terça-feira, 27 de novembro de 2012

Alckmin perde para o PCC


Em maio de 2006, o Primeiro Comando da Capital (PCC), associação delinquencial paulistana nascida nos presídios como a italiana Sacra Corona Unita, apavorou a população com ataques espetaculares. O medo tomou conta dos paulistanos, que se refugiaram nas suas residências.

Wálter Maierovitch

Policiais militares atuam no centro de São Paulo
Quando isso aconteceu, Geraldo Alckmin tinha renunciado ao governo do estado para concorrer à Presidência da República. Como legado, Alckmin deixou uma canhestra política militarizada de segurança pública e a passar a falsa impressão de tranquilidade à população. Não bastasse, não desmentiu o seu chefe do Departamento de Investigações Criminais na afirmação, em entrevista coletiva, de que o PCC estava agonizante.
Logo depois da saída da chefia do Executivo paulista, arti­culados ataques do PCC serviram para confirmar a falência da política militarizada de Alckmin, e o governador interino, Cláudio Lembo, foi apanhado de calças curtas. Não bastasse, um avião oficial conduziu negociadores para fechar um “armistício” com o chefão do PCC, recolhido em estabelecimento prisional.
De maio de 2006 em diante, excluída a curta passagem do pefelista Lembo, a política tucana para a segurança pública continuou calamitosa, com a agravante da manutenção do acordo celebrado com o PCC. Isso permitiu ao PCC difundir-se pela periferia e tecer uma potente e capilar rede criminal. O PCC passou a ter controles territorial e social.
Para se ter ideia, um respeitado padre da zona leste enviou uma carta ao cardeal arcebispo a relatar pressões do PCC e o patrocínio, em paróquias que indicou, de quermesses e festas litúrgicas. Com a volta de Alckmin, colocou-se de lado a Polícia Civil, apesar das suas tradições e do respeito conquistado junto à população. Num pano rápido, intensificaram-se as ações militarizadas, com todas as fichas apostadas na Polícia Militar.
A propósito, basta lembrar o nihil obstat de Alckmin na ridícula tomada militar do campus da Universidade de São Paulo e por causa de três cigarros de maconha na posse de usuários. E teve a desumana ação militar no bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos, que resultou na expulsão de famílias instaladas há anos nesse bairro operário. Não se deve olvidar, também, a desumana e atrapalhada tentativa, sempre com policiais armados e emprego de violência, de acabar com um velho confinamento de dependentes químicos na Cracolândia. Em todos esses casos, Alckmin, em panos de Capitão Nascimento, repetia, sem corar e em entrevistas, frases de matriz fascista.
Pois bem. O PCC voltou, desde agosto passado, a mostrar os músculos e a Polícia Militar partiu para a guerra, que já é de uma clareza solar. Por operar em rede difusa por todas as zonas da capital e da periferia, o PCC, com ataques de norte a sul e de leste a oeste, colocou Alckmin e a sua polícia como “baratas tontas”.
Pouco antes do período eleitoral municipal, o governador paulista e os seus subordinados insistiam, como a esquecer o passado, na afirmação de o PCC ser supervalorizado pela mídia. Num dos embates sangrentos, Alckmin não poupou os paulistas ao soltar um “quem não reagiu não morreu”.
A guerra em curso tem ­gerado mortes dos dois lados. Pior, cresceu o número de vítimas inocentes, de policiais e carcereiros mortos em dias de folga. Fora isso, grupos de extermínio entraram no embate e o crime organizado já impôs toque de recolher aos moradores de territórios controlados.
O confronto teria sido uma resposta à morte, em janeiro, num confronto com policiais militares em São Bernardo do Campo (no ABC paulista), de um líder de nó da rede criminal operada pelo PCC. Fala-se numa carta interceptada em presídio, no mês de maio, com ordem de eliminação de policiais militares. A versão que corre nos bastidores das delegacias é outra. Dá conta de uma quebra do modus vivendi acertado em maio de 2006, com a Rota (polícia especial) a ingressar em territórios da periferia dominados pelo PCC e a perseguir vendedores de drogas ilícitas.
Nesta semana, depois de um bate-cabeça entre o secretário de Segurança paulista e o ministro da Justiça, a presidenta Dilma entrou em cena e acertou com o governador, além de auxílio financeiro, a constituição de uma agência de combate ao crime organizado e de reserva de vagas em presídios federais. Alckmin não deixou de reclamar ter o ministro Cardozo, da Justiça, se aproveitado da situação para abrir espaço para sair candidato ao governo em 2014. Como todos sabem, Alckmin pretende se reeleger e teme também ser coberto por uma pá de cal, como sucedeu a José Serra.
Ainda não se sabe se haverá alteração na política militarizada de Alckmin. Como serão repassadas informações do Banco Central e do órgão de inteligência financeira (Coaf), espera-se que se consiga atacar a economia movimentada pelo PCC, de modo a empobrecê-lo. Uma associação criminosa reticular, do porte do PCC, não sobrevive sem substancial lucro financeiro.

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