20/03/2015 12:02
Semiárido brasileiro vive uma nova realidade nos últimos 12 anos depois de séculos de histórias de retirantes que deixaram suas casas e suas vidas para saciar a sede e a fome
Brasília, 20 – “E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos.” Assim acaba o clássico da literatura brasileira Vidas Secas, de Graciliano Ramos, que retratou a luta dos retirantes do Semiárido pelo acesso à água e pela sobrevivência. Realidade essa que durou até pouco tempo atrás, há pouco mais de 12 anos, quando o governo federal começou a desenvolver o Programa Cisternas.
Desde então, as cisternas, solução simples e de baixo custo, já mudaram a vida de mais de 4 milhões de sertanejos. Elas garantem água de qualidade para uma família de cinco pessoas em um período de seca de até oito meses. “Quando dava seca, o pessoal vinha para quebrar o comércio, ficava todo mundo aflito”, lembra o comerciante de Igaracy (PB), Whellington Lima da Costa, 45 anos. A seca atual durou mais de dois anos e foi uma das piores desde 1932. “Não tivemos problema”, destaca, ao apontar algo que muitos nas cidades da região relatam. Não há mais saques.
No Dia Mundial da Água, comemorado neste domingo (22), a população do Semiárido tem muito a comemorar. O acesso à água possibilitou melhoria da qualidade de vida e da saúde das famílias. As maiores beneficiadas são mulheres e crianças, sobre quem recaía a tarefa de ter que caminhar longas distâncias e perder várias horas do dia para buscar água. Antes das cisternas, cada família perdia, em média, até seis horas por dia para ir buscar água em açudes – tempo que hoje pode ser dedicado a outras tarefas e para a melhoria da convivência familiar.
Mais de 1,1 milhão de famílias deixaram de recolher água com a lata d’água na cabeça, por receberem as unidades de captação da água da chuva. Ao todo, o Semiárido ganhou uma capacidade de armazenamento de 17,8 bilhões de litros de água. “Os investimentos contínuos ao longo dos anos, somados a uma parceria forte entre o governo federal, estados, municípios e sociedade civil, tem possibilitado ao Semiárido brasileiro conviver com os efeitos da seca, e não mais combatê-los, como era a cultura no passado”, afirma o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Arnoldo de Campos.
A construção das cisternas ainda gera renda nos municípios, promovendo o desenvolvimento local. Já foram investidos mais de R$ 3 bilhões na compra de insumos e na capacitação e pagamento de mão de obra. Toda a comunidade é mobilizada para atuar no projeto. “Este é um aspecto central do modelo de tecnologia social apoiado pelo ministério, gerando um sentimento de conquista e apropriação que contribui com o processo de gestão da água e do equipamento instalado”, explica o coordenador-geral de Acesso à Água do MDS, Igor Arsky.
Desde 2003, foram capacitados mais de 22 mil pedreiros por meio do Programa Cisternas. Além disso, todas as famílias beneficiadas participam de cursos de formação sobre a gestão e o tratamento da água armazenada. Iranilda Catarina da Silva, 26 anos, mora no quilombo Acauã, próximo ao município de Poço Branco (RN). Em 2006, recebeu a cisterna de 16 mil litros para armazenar água da chuva. Oito anos depois, Iranilda e mais quatro mulheres pegaram as enxadas, colocaram a mão na massa e aprenderam uma nova profissão que exercem até hoje: cisterneiras.
“O reservatório calçadão da minha casa fui eu quem construiu”, ressalta a quilombola que já fez mais de 10 unidades na comunidade. “No início, algumas pessoas diziam que não queriam uma cisterna construída por mulher porque ia vazar água. Não ocorreu isso em nenhuma que fizemos e agora todos querem uma cisterna.”
Por cada reservatório construído – com capacidade de 52 mil litros –, Iranilda ganha, em média, R$ 600 que utiliza para a alimentação, para comprar roupas e material escolar para os três filhos. Para as próximas semanas, a cisterneira está com a agenda cheia. Ela vai construir mais cinco cisternas no quilombo Acauã. Reforça que não aceita mais o preconceito em relação às mulheres. “As mulheres não são tão frágeis assim como o povo pensa”, afirma. “A água tem gerado vida e renda para a nossa comunidade.”
Novos tempos – A captação da água da chuva também tem ajudado o agricultor familiar a voltar a produzir alimentos e criar animais. Mais de 115 mil agricultores do Semiárido já receberam reservatórios de água para plantar e criar animais. Cerca de 94% das unidades foram entregues nos últimos quatro anos, o que abriu novas oportunidades para famílias que não tinham como produzir devido à estiagem.
“Tenho água o ano todo. A chuva aqui é só uma vez por ano e aproveitamos para acumular água”, conta o agricultor familiar José Barbosa Filho, 46 anos, da comunidade do Salitre, em Juazeiro (BA). Ele e a família – esposa e dois filhos – têm dois reservatórios instalados no sítio – uma cisterna de água para consumo próprio e outra para armazenar água para a produção de alimentos.
Ele lembra que, antes das cisternas, a região sempre foi castigada pela seca. “Depois que chegaram as cisternas, não quero mais sair daqui. Este é o lugar onde sou feliz”, garante José, que colocou em prática algumas técnicas para o aproveitamento correto da água em todo o sítio. A água armazenada na cisterna de produção, por exemplo, é utilizada em um sistema de gotejamento que racionaliza o uso da água e ajuda o agricultor familiar na produção de 11 tipos de alimentos, cultivados com métodos agroecológicos. José diz ainda que reaproveita até a água que cai da pia da cozinha para regar as plantas do quintal.
Em todo lugar – A convivência com a estiagem também tem lugar nos bancos escolares, onde milhares de crianças e jovens estão diariamente e a água é um bem essencial. Parceria do MDS com a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) vai construir 5 mil cisternas para captação de água da chuva em escolas públicas até 2016. O repasse do ministério para a ação é de R$ 69 milhões.
A cisterna escolar é construída nos mesmos moldes das cisternas de água para consumo familiar. Feitas com placas de cimento, a cisterna escolar tem capacidade maior de armazenagem (52 mil litros) e pode garantir o acesso à água por oito meses (contando 20 dias de aula por mês). “Elas ampliam o acesso à água no ambiente escolar, servindo para consumo e preparo dos alimentos servidos nas escolas. Os reservatórios evitam a contaminação por verminoses e doenças, contribuindo para que as crianças entendam como conviver com a seca. A água é um direito delas”, destaca o secretário nacional Arnoldo de Campos.
A ação também capacita os professores para a gestão da água captada e armazenada, com orientação sobre a finalidade da água coletada, a importância da educação alimentar e nutricional e temas de convivência com a estiagem para serem desenvolvidos com os estudantes. O valor repassado pelo MDS inclui ainda a implantação de bomba elétrica e a compra de filtros de barro para utilização e tratamento da água coletada.
E o ministério ainda está fazendo parcerias com os governos estaduais para que eles reforcem esta iniciativa com recursos próprios. O governo da Bahia já anunciou, no começo deste mês, que vai garantir que as cisternas cheguem a todas as escolas rurais. O mesmo será realizado pelo governo de Pernambuco.
Informações sobre os programas do MDS:
0800-707-2003
mdspravoce.mds.gov.br
Informações para a imprensa:
Ascom/MDS
(61) 2030-1021
www.mds.gov.br/saladeimprensa
Desde então, as cisternas, solução simples e de baixo custo, já mudaram a vida de mais de 4 milhões de sertanejos. Elas garantem água de qualidade para uma família de cinco pessoas em um período de seca de até oito meses. “Quando dava seca, o pessoal vinha para quebrar o comércio, ficava todo mundo aflito”, lembra o comerciante de Igaracy (PB), Whellington Lima da Costa, 45 anos. A seca atual durou mais de dois anos e foi uma das piores desde 1932. “Não tivemos problema”, destaca, ao apontar algo que muitos nas cidades da região relatam. Não há mais saques.
No Dia Mundial da Água, comemorado neste domingo (22), a população do Semiárido tem muito a comemorar. O acesso à água possibilitou melhoria da qualidade de vida e da saúde das famílias. As maiores beneficiadas são mulheres e crianças, sobre quem recaía a tarefa de ter que caminhar longas distâncias e perder várias horas do dia para buscar água. Antes das cisternas, cada família perdia, em média, até seis horas por dia para ir buscar água em açudes – tempo que hoje pode ser dedicado a outras tarefas e para a melhoria da convivência familiar.
Mais de 1,1 milhão de famílias deixaram de recolher água com a lata d’água na cabeça, por receberem as unidades de captação da água da chuva. Ao todo, o Semiárido ganhou uma capacidade de armazenamento de 17,8 bilhões de litros de água. “Os investimentos contínuos ao longo dos anos, somados a uma parceria forte entre o governo federal, estados, municípios e sociedade civil, tem possibilitado ao Semiárido brasileiro conviver com os efeitos da seca, e não mais combatê-los, como era a cultura no passado”, afirma o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Arnoldo de Campos.
A construção das cisternas ainda gera renda nos municípios, promovendo o desenvolvimento local. Já foram investidos mais de R$ 3 bilhões na compra de insumos e na capacitação e pagamento de mão de obra. Toda a comunidade é mobilizada para atuar no projeto. “Este é um aspecto central do modelo de tecnologia social apoiado pelo ministério, gerando um sentimento de conquista e apropriação que contribui com o processo de gestão da água e do equipamento instalado”, explica o coordenador-geral de Acesso à Água do MDS, Igor Arsky.
Desde 2003, foram capacitados mais de 22 mil pedreiros por meio do Programa Cisternas. Além disso, todas as famílias beneficiadas participam de cursos de formação sobre a gestão e o tratamento da água armazenada. Iranilda Catarina da Silva, 26 anos, mora no quilombo Acauã, próximo ao município de Poço Branco (RN). Em 2006, recebeu a cisterna de 16 mil litros para armazenar água da chuva. Oito anos depois, Iranilda e mais quatro mulheres pegaram as enxadas, colocaram a mão na massa e aprenderam uma nova profissão que exercem até hoje: cisterneiras.
“O reservatório calçadão da minha casa fui eu quem construiu”, ressalta a quilombola que já fez mais de 10 unidades na comunidade. “No início, algumas pessoas diziam que não queriam uma cisterna construída por mulher porque ia vazar água. Não ocorreu isso em nenhuma que fizemos e agora todos querem uma cisterna.”
Por cada reservatório construído – com capacidade de 52 mil litros –, Iranilda ganha, em média, R$ 600 que utiliza para a alimentação, para comprar roupas e material escolar para os três filhos. Para as próximas semanas, a cisterneira está com a agenda cheia. Ela vai construir mais cinco cisternas no quilombo Acauã. Reforça que não aceita mais o preconceito em relação às mulheres. “As mulheres não são tão frágeis assim como o povo pensa”, afirma. “A água tem gerado vida e renda para a nossa comunidade.”
Novos tempos – A captação da água da chuva também tem ajudado o agricultor familiar a voltar a produzir alimentos e criar animais. Mais de 115 mil agricultores do Semiárido já receberam reservatórios de água para plantar e criar animais. Cerca de 94% das unidades foram entregues nos últimos quatro anos, o que abriu novas oportunidades para famílias que não tinham como produzir devido à estiagem.
“Tenho água o ano todo. A chuva aqui é só uma vez por ano e aproveitamos para acumular água”, conta o agricultor familiar José Barbosa Filho, 46 anos, da comunidade do Salitre, em Juazeiro (BA). Ele e a família – esposa e dois filhos – têm dois reservatórios instalados no sítio – uma cisterna de água para consumo próprio e outra para armazenar água para a produção de alimentos.
Ele lembra que, antes das cisternas, a região sempre foi castigada pela seca. “Depois que chegaram as cisternas, não quero mais sair daqui. Este é o lugar onde sou feliz”, garante José, que colocou em prática algumas técnicas para o aproveitamento correto da água em todo o sítio. A água armazenada na cisterna de produção, por exemplo, é utilizada em um sistema de gotejamento que racionaliza o uso da água e ajuda o agricultor familiar na produção de 11 tipos de alimentos, cultivados com métodos agroecológicos. José diz ainda que reaproveita até a água que cai da pia da cozinha para regar as plantas do quintal.
Em todo lugar – A convivência com a estiagem também tem lugar nos bancos escolares, onde milhares de crianças e jovens estão diariamente e a água é um bem essencial. Parceria do MDS com a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) vai construir 5 mil cisternas para captação de água da chuva em escolas públicas até 2016. O repasse do ministério para a ação é de R$ 69 milhões.
A cisterna escolar é construída nos mesmos moldes das cisternas de água para consumo familiar. Feitas com placas de cimento, a cisterna escolar tem capacidade maior de armazenagem (52 mil litros) e pode garantir o acesso à água por oito meses (contando 20 dias de aula por mês). “Elas ampliam o acesso à água no ambiente escolar, servindo para consumo e preparo dos alimentos servidos nas escolas. Os reservatórios evitam a contaminação por verminoses e doenças, contribuindo para que as crianças entendam como conviver com a seca. A água é um direito delas”, destaca o secretário nacional Arnoldo de Campos.
A ação também capacita os professores para a gestão da água captada e armazenada, com orientação sobre a finalidade da água coletada, a importância da educação alimentar e nutricional e temas de convivência com a estiagem para serem desenvolvidos com os estudantes. O valor repassado pelo MDS inclui ainda a implantação de bomba elétrica e a compra de filtros de barro para utilização e tratamento da água coletada.
E o ministério ainda está fazendo parcerias com os governos estaduais para que eles reforcem esta iniciativa com recursos próprios. O governo da Bahia já anunciou, no começo deste mês, que vai garantir que as cisternas cheguem a todas as escolas rurais. O mesmo será realizado pelo governo de Pernambuco.
Informações sobre os programas do MDS:
0800-707-2003
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