Quando se vê o atual descalabro da violência criminosa e policial em todo o país, junto com a corrupção e perda de autoridade do Estado, valeria uma atenção ao que falou o escritor e jornalista britânico Ioan Grillo, na última Feira Literária de Paraty – Flip deste ano. “Jornalistas e acadêmicos”, disse, ”não sabem tratar do assunto (crime organizado). Expressões como esta limitam o problema à esfera policial, mas hoje em dia, na América Latina, isto é um tema que move a política, financia campanhas, está metido nos grandes negócios e na sociedade.”
Grillo continuou no que se enquadraria perfeitamente às grandes gangues brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital – PCC, de São Paulo. “Pode parecer caricato descrever algo como os Cavaleiros Templários (cartel do tráfico mexicano que evoca símbolos da Idade Média e tem estrutura muito rígida). Mas pela destruição que causam e pelo poder que têm, precisamos levá-las a sério, entender como funciona a cabeça dessas pessoas, qual o papel dessa ideologia que seguem e o alcance dos seus negócios.”
O jornalista vive na Cidade do México há 15 anos. Correspondente da revista Time, escreveu El Narco – Inside Mexican Criminal Insurging. E prepara um segundo livro em que compara o Comando Vermelho, do Brasil – Rio de Janeiro, com outras gangues poderosas, como a Shower Posse, da Jamaica, a Mara Salvatrucha, de El Salvador e os Cavaleiros Templários mexicanos. Segundo Ioan Grillo, a imprensa internacional vive pautada pelos países europeus e os Estados Unidos, que se preocupam tão só com sua principal ameaça do momento – o Estado Islâmico – EI. “Na América Latina”, disse, “temos o dever de prestar mais atenção às redes de narcotráfico que estão aqui.”
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Zulcy Borges é jornalista
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