RONALD MANSUR
Onde queremos colocar o café conilon? Onde pensam em colocar o conilon? Essas duas perguntas devem ser respondidas para sabermos para onde caminhará a economia rural nos próximos anos, no futuro imediato.
Esse questionamento se faz necessário e urgente em função direta do ambiente que se está criando neste pré-início de safra com relação à qualidade dos grãos produzidos por milhares de cafeicultores capixabas. Nunca será perda de tempo dizer e repetir várias vezes: o conilon é uma planta que estará completando 100 anos de Espírito Santo, mas aqui teve avanços em termos de pesquisa inigualáveis no setor rural de todo o mundo.
Com uma insistência, às vezes soando como demasiada, temos lido e assistido a declarações de que os primeiros lotes de conilon da atual safra estão com a presença de fumaça, que estaria prejudicando a qualidade do produto final.
Nesse quadro é interessante um recuo na História e lembrar que o conilon teve em 1975 a primeira previsão de safra feita pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC), com produção de 200 mil sacas. O conilon ficou à margem das pesquisas até o prefeito de São Gabriel da Palha, Eduardo Glazar, e o seu sucessor, Dário Martinelli, o acolher e brigar por ele como fonte derenda e trabalho para as terras baixas e quentes.
Contrariando os comandantes do setor, o conilon apareceu na cena da cafeicultura nacional. As pesquisas do IBC e o financiamento para o plantio foram realizadas. De 200 mil sacas saltamos para 7,5 milhões no Espírito Santo. O conilon saltou as nossas fronteiras e acompanhou a migração dos capixabas para Rondônia, onde tem uma produção de 2,0 milhões de sacas. O renegado ajudou e ajuda milhares de brasileiros a levar uma vida no campo, com dignidade e previsão de futuro.
O desempenho do conilon quando chega na indústria sempre foi excelente, o que o torna imprescindível na torrefação e na produção de solúvel.
Mas o desempenho do conilon no campo, graças às pesquisas e ao seu manejo, retribui ao produtor dinheiro, à dedicação e ao trabalho dispensado. O conilon, quando bem conduzido e tratado, é retorno certo em termos financeiros. O conilon, quando tem preço, remunera toda sua cadeia, do produtor modesto de poucos milhares de pés, no interior, até os industriais e exportadores, nos portos. O bolo financeiro e econômico do conilon é mais justo quando se compara com outras atividades do mundo rural dos nossos dias. É o que podemos chamar de sustentabilidade social do século XXI.
Os capixabas, principalmente os produtores de conilon, precisam ficar atentos porque a fumaça do conilon pode nos colocar na velha armadilha da importação, que certamente vai nos colocar de joelhos e submissos a interesses que não partilham e nem convidam os milhares de cafeicultores à mesa do banquete.
Existe problema na qualidade do conilon, mas é preciso muito mais cautela quando se aborda esse assunto. É preciso medir o real tamanho da fumaça que alegam ter o nosso conilon. Acorda, capixaba, senão o navio vai apitar no porto lotado de robusta.
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