terça-feira, 2 de junho de 2015

Como fica a Globo se Ricardo Teixeira falar numa delação premiada? Por Paulo Nogueira



Postado em 02 jun 2015
Um homem com muitas histórias
Um homem com muitas histórias
Sem Blatter, que enfim se rendeu à realidade e renunciou, a Fifa pode enfim passar por um processo de desintoxicação.
E a CBF?
O equivalente a Blatter, no futebol brasileiro, é a Globo.
Enquanto a Globo estiver metida no futebol brasileiro, nada vai acontecer.
O espírito da Globo é o que todos conhecemos: predador. Na relação entre a Globo e o futebol brasileiro, a Globo ganhou extraordinariamente e o futebol brasileiro se reduziu à miséria.
Alguma coisa, obviamente, não funcionou na sociedade. Quer dizer, funcionou apenas para a Globo.
A Globo tem que sair do futebol brasileiro, como Blatter saiu da Fifa.
Mas vai sair?
É difícil, dado o poder na Globo. Mas também era difícil imaginar Blatter fora da Fifa, mesmo depois da eclosão do escândalo.
Há um caminho que pode levar a uma faxina real na CBF, e ele passa por Ricardo Teixeira.
Se a PF e a justiça realmente apertarem Teixeira, os desdobramentos podem ser interessantes.
Imagine que seja oferecida a ele a delação premiada.
Que histórias ele não tem a contar dos anos, muitos anos, de parceria entre a CBF, a Globo – e a Fifa.
A Globo, nos anos de influência de Teixeira (e do antigo sogro Havelange) na Fifa, sistematicamente ganhou os direitos de transmitir a Copa para o Brasil.
Bizarrices ocorreram.
A Globo levou as Copas de 2010 e 2014 por 220 milhões de dólares, pagos à Fifa, 100 milhões pela primeira e 120 pela segunda. A Record foi preterida com uma oferta de 360 milhões de dólares.
Para a Copa de 2014, a Globo colocou no mercado oito cotas de patrocínio, cada uma delas por 180 milhões de reais.
Como o dólar estava em dois reais, isso significava 90 milhões de dólares por cota.
Isso dá um total de 720 milhões de dólares. A Globo não é de dar descontos, e então o faturamento deve ter sido aquele mesmo.
Qual o gasto para cobrir? O maior mesmo é a compra dos direitos. Sequer imagens a Globo teve que gerar, pelo contrato.
Suponhamos, com boa vontade, que a Globo tenha gastado 50 milhões de dólares para armar a cobertura da Copa.
Você gasta 120 mais 50. O total é 170. E fatura 720.
Existe negócio melhor?
É assim que os Marinhos se tornaram a família mais rica do Brasil.
Ricardo Teixeira e João Havelange tinham força, no passado, para influenciar nas decisões da Fifa.
O que a Globo não teria feito para manter a Copa em casa?
Fora o dinheiro, há um ganho imenso de audiência e de prestígio na transmissão de uma Copa, coisas que se transformam em mais negócios lucrativos.
O difícil, no Brasil como conhecemos, é acreditar que Ricardo Teixeira vai ser cobrado pela polícia e pela justiça como Marin será nos Estados Unidos.
Mas se for, e se ele falar numa delação premiada, a CBF vai ser desinfetada, como a Fifa pós-Blatter.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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