domingo, 17 de junho de 2012

AGROTURISMO 1-5



AGROTURISMO
OS PRIMEIROS PASSOS
DE UMA COMUNIDADE RURAL
DA MONTANHA CAPIXABA.
VENDA NOVA DO IMIGRANTE.
LEANDRO CARNIELLI

Apresentação -
Os primeiros passos -
O projeto -
Organização e êxito -
A família -
Associativismo -
Atrativos e potencialidades -
Perfil do turista -
Como receber o turista e o que ele - quer saber
A fazenda e a família -
O produto a ser comercializado -
A imprensa -
Opinião -
Uma breve análise -
Conclusão

APRESENTAÇÃO
Agroturismo me faz retornar ao ano de 1992, quando participamos do Congresso Internacional das Escolas Famílias Agrícolas na Espanha. Na época eu era Secretário Executivo do Movimento Educacional e Promocional do Espírito Santo (MEPES), que convidou para participar da delegação capixaba o Vice-Governador e Secretário da Agricultura, Adelson Salvador, o jornalista Ronald Mansur e a pedagoga Eliane Stauffer de Andrade Mansur. Após o Congresso visitamos o agroturismo na Itália.
A idéia do agroturismo capixaba surge na visita a Azienda Agroturistica Mondragon, de Roberto e Tina Tessari, ele que trabalhou como voluntário no Mepes na década de 70. A idéia virou semente e foi lançada em Venda Nova do Imigrante. Mais adiante o Mepes enviou a Itália o agrônomo José Valdemar Pin, para um curso de especialização.
A idéia/semente germinou e o agroturismo deu os primeiros passos, já é marco e referencia.  Produtos de qualidade e atendimento de primeira geram trabalho e renda. Famílias competentes que buscam sobreviver e permanecer no campo. Leandro nos mostra uma fotografia da capacidade, criatividade, vontade e espírito empreendedor da família rural. Vi nascer e crescer o agroturismo, alegria pessoal e mais uma ação vitoriosa do Mepes.
Cachoeirinha, Rio Novo do Sul, 11/09/2002.
João Baptista Martins, agricultor.
OS PRIMEIROS PASSOS
Em 1986 nossa família, Zorzal Carnielli, estava diante de dois problemas para resolver. O primeiro era encontrar nova fonte lucrativa que não fosse a monocultura do café. Conversávamos muito para encontrar saídas viáveis.  O preço do café oscilava muito no decorrer dos anos, havia anos bons e anos ruins. Outro problema era o grande número de membros que possuía. Mais pessoas, mais despesas com alimentação, vestuário, saúde e educação. Tudo ia ficando sem horizontes.
Nessa época, Pedro, o oitavo irmão, cursava agronomia em Viçosa/MG. Esse investimento ajudou a família a aprofundar a idéia de encontrar novas alternativas. A opção foi introduzir a pecuária de leite, já tínhamos alguns animais para consumo próprio, que dizíamos ser da raça PC, Puro Carrapato. Queríamos vacas boas de leite, pois as que tínhamos só eram boas no preparo físico, subiam e desciam morros, o dia todo.
Para iniciar a mudança compramos algumas vacas que produziam oito litros de leite por dia. Em pouco tempo elas tornaram-se insuficientes para nossas expectativas, o que nos fez buscar novos animais.
Esse período foi muito difícil. Na região ninguém tinha o tipo de animal que queríamos, já que necessitava de um tratamento diferenciado. Foi indispensável  a busca de tecnologia. Fomos a outros Estados onde havia experiência na atividade. Junto com o gado melhor, nasce outro desafio: o que fazer com o leite. Iríamos transformá-lo em queijos? Mas que queijo faríamos?
Tínhamos em mente fazer um produto de boa qualidade. Esbarramos em uma enorme dificuldade. Não sabíamos como melhorar o queijo que a nona (vovó) fazia no passado e que minha mãe fazia do mesmo jeito. Não havia nenhum órgão do Governo ou da iniciativa privada que pudesse ajudar. Na busca encontramos solução para as rachaduras que apareciam no queijo após três dias de fabricado. Viajamos mil quilômetros para descobrir que bastava envolver o queijo com um pano no momento de ser prensado. Com essa história já havia passado três anos de muito aprendizado e a produção diária era de cinco a dez queijos.
Essa história mostra como é difícil iniciar uma nova atividade e que o futuro pode ser promissor, mesmo que o presente seja difícil. É preciso luta, pois nada cai do céu. Nesse momento a união de todos é de fundamental importância, principalmente a união da família em torno do mesmo objetivo.
Vou falar agora de uma outra história, que veio para marcar uma época e iniciar uma nova atividade. Sem pensar, sem planejar, tudo aconteceu espontaneamente. Quando trouxemos os animais e começamos a fazer mais queijos, as visitas aumentaram, eram vizinhos e amigos. Depois vinham as perguntas sobre a transformação do leite: como se faz queijo que ficava tão liso e sem aqueles furinhos. Queriam saber tintim por tintim.
A parte mais importante da tempestade de perguntas era: você vende? Gostaria de levar esse produto que acabei de ver todo o processo produção e industrialização. Algumas dessas pessoas já estavam nos visitando há horas. Foi aí que começamos a analisar o comportamento dos visitantes e a entender que o negócio rendia e que poderia ser uma boa fonte de renda. E que fonte. Diferente daquela que provinha da venda anual do café, porque passamos a ter renda quase todos os dias.
Percebemos que as visitas aconteciam principalmente nos finais de semana. Daí a pergunta: quem nos visitava? Começamos a estudá-las e vimos que estávamos hospedadas em hotéis da região ou em casa de amigos.essas observações foram superficiais.novas e de futuro desconhecido. Passaram-se quatro anos. O bom era que todo o queijo produzido tinha comprador e a venda acontecia na nossa casa.
O PROJETO
A partir do ano de 1992 nasce o agroturismo. Um grupo de pessoas a estudar o comportamento dos visitantes de forma técnica e objetiva. Vamos falar da pessoa que teve o papel mais importante nessa história, Ronald Mansur, jornalista e editor do Jornal do Campo da TV Gazeta. Ele sempre esteve do lado do pequeno para oferecer a sua ajuda. Sua teoria sempre esteve voltada no sentido de que a comunidade saber fazer e transformar um projeto, simples e humilde, mas com base sólida, pois o saber do povo resolve. Dizia que não precisávamos de projetos vindos de cima ou mesmo de políticos interessados.
Aqui abro um espaço para Ronald Mansur falar sobre o início do Agroturismo.
- Tudo começa como João Baptista Martins falou na apresentação deste livro sobre o Congresso Internacional da Escola Família Agrícola na Espanha e depois em Padova, na região do Veneto, norte da Itália, onde fomos recebidos pela Associação dos Amigos do Estado do Espírito Santo (AES) e por uma infinidade de agricultores ao Mepes. Na casa da família de Roberto e TinaTessari, a Azienda Agroturistica Mondragon, sonhamos com o agraturismo.
No dia 15 de julho de 1992, uma quarta feira, passando por Venda Nova do Imigrante, numa viagem pelo Jornal do Campo, fui ao Alpes Hotel que estava para ser inaugurado. Imaginei uma parceria do hotel com os agricultores. Promovi um encontro e uma conversa entre eles. Na realidade uma conciliação de interesses. As propriedades receberiam os hóspedes do hotel, que poderiam ter momentos de lazer e também de compras de produtos rurais. Ainda em 1992, no mês de setembro ocorreu uma reunião no Alpes Hotel onde foi debatido o modelo e a forma integração.
Antes de devolver a palavra ao Leandro, quero registrar a carta que juntamente com minha família enviamos no dia 22 de maio de 1993 à família Zorzal Carnielli e que está na lojinha da Fazenda Providência.
Nesta casa o Agroturismo capixaba deu o primeiro passo.
A família Zorzal Carnielli é a grande mestra: no trato com a terra, no trabalho com as plantas, na lida com os animais e no dia a dia com as pessoas.
Aqui o convívio nos fez voltar à nossa família e à nossa casa.
Todos os dias eles registram a marca da competência, da qualidade e da alegria de viver.
Quando viemos pela primeira vez, sentimos terra firme.
Terra de gente franca, aberta para a vida e para o Mundo.
Um banco de madeira nos espera, tem anos de vida e de história.
Um convite... Acomodar e deixar o tempo passar com conversas que não terminam nunca, embaladas no sabor de um cafezinho com queijo.
Atestamos e damos fé, a garra da família Zorzal Carnielli e aos que aqui deixam o seu suor em forma de trabalho.
Vila Velha, 22 de maio de 1993.
Ronald, Eliane, Augusto, Vinícius e Helena Mansur.
O resto da conversa é com Leandro, que com o sentimento que tem na alma, nos deixará grandes lições. Siga e confira...
Na volta, Mansur, entusiasmado espalhou a idéia entre nós. Começa a fase importante: projetar o agroturismo.
Outra pessoa incansável foi o engenheiro Luiz Perin, parece que nasceu para pensar de forma objetiva, sabendo bater na porta certa, sempre com dedicação.
Éramos tidos como malucos e até ouvíamos dizer que era mais uma maluquice para Venda Nova do Imigrante. No decorrer de três anos nós não tínhamos hora nem para nossas famílias. Todo tempo vago era para nos encontrar e falar do nosso projeto.
Diante de propostas viáveis à nossa realidade, entendemos estar no momento certo para iniciar a estruturação das atividades que já desenvolvíamos. O Jornal do Campo/TV Gazeta fez uma matéria sobre a fabricação de queijos na propriedade e foi um sucesso. Após a exibição do programa o telefone tocou o dia todo. Queriam saber mais sobre os queijos e como adquiri-los. A novidade foi o fato de que um produtor rural pudesse fazer um bom produto. Este programa nos deu crédito e ampliamos nosso espaço na sociedade.
A novidade despertou outras pessoas da comunidade, que viram que poderiam entrar no negócio. Aparece Tia Cila Altoé com seus biscoitos e doces que fazia ha muitos anos, principalmente para festas de casamento. Quem não gosta de biscoitos e doces feitos com tanto amos.
Surge Josepha Mullers Trakofler, uma alemã que tem um jeito especialem organizar pessoas. Sabe tudo sobre geléias doces, com experiência internacional.
Outra pessoa, a rainha de coração e o abraço maior de todos, a simpatia do receber, tia Cacilda Caliman Lourenção com seus socol (salaminho) e verduras sem agrotóxicos.
Todas estas famílias tiveram seus produtos mostrados na TV Gazeta. Ronald Mansur, que sempre acompanhou nossos passos, encontrando mercado para os nossos produtos e nos ensinando a entender o comércio. A cada instante aprendíamos  observando os fatos, o comportamento, valorizando tudo.
A pedido de Adelson Salvador, Secretário da Agricultura, montamos um projeto regional com apoio de Maria Angélica Fonseca, Rute Paste e pessoas da comunidade. Selecionados sete municípios: Conceição do Castelo, Domingos Martins, Viana, Afonso Claudio, Castelo, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante. Com o projeto nasce a associação AGROTUR (Centro de Desenvolvimento do Agroturismo), com representação jurídica. Uma forma de agrupar pessoas interessadas em participar do grupo.
O lançamento do AGROTUR ocorreu na Casa da Cultura de Venda Nova do Imigrante no dia 05 de março de 1993. Assumi a presidência e Luis Perin a superintendência.
Uma fase importante foi a parceria com o Sebrae, que indicou Vera Perin para coordenar o projeto de capacitação, treinamento e cursos aos associados dos municípios envolvidos, chegando a mais de duas mil horas, sempre de acordo como interesse dos associados.
Outra vitória, a abertura da loja do agroturismo no Alpes Hotel, em outubro de 1993, por ocasião da Festa da Polenta. Éramos quatro produtores. A proposta: fazer uma experiência de quatro meses, cada um pagaria o funcionário por um mês, se não desse certo tomaríamos outra decisão. Tudo deu certo. A loja funciona até hoje, também como posto de informação e divulgação.
Promovemos um seminário em janeiro de 1994 que foi um marco, em especial a palestra do italiano Roberto Tessari. O que ele disse era o que nós fazíamos e não sabíamos se estava certo ou não. O conceito sobre como receber turista e crescimento para o futuro veio da experiência dele

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