Embaixada do Equador em Londres foi alvo de espionagem
Sede diplomática do Equador no Reino Unido estava sendo espionada. Um microfone foi descoberto no registro de um aquecedor elétrico no escritório da embaixadora Ana Alban há duas semanas, durante a visita do chanceler equatoriano a Londres em sua tentativa de encontrar uma saída diplomática para o caso Assange. Empresa de segurança suspeita nega ter plantado os microfones na embaixada. Por Marcelo Justo.
Marcelo Justo
Londres - Às peripécias do avião presidencial de Evo Morales e ao incerto destino do ex-agente da CIA, Edward Snowden, somou-se como uma bola de neve a denúncia do Equador de espionagem em sua embaixada em Londres, onde se encontra há mais de um ano o fundador do Wikileaks, Julian Assange. A denúncia feita pelo chanceler Ricardo Patiño, em Quito, apontava para a empresa de segurança “The Surveillance Group”, que nesta quinta-feira negou por completo ter plantado os microfones na embaixada.
“The Surveillance Group” não está e nunca esteve envolvida em atividades desta natureza. Não recebemos nenhuma notificação oficial do Equador a respeito. Ficamos sabendo de tudo pela imprensa”, disse em um comunicado o presidente executivo da empresa, Timothy Young.
Em uma novela de espionagem este repentino vaso comunicante entre Edward Snowden, atualmente em Moscou, e esse outro vazador de documentos secretos estadunidenses, Julian Assange, em Londres, pareceria ser um excesso de coincidências. Na realidade, está se dando com incrível naturalidade. O microfone foi descoberto no registro de um aquecedor elétrico no escritório da embaixadora Ana Alban há duas semanas, durante a visita do chanceler equatoriano a Londres em sua tentativa de encontrar uma saída diplomática para o caso Assange.
O chanceler Patiño explicou que a descoberta não foi tornada público logo para que não se confundisse com o motivo da visita e para recolher mais informação sobre o acontecido. A visita terminou com um acordo com seu homólogo britânico William Hague para a formação de uma comissão de juristas que tentará resolver o impasse. Quito concedeu asilo ao fundador do Wikileaks no ano passado, mas Londres se nega a conceder-lhe o salvo-conduto que precisa para ir ao aeroporto sem ser preso, já que a justiça britânica acatou o requerimento de extradição da Suécia motivado por supostos delitos sexuais cometidos por Assange.
A este quebra-cabeças diplomático soma-se agora este “microfonegate”. Em sua página na internet, “The Surveillance Group” se descreve como especialista em tarefas de vigilância para ajudar as forças da ordem e as autoridades locais com problemas envolvendo comportamento anti-social, drogas, prostituição ou violência discriminatória, tecnologia digital e casos de fraude. Mais além das negativas da empresa, a chave é quem é o cliente ou beneficiário final de seus serviços. Dado o status diplomático da embaixada, o dedo acusador aponta diretamente para o governo britânico ou alguma de suas unidades.
As duas agências de inteligência – o MI5, de espionagem interna, e o MI6, de espionagem externa – necessitam de autorização de seus superiores políticos, neste caso o Ministério do Interior, para colocar um microfone em uma embaixada. Diplomático, o chanceler Patiño indicou que poderia se tratar de um trabalho feito sem autorização por algum dos serviços secretos e solicitou ajuda ao governo britânico para esclarecer o caso.
Na quarta-feira, o secretário de Segurança, James Brokenshire, minimizou a preocupação sobre o grau de vigilância eletrônica no Reino Unido, preocupação esta que disparou vertiginosamente com as revelações feitas pelo “The Guardian” e pelo “Washington Post”, no início de junho, sobre Edward Snowden e o Programa Prisma da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos para a espionagem de milhões de mensagens eletrônicas ou chamadas telefônicas.
“Qualquer um que ler os jornais poderá pensar que a pior ameaça a nossa liberdade é criada por aqueles que trabalham dia e noite para proteger o povo de ameaças à segurança. Eu sei que isso não é assim e a maioria das pessoas também sabe”, disse Brokenshire.
A definição dos inimigos de “nossa liberdade” corre por conta do estado e de seus órgãos de segurança. Tomado ao pé da letra e levado até suas últimas consequências, em caso de que se prove uma participação governamental no “microfonegate”, a embaixada do Equador seria um perigo para a “liberdade” dos britânicos.
O Equador não está sozinho nessa. Nas últimas duas semanas, graças ao “The Guardian”, soube-se que a família de Stephen Lawrence, um adolescente negro assassinado por racistas nos anos 90, estava sob vigilância policial. A família havia questionado a investigação feita pela Scotland Yard que terminou com um veredito de “racismo institucional” de uma comissão independente. Em outras palavras, havia se convertido em um perigo para “a liberdade dos britânicos”.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
“The Surveillance Group” não está e nunca esteve envolvida em atividades desta natureza. Não recebemos nenhuma notificação oficial do Equador a respeito. Ficamos sabendo de tudo pela imprensa”, disse em um comunicado o presidente executivo da empresa, Timothy Young.
Em uma novela de espionagem este repentino vaso comunicante entre Edward Snowden, atualmente em Moscou, e esse outro vazador de documentos secretos estadunidenses, Julian Assange, em Londres, pareceria ser um excesso de coincidências. Na realidade, está se dando com incrível naturalidade. O microfone foi descoberto no registro de um aquecedor elétrico no escritório da embaixadora Ana Alban há duas semanas, durante a visita do chanceler equatoriano a Londres em sua tentativa de encontrar uma saída diplomática para o caso Assange.
O chanceler Patiño explicou que a descoberta não foi tornada público logo para que não se confundisse com o motivo da visita e para recolher mais informação sobre o acontecido. A visita terminou com um acordo com seu homólogo britânico William Hague para a formação de uma comissão de juristas que tentará resolver o impasse. Quito concedeu asilo ao fundador do Wikileaks no ano passado, mas Londres se nega a conceder-lhe o salvo-conduto que precisa para ir ao aeroporto sem ser preso, já que a justiça britânica acatou o requerimento de extradição da Suécia motivado por supostos delitos sexuais cometidos por Assange.
A este quebra-cabeças diplomático soma-se agora este “microfonegate”. Em sua página na internet, “The Surveillance Group” se descreve como especialista em tarefas de vigilância para ajudar as forças da ordem e as autoridades locais com problemas envolvendo comportamento anti-social, drogas, prostituição ou violência discriminatória, tecnologia digital e casos de fraude. Mais além das negativas da empresa, a chave é quem é o cliente ou beneficiário final de seus serviços. Dado o status diplomático da embaixada, o dedo acusador aponta diretamente para o governo britânico ou alguma de suas unidades.
As duas agências de inteligência – o MI5, de espionagem interna, e o MI6, de espionagem externa – necessitam de autorização de seus superiores políticos, neste caso o Ministério do Interior, para colocar um microfone em uma embaixada. Diplomático, o chanceler Patiño indicou que poderia se tratar de um trabalho feito sem autorização por algum dos serviços secretos e solicitou ajuda ao governo britânico para esclarecer o caso.
Na quarta-feira, o secretário de Segurança, James Brokenshire, minimizou a preocupação sobre o grau de vigilância eletrônica no Reino Unido, preocupação esta que disparou vertiginosamente com as revelações feitas pelo “The Guardian” e pelo “Washington Post”, no início de junho, sobre Edward Snowden e o Programa Prisma da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos para a espionagem de milhões de mensagens eletrônicas ou chamadas telefônicas.
“Qualquer um que ler os jornais poderá pensar que a pior ameaça a nossa liberdade é criada por aqueles que trabalham dia e noite para proteger o povo de ameaças à segurança. Eu sei que isso não é assim e a maioria das pessoas também sabe”, disse Brokenshire.
A definição dos inimigos de “nossa liberdade” corre por conta do estado e de seus órgãos de segurança. Tomado ao pé da letra e levado até suas últimas consequências, em caso de que se prove uma participação governamental no “microfonegate”, a embaixada do Equador seria um perigo para a “liberdade” dos britânicos.
O Equador não está sozinho nessa. Nas últimas duas semanas, graças ao “The Guardian”, soube-se que a família de Stephen Lawrence, um adolescente negro assassinado por racistas nos anos 90, estava sob vigilância policial. A família havia questionado a investigação feita pela Scotland Yard que terminou com um veredito de “racismo institucional” de uma comissão independente. Em outras palavras, havia se convertido em um perigo para “a liberdade dos britânicos”.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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