Entrevista com o Dr. Aldir Alves Teixeira, especialista em qualidade e Presidente da Comissão Julgadora do Prêmio Ernesto Illy por 25 anos seguidos
Entrevista com o Dr. Aldir Alves Teixeira, especialista em qualidade e Presidente da Comissão Julgadora do Prêmio Ernesto Illy por 25 anos seguidos
1 – Quais os destaques da 25ª edição do Prêmio? O que mudou em relação às anteriores?
Para este 25º Prêmio mudaram algumas coisas importantes: O tamanho do lote mínimo passou de 100 para 80 sacas, favorecendo os pequenos produtores. Por outro lado, o lote máximo passou de 800 para 1000 sacas. Outra mudança importante foi o valor do Prêmio. Para o 1º lugar, o valor aumentou para R$ 70.000,00, o 2º para R$ 45.000,00 e o 3º para R$ 25.000,00.
Hoje também existem os Prêmios Regionais, divididos em 10 regiões/Estados: Minas Gerais, subdividido nas regiões do Cerrado Mineiro, Matas de Minas, Sul de Minas e Chapada de Minas; São Paulo; região Centro-Oeste; região Norte/Nordeste; região Sul; Rio de Janeiro e Espirito Santo. De cada região são reconhecidos dois finalistas.
2 – O fato de a safra atual estar atrasada pode acarretar em menos inscrições, já que o prazo se encerra no próximo dia 23?
Eu não acredito, pois o atraso não foi muito grande. Apenas as regiões mais altas ainda estão colhendo e até o final das inscrições, em 23/09, o produtor já terá tido tempo para preparar o seu melhor café para enviar para esta edição especial do Prêmio.
3 - Como é o trabalho da Comissão Julgadora? Quantas pessoas são envolvidas, ao todo, e quais as etapas até a seleção dos vencedores?
O trabalho da Comissão Julgadora é dividido em duas fases: primeiro a fase eliminatória, somente com a equipe brasileira, composta de 5 profissionais de alto nível e com diploma italiano de Degustador “Senior”. Na fase final se somam mais dois especialistas italianos da illycaffè de Trieste, com a participação da Sra. Anna Illy.
É importante salientar que todas as amostras são inicialmente classificadas quanto ao aspecto, a seca, o tipo, a peneira, o teor de umidade. Depois são avaliadas na prova de infuso, no espresso e o diluído de espresso. Só nesta fase, uma mesma amostra é degustada por 5 degustadores em 4 xícaras diferentes, perfazendo um total de 20 resultados para cada amostra. Com esses valores temos muita segurança nos resultados.
4 – Como são enviadas as amostras e como são analisadas?
As amostras devem ter um mínimo de 1600 gramas de café beneficiado, verdadeiramente representativa do lote, identificadas e etiquetadas com o nome do produtor, nome da propriedade, município, Estado/Região produtora onde está a lavoura do café concorrente, número do Registro de Imóveis, total de sacas inscritas, data e a ficha de inscrição devidamente preenchida e assinada pelo produtor.
A amostra inscrita, representativa de um lote, deverá ser exclusivamente de espécie Coffea arabica, preparada por via seca (café natural) ou por via úmida (cereja descascado ou despolpado), do tipo 3 para melhor com no máximo 12 defeitos de acordo com a Tabela Brasileira de Classificação, com bom aspecto, boa seca e homogênea, teor de umidade máximo de 11% (o que equivale a 9% na norma ISO 6673), nas peneiras 15 e acima, com um máximo de vazamento de 10% na peneira 14, sem mocas, com bebida fina e respeitar o limite máximo de resíduos (LMR) permitido mundialmente.
5 - Qual o aspecto que o senhor considera mais importante na análise das amostras do Premio?
O aspecto que consideramos mais importante e por isso estamos realizando o 25º Prêmio é a credibilidade. As amostras quando chegam são imediatamente codificadas de maneira a não termos conhecimento nem do nome do proprietário e nem da região de onde provem o café. Desta maneira o café é analisado pelas suas características de qualidade, pelo esmero como foi preparado.
O resultado e os vencedores somente serão conhecidos no dia da Festa de entrega do Prêmios.
6 - Mudou algo na qualidade do café que vocês recebem dos produtores nesses últimos 25 anos? O que evoluiu?
No início do Prêmio em 1991 e até 1999 nós classificávamos somente cafés naturais. Com as mudanças climáticas que ocorreram e para atingir os cafeicultores de todas as regiões cafeeiras passamos a aceitar também os cafés descascados e despolpados. Com isso, atualmente a maioria dos cafés inscritos são de cafés descascados. A qualidade dos cafés finalistas do prêmio tem sido cada vez melhor. O produtor durante todos estes anos aprendeu a fazer um café de altíssima qualidade. Também ao longo dos anos foram descobertas novas regiões de café especial.
7 - 25 anos ininterruptos significa uma trajetória de sucesso. A que fatores o senhor atribui esse sucesso do Prêmio Ernesto Illy?
Estes 25 anos mudaram a trajetória da cafeicultura brasileira. Quando o saudoso Dr. Ernesto Illy veio ao Brasil em 1991, foi introduzida uma mudança substancial. Reconheceu-se a partir daí a diferença entre um café “commodity” e um café de qualidade. O Prêmio e a valorização da qualidade passaram a ser um divisor de águas como costumamos dizer.
Até 1990 não havia diferença no preço, seja para um café comum como um de qualidade.
Em 1991, enfatizo mais uma vez, o Dr. Illy veio ao Brasil para realizar um Prêmio de qualidade, comprar diretamente do produtor e pagar um preço melhor pela qualidade.
Essa ideia mudou a cafeicultura brasileira e hoje o mundo todo reconhece que o Brasil tem cafés de qualidade.
8 – Qual o impacto e o legado do Prêmio para a cafeicultura nacional?
O impacto da mudança foi que outros concorrentes vieram, outros concursos surgiram e o cafeicultor passou a se sentir prestigiado por produzir qualidade.
Regiões como a Zona da Mata (hoje conhecida por Matas de Minas) e Sorocabana no Estado de São Paulo, dentre outras, que só produziam cafés de bebida rio, hoje se orgulham por produzirem cafés de alta qualidade e por terem ganhado muitos dos primeiros lugares.
9 - Como a illy se sente ao ser a precursora de um Prêmio tão importante, que hoje é realizado por outras entidades e empresas?
A illy tem um papel importantíssimo na redenção da cafeicultura nacional, mostrando ao mundo que possuímos cafés de alta qualidade. Faltava estímulo e a illy trouxe esse estímulo para os cafeicultores e a cafeicultura nacional.
Até um Prêmio com o meu nome foi criado pela Câmara Setorial do Café da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, agora já na 13ª edição, para estimular os cafeicultores paulistas, o que muito me orgulha.
10 - Quais os diferenciais do Prêmio da Illy para atrair os produtores diante de uma concorrência tão acirrada?
Os cafés inscritos e aprovados no Prêmio Ernesto Illy são adquiridos pela empresa durante a safra por um preço superior aos maiores valores do mercado e ainda recebem um diferencial por saca por estarem inscritos no concurso. Todos os 40 finalistas nacionais e os 2 regionais (por região ou estado) recebem prêmios em dinheiro no dia da festa pela classificação entre os melhores.
Nas visitas que fazemos aos cafeicultores sempre constatamos como eles se sentem orgulhosos em nos mostrar os diplomas e troféus recebidos nestes 25 anos.
FONTE: Clube illy do Café
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