Secagem de café na Etiópia: desvalorização da moeda do país elevou a remuneração dos produtores em dólar e uma fatia maior da renda agora fica no campo.
O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo e, a exemplo de outras commodities, pairam dúvidas se haverá produção suficiente para atender ao aumento da demanda, principalmente nos países emergentes. As projeções são de maior demanda e estoques apertados, razão pela qual as colheitas precisam crescer. Mas de onde virão os grãos para sustentar o crescimento do consumo?
No mapa mundial da cafeicultura, quatro países apresentam potencial para aumentar de modo significativo a produção de arábica e dois, a de robusta, segundo projeções da P&A Marketing Internacional. A espécie arábica é considerada a mais nobre e, por isso, tem maior valor de mercado do que a robusta, usada na produção de cafés instantâneos e na composição dos 'blends' com outros grãos. Brasil, Peru, Honduras, Etiópia, Vietnã e Indonésia são apontados como os produtores que mais podem crescer.
Seleção de café na Indonésia: demanda global pela commodity segue firme e estoques estão cada vez mais apertados
O consumo mundial de café no ano passado somou 139 milhões de sacas, 4,7 milhões (ou 3,5%) a mais do que o volume produzido na safra 2011/12, de 134,3 milhões de sacas, segundo a Organização Internacional do Café (OIC) - o Brasil foi responsável por 32% dessa produção. Considerando um cenário intermediário de crescimento da demanda, a OIC estima que a produção mundial precisa aumentar em 23%, para 165 milhões de sacas em 2020.
Levando em conta a fatia brasileira no mercado internacional, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) calcula que a produção doméstica terá de crescer para, no mínimo, 60 milhões de sacas nos próximos oito anos, ante as 50,5 milhões estimadas para 2012/13.
Colheita de café na Indonésia: se o clima for favorável, produção já tem potencial para chegar a 12 milhões de sacas O Brasil, que desde 1860 reina como maior produtor e exportador mundial - com uma única exceção, em 1986, quando perdeu o posto para a Colômbia em virtude de uma grande seca -, avançou muito em produtividade. De 2001 a 2010, a produção cresceu cerca de 30% sem aumento da área plantada.
Colheita de café na Indonésia: se o clima for favorável, produção já tem potencial para chegar a 12 milhões de sacas O Brasil, que desde 1860 reina como maior produtor e exportador mundial - com uma única exceção, em 1986, quando perdeu o posto para a Colômbia em virtude de uma grande seca -, avançou muito em produtividade. De 2001 a 2010, a produção cresceu cerca de 30% sem aumento da área plantada.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o rendimento saltou de 14,36 sacas por hectare, na safra 2001/02, para 24,5 sacas, em 2012/13, um aumento de 70,6%.
Hoje, o país é reconhecido como um fornecedor de tecnologias de ponta para a cafeicultura, além de despontar como provedor de café de qualidade. Essa é uma história que começa a ser reescrita, já que antes o Brasil era o "patinho feio" dos produtores, mais conhecido pelos grandes volumes despejados no mercado do que pela qualidade, lembra Carlos Henrique Brando, sócio-diretor da P&A Marketing Internacional. O país também se destaca como a maior fonte
de cafés sustentáveis.
de cafés sustentáveis.
Além disso, o Brasil é o único país capaz de aumentar tanto a produção de arábica, que responde por mais de 70% de sua colheita, quanto a de robusta, que apresentou forte crescimento nos últimos anos.
Colheita de café em Honduras: produção deverá superar 5 milhões de sacas em 2012/13, 1 milhão a mais que em 2011/12
Outros países também apresentam evolução. Nas Américas, o Peru produziu 4 milhões de sacas em 2011 (último ano com dados disponíveis) e é o terceiro maior produtor da América do Sul, atrás apenas de Brasil e Colômbia. Apesar de uma possível redução na próxima safra, por causa do clima desfavorável, a P&A avalia que o país aproveitou a "brecha" deixada pela Colômbia (que enfrentou seguidas quebras de safra nos últimos anos) no mercado internacional, sendo
um substituto mais barato para os grãos colombianos.
um substituto mais barato para os grãos colombianos.
Além do Peru, Honduras vem ampliando a produção e melhorando a qualidade do café. Foram produzidas 4 milhões de sacas em 2011/12 e a expectativa é superar 5 milhões no ciclo 2012/13, de acordo com a P&A. "Há terras e mão de obra disponíveis", observa Brando.
Na África, destaque para a Etiópia, berço do café arábica. O país é classificado pela P&A como um dos polos dinâmicos para o cultivo da espécie. O país desvalorizou sua moeda, e o produtor passou a receber mais em dólar e ter mais renda. A privatização das fazendas estatais, embora seja um processo mais lento, também ajudou o país a aumentar a produção nos últimos anos. Em 2011,
a produção local foi de 6 milhões de sacas, segundo a OIC. As estimativas no país não são precisas, mas o mercado projeta safras de 8 a 9 milhões de sacas nos próximos anos.
No caso do café robusta, Vietnã e Indonésia - os dois maiores produtores da variedade - são apontados como polos "semi-dinâmicos" pela P&A Marketing Internacional. O Vietnã, maior produtor mundial de robusta, enfrenta limitação de água para irrigação e falta de investimentos para o antigo parque cafeeiro.
Mesmo assim, a produção, que ao longo da última década ficou estagnada em torno de 18 milhões de sacas, deve ficar entre 24 milhões e 26 milhões de sacas na safra 2012/13 - um recorde.
Já a Indonésia produziu 9 milhões de sacas em 2011 e tem potencial para alcançar entre 10 milhões a 12 milhões de sacas na próxima safra, se o clima for favorável - a cultura no país é muito sensível ao fenômeno climático La Niña, que provoca mais chuvas e altas temperaturas no Sudeste Asiático. Assim, o país já substituiu a Colômbia no posto de terceiro maior produtor de café.
Fonte: Valor Econômico 26/11
Nenhum comentário:
Postar um comentário