PRIMEIRA
MENSAGEM DE JERONIMO MONTEIRO AO PARLAMENTO
- EM 24
SETEMBRO DE 1908
É forçoso reconhecer que a nossa situação econômica
não é lisongeira e exige os nossos melhores cuidados, para prevenir e evitar
abalos mais fortes do que as experimentados até o presente.
O nosso Estado, possui, é certo, grandes e fartos
recursos naturais, capaz de oferecer seguro lastro a mais apreciável expansão
econômica.
Tem como único centro fomentador de sua riqueza, a
agricultura, que infelizmente se acha, desde muito, entregue ao cultivo do
café, com desprezo, quase absoluto, da exploração de outras indústrias.
A estatística de exportação nos atesta essa verdade,
demonstrando que o grande crescimento da nossa produção é devido, somente, ao
café, com supressão quase total de todos os outros gêneros, que aliás, são de
fácil cultura entre nós.
No último exercício enquanto o imposto sobre o café
rendeu 1.997:953$352, o imposto sobre a madeira produziu 95:846$370 o imposto
sobre os demais gêneros 9:252$667.
No primeiro semestre do corrente ano a desproporção, apesar
de menos, ainda continua, pois, o imposto sobre o café produziu 867:279$485 e
sobre os demais gêneros exportados 202:872$098.
A desvalorização da principal produção do nosso
Estado, restringindo grandemente as rendas dos agricultores, veio reduzir muito
a nossa receita geral, diminuir o movimento do comercial, impossibilitar o
fomento das indústrias, anular as energias dos lavradores, que descrêem da eficácia dos seus esforços e do valor de
sua iniciativa.
Daí o abandono que vai tendo a lavoura por parte dos
agricultores, que procuram de preferência outras colocações de remuneração
certa, ainda que modesta.
Esse fenômeno prova, suficientemente, quanto se tem
escravizado à sorte de um só produto a nossa vida econômica, que se expande ou
se retrai, conforme a maior ou menor valorização do mesmo.
Os dias de bem estar, no período de 1892 a 19898,
quando tantos projetos grandiosos foram concebidos, iniciados e executados,
tiveram o seu apoio no elevado preço desse produto, cujo o desvalor de 1898 até
hoje, tem motivado todos os incidentes desastrosos nas nossas finanças.
Não podemos, entretanto, permanecer nessa difícil e
embaraçosa posição, precisamos firmar pontos compensadores, criando e
fomentando outras fontes de produção, além da cultura cafeeira, afim de
libertar-nos da atual situação, que nos expõe a sérios riscos.
Sem abandonarmos a lavoura de café, convém animarmos,
por todos os modos, as outras culturas e as indústrias que no nosso território
possam prosperar.
Com critério e boa orientação, será possível despertar
a iniciativa particular em proveito do nosso desenvolvimento econômico.
A difusão do ensino agrícola, do manejo das máquinas
agrárias e a demonstração, de modo positivo e ao alcance de todos, da
superioridade desses aparelhos e dos processos modernos e científicos sobre os
instrumentos antigos e radicados nos nossos hábitos pela rotina, fornecerão
elementos indispensáveis e utilíssimos a consecução do nosso objetivo.
A fundação de escolas práticas agrícolas e de campos
de experiência para se introduzirem no Estado os processos de cultivar a terra,
dela extraindo o máximo resultado com um mínim dispêndio, apresenta-se como
medida de real eficácia na solução de tão importante problema.
A redução dos fretes e dos impostos, criação de
prêmios e a facilitação de mercados para as produções – são outras tantas
providencias que se impõe e que não podem ser desprezadas, nem mesmo adiadas.
Se é dever do Estado cercar de solicita
atenção a boa marcha dos diversos serviços públicos, não deixa, é certo, de lhe
constituir também obrigação primacial a preocupação, o cuidado de aumentar as
suas rendas, de modo a proporcionar o custeio fácil das suas despesas.
Existem culturas altamente remuneradoras, para as
quais o nosso solo tem fertilidade prodigiosa e, nos mercados, magnífica
colocação, necessitando apenas de um movimento animador para que se iniciem e
se desenvolvam rapidamente.
O algodão, o cacau, o linho, a linhaça,
o açúcar, a aguardente, o álcool, o chá da Índia e outros produtos, não fazendo
menção especial dos cereais em geral, tem, entre nós, um vasto campo em que se
podem desenvolver, com lucros valiosos para os particulares e com proveito
apreciável para o fisco.
As estatísticas, entretanto, não acusam
movimento de produção desses gêneros, sendo de lamentar-se que mesmo para o
nosso consumo tenhamos de recorrer à importação de outros Estados.
A instituição de prêmios, como está
iniciada pela lei 489, de 22 de novembro de 1907, e já em parte executada pela
concessão feita, em julho deste ano, pelo atual Governo, aos Srs. Vivacqua
& Filhos, de premio de 2:000$000, a que se mostraram com direito e, como
deixei dito, o barateamento dos fretes, a facilidade dos transportes, a redução
dos impostos e a facilitação dos mercado são indispensáveis medidas, que vos
peço – para servirem de incentivo e de estímulo ao desenvolvimento dessas
culturas.
Do mesmo modo não vos deveis esquecer de
rodear das mesmas vantagens as pequenas industrias, que tanto poderão concorrer
para o desenvolvimento econômico do Estado.
Será, talvez, de grande vantagem, a
desapropriação, em condições favoráveis ao Estado, dos terrenos circunvizinhos
da nossa Capital, os quais divididos em lotes, deverão ser distribuídos
gratuitamente, entre pequenos lavradores, com a obrigação de os cultivar.
É um meio que me parece seguro, de
aproveitar a grande área que circunda Vitória, tirá-la do abandono em que jaz e
aí desenvolver a pequena lavoura.
Será essa a mais razoável solução do
problema de se proporcionar ocupação útil e proveitosa à grande parte da
população desfavorecida pela fortuna e entregue a toda sorte de tristes
privações.
Tais concessões deverão ser acompanhadas
de fornecimento de ferramentas e máquinas agrícolas, com a condição de se
iniciarem as culturas dentro do prazo prefixado, sob constante e imediata
fiscalização e sob pena de caducidade da concessão.
Este conjunto de medidas, levado a
efeito com inteligência e critério, estou certo, modificará, profundamente as
nossas condições atuais, abrirá, ao Estado, horizontes novos sob o ponto de
vista econômico, trará dias mais felizes para a nossa terra e proporcionará
atrativos e despertará confiança na vida do trabalho nos campos e nas
industrias, desfazendo a grande tendência, que, infelizmente, se observa, para
os empregos públicos.
A administração atual nada pode fazer
neste pertinente, porque as receitas muito escassas do Estado, não deram ainda
a precisa margem para a consecução desse desideratum.
Entretanto, com o regime de economia
adotado, alimento esperança de poder, em breve, abordar esses serviços e o
farei com mais amplitude e segurança, obedecendo a direção e as autorizações
que me forem dadas.
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