " fraco, brando, um pragmático", segundo Wheeler
Stuart Wheeler, em sua sala em Mayfair, degusta seu chá com leite e seus biscoitos amanteigados, olhando ternamente para o retrato de "Maggie". Aos 78 anos, o rico empresário faz parte dos genuínos conservadores que sentem saudades dessa mulher linha-dura dedicada a seus valores: liberalismoeconômico, conservadorismo político, tradicionalismo social.
Totalmente impertinente com seus pares do Conselho Europeu, sem dó pelos desassistidos de um Estado reduzido ao mínimo, conhecida por suas bolsadas distribuídas àqueles que a enfrentassem. Comparado com "Maggie", figura tutelar dos "tories" durões, David Cameron parece fraco, brando, um pragmático sem princípios mantido em coleira por sua coalizão com os centristas liberais-democratas. "Moderno e compassivo", como ele se autoproclamou.
Stuart Wheeler decidiu ir além. Por fidelidade aos "valores thatcherianos", ele deixou o Partido Conservador para aderir ao UKIP, pequeno partido pela independência do Reino Unido (United Kingdom Independence Party).
Foi em 2009, quatro anos após a chegada de Cameron à liderança dos conservadores e um ano antes de sua eleição como primeiro-ministro: Wheeler anunciou então sua intenção de votar no UKIP nas eleições europeias. "Cameron nos engambelou", ele diz. "Ele fingiu ser eurocético antes de ser eleito e nos prometeu um referendo sobre a saída da União Europeia que ainda estamos esperando".
O empresário foi expulso do Partido Conservador. Foi uma perda, já que ele havia feito uma doação de 5 milhões de libras esterlinas ao partido. O líder do UKIP Nigel Farage, exímio em persuasão, o convidou para jantar. Sendo ao mesmo tempo deputado da UE e anti-UE, ele se deleita com sua contradição; é um orador vivaz, frequenta os estúdios de TV, bola slogans criativos, é um defensor das elites, populista rebelde e alegre. "Um homem formidável", diz Stuart Wheeler, que agora é o tesoureiro e principal doador do UKIP: de 400 mil a 500 mil libras há quatro anos. "Não sou tão rico quanto era quando doei 5 milhões aos conservadores", ele observa, com modéstia.
Os tabloides adoram Farage e ele usa isso em sua vantagem. É a eles que ele se dirige a partir de Bruxelas, que interessa os ingleses tanto quanto a neblina. E, através deles, a todos os nostálgicos dos "valores thatcherianos". O líder acrescenta sua própria retórica populista, de protesto, anti-elite, anti-sistema. "O UKIP é ainda mais ameaçador para os 'tories' por ser o primeiro partido não tóxico à direita dos conservadores", analisa Peter Kellner, presidente do instituto de pesquisas YouGov.
Ele não tem nenhum antecedente fascista, nenhuma tentação revisionista nem ideologia racista, defende o liberalismo econômico e se distingue dos partidos de extrema direita como o British National Party ou a Frente Nacional francesa, impopulares no Reino Unido, de quem ele teve o cuidado de manter distância. O UKIP, partido ortodoxo da direita populista, cultiva dois temas principais: a imigração dos europeus do Leste e a saída da União Europeia.
É um sucesso popular garantido. Mais do que a União Europeia, a imigração é o tema que funciona. Os dois estão ligados. No dia 1o de janeiro de 2014, os romenos e os búlgaros poderão trabalhar livremente na UE. Depois dos poloneses, acusados de quebrar as regras do mercado de emprego por salários irrisórios, a ameaça dos romenos e dos búlgaros dá um argumento a mais ao UKIP: o Reino Unido deve sair o mais rápido possível da terrível União Europeia estatista, intrusiva, onerosa. Conforme queríamos demonstrar.
O UKIP se tornou o temor inconfesso de David Cameron. Ele adquiriu um poder político incrível, sem parecer: fundado em 1993, esse pequeno partido possui somente 32 mil membros e nenhum representante na Câmara dos Comuns, onde seus treze deputados fazem dele o segundo maior partido britânico, atrás dos conservadores e à frente dos trabalhistas.
Entre os conservadores mais à direita, as estratégias divergem. "Não espero que o UKIP esteja no poder: quero que ele pressione Cameron para que os 'tories' voltem a ser 'tories'", diz Stuart Wheeler. "Não, o UKIP é um incômodo para nós! Estou decepcionado com as concessões de Cameron aos liberais-democratas, mas ele é nosso líder e precisa vencer em 2015!", se revolta David Ruffley, assim como outros deputados "tories".
Em ambos os casos, o sucesso conseguido pelo pequeno partido soberanista e eurófobo obriga David Cameron a adotar parte de sua retórica radical. Se ele propôs em janeiro um referendo sobre a saída da UE, foi por causa do UKIP. Se ele endureceu seu discurso sobre a imigração, também foi por causa do UKIP. De 10% a 12% dos eleitores da UKIP vêm do Partido Conservador.
As eleições europeias de maio de 2014, que prometem ser uma grande catarse populista, serão um teste crítico em Londres. O UKIP está com 20% a 30% das intenções de votos. "Se elas fossem realizadas hoje, o UKIP seria o maior partido inglês no Parlamento", afirma Kellner.
David Cameron estará então em estado de pânico em relação ao Trabalhista de Ed Miliband e refém da direita de seu partido para o pleito que virá depois: as eleições gerais britânicas de maio de 2015. Para o UKIP, que hoje tem 12% das intenções de voto, basta obter 10% para que Cameron perca para Miliband. Nigel Farage exulta: o UKIP já tem cacife para decidir eleições.
Tradutor: Lana Lim

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