A comunidade do
Empoçado, Afonso Claudio, tomou para si os erros cometidos no passado. Assumiu como
responsabilidade coletiva a degradação das nascentes que antes forneciam águas em
abundancia para todos. Mas ao invés de ficar fazendo lamurias com relação ao
que seus antepassados fizeram com o meio ambiente, ela resolveu reagir e mais
do que isto, resolveu agir.
A comunidade do
Empoçado tem 100 pequenas propriedades, 150 famílias e 800 habitantes.
Tudo tem como base o
ano de 2003, quando uma grande seca levou prejuízo a toda coletividade,
atingindo diretamente os seus bolsos. A falta de chuvas minguou os
reservatórios , as plantas não evoluíram
e como resposta não puderam dar frutos. A safra de café foi pequena. As pastagens
secaram e o gado passou fome, emagreceu e o leite, que era uma boa fonte de
renda, diminuiu. Os plantios de milho, feijão e verduras ficaram esperando pela
água, bem como os animais e até mesmo a população.
A comunidade diminuiu,
não no número de habitantes, mas na sua auto estima.
O ano de 2004 foi
marcado pelas ações concretas, centrada e centralizada na Escola Municipal. Também
o ano de 2005 foi de debate e de discussão, ir ao fundo do problema que era de
todos, mas que antes não era de ninguém, quando muito era do vizinho.
Os alunos da escola
ganharam um concurso ao fazerem uma cartilha onde mostravam os problemas do
meio ambiente.
Um mutirão foi criado
e denominado os caçadores de nascentes, percorrendo toda região que tem
altitude de 300 a 1.000 metros. Localizaram mais de 200 nascentes e olhos de
água.
Já no ano de 2006, com
apoio direto e decisivo do Ministério Público Estadual, cercaram e fizeram o
plantio de essências nativas em nove nascentes. Estava dado o primeiro passo
concreto no sentido de corrigir a rota e os caminhos que seus antepassados
tomaram não havia muitos anos.
Um freio na devastação
e na desfiguração do meio ambiente foi a opção encontrada e adotada, talvez a
única que eles tinham. Ou agem ou morrem de sede.
Ainda em 2006 apareceu
o Instituto Terra, uma idéia do fotografo Sebastião Salgado que em Aimorés,
Minas Gerais, começou um trabalho de recuperação das terras devastadas de sua
família. Um novo parceiro apareceu e uma ação foi programada para 2007, quando
as primeiras tradicionais chuvas começassem a chegar. Assim vinha acontecendo
sempre. Isto mesmo, assim vinha acontecendo. O final de 2007 foi marcado por
chuvas em menor intensidade, o que fez prorrogar o início da recuperação de
mais 15 nascentes.
O plantio de sicupira,
peroba e demais plantas teve de esperar. A Natureza estava mandando mais um
recado e sentindo as ações deletérias do homem, que sempre se considerou o
Senhor absoluto do Universo e que dele poderia dispor quando bem interessasse. Assim
tem sido até os nossos dias. Assim agiremos até quando?
Mas não é este o
problema que vai fazer com que a comunidade pare no tempo, ela sabe que mais na
frente, aquilo que chamamos de futuro, depende fundamentalmente da ação do
agora.
Texto publicado em A GAZETA em 5-04-2008
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