terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O que o Natal nos propõe



 
Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
Adital
As propostas para os dias de Natal são as mais diversas. Agências de turismo oferecem passeios paradisíacos. No comércio, há sempre um Papai Noel para dar algum presente que a pessoa tem de comprar. E em muitas famílias e empresas, Natal é época de comer e beber desenfreadamente. Além dessas propostas consumistas, Natal pode ser ocasião de bons encontros e confraternizações. Entretanto, se você quiser mais do que isso, lembre-se que, originalmente, Natal significa renascimento. Embora ninguém saiba a data exata do nascimento de Jesus, desde o século IV, os cristãos tomaram o 25 de dezembro, solstício do inverno no hemisfério norte, como referência para celebrar a vinda do Cristo, como sol que ilumina e dá sentido novo a nossas vidas. No hemisfério norte, o sol quase desaparece totalmente, quando, a partir desse dia do solstício, como que renasce e volta a brilhar no horizonte. Assim também, os cristãos festejam o nascimento do Cristo que renasce em nós para nos fazer renascer com ele. Por sua origem de festa solar, o Natal é mais a celebração do renascimento do que do simples nascer. Aliás, o que significaria nascer, se não fosse para se dispor a um constante renascer? O poeta Pablo Neruda afirmava: "Nascemos como esboço – É preciso sempre renascer. Nascemos para renascer”. Podemos dizer que renascemos toda vez que realizamos os passos que a vida exige. Eles acarretam um superar uma etapa que exige de nós como morrer para o jeito de ser anterior e assumir o compromisso de renascer para uma nova etapa de vida. Continuamente. Paulo escreve: "Quando eu era criança, pensava como criança, falava como criança. Ao me tornar adulto, deixei as coisas de criança” (1 Cor 13, 11). Em cada idade física, o ser humano larga uma idade e renasce para outra. Em uma conversa com Nicodemos, Jesus explica: "O que nasce conforme o mundo (ou no modo de falar hebraico: o que nasce da carne) é carne, ou seja, do mundo. O que nasce do Espírito é espírito. Por isso, insisto, é preciso nascer de novo, nascer do Espírito” (Jo 3, 7).
O sentido mais profundo da celebração do Natal é nos dispor a renovar em nós essa disposição do renovar-se interiormente, ou como diz Paulo: deixar de lado o velho modo de ser e revestir-se interiormente de um novo modo de ser. Conforme os evangelhos, foi isso que Jesus fez durante toda a sua vida. "Ele cresceu em sabedoria, em idade e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 40). Em grego, o termo "Cristo” significa "ungido” ou "consagrado”. Na história bíblica, vários profetas e personagens importantes foram chamados de Cristo ou de consagrado. Jesus de Nazaré viveu essa vocação de modo tão profundo e pleno que, ao dizermos "Jesus é o Cristo, o consagrado de Deus”, tomamos essa afirmação como se fosse um nome próprio: Jesus Cristo. E ele faz de nós irmãos seus porque nos dispõe para sermos também, cada um/uma do seu modo, Cristos, consagrados de Deus nesse mundo para testemunhar o projeto que Deus tem de amor e justiça para o universo.
A festa do Natal é a celebração desse novo renascimento. A cada ano, marcamos um passo a mais nesse caminho. Cada pessoa é chamada a fazer de sua vida uma gruta natalina, uma caverna que, como útero grávido, acolha o nascimento do novo ser que somos chamados a ser e que no Natal nos comprometemos a nos tornar: humanos como Jesus.

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