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As manifestações atuais refletem o desconforto de uma geração que teve ampliadas as oportunidades de acesso ao ensino médio e superior, mas que encontra um mercado de trabalho restrito e frustrante sob o ponto de vista salarial e de condições de trabalho. Essa é a análise do professor de Sociologia Marcelo Ridenti, da Unicamp. Os protestos, em sua opinião, são como válvulas de escape e têm mais a ver com esse desconforto.
Marcelo Beraba
Marcelo Beraba
![](http://www.gazetadopovo.com.br/midia/tn_620_600_protesto_tarifa_onibus_sao_paulo_nelson_antoine_fotoarena_folhapress.jpg)
Como analisa as manifestações contra a tarifa?
O que seria esse desconforto econômico?
Embora muita gente tenha concluído o colegial e entrado na faculdade, o lugar para os jovens no mercado é muito restrito. E, quando conseguem uma colocação, acabam se sujeitando a condições de trabalho que não combinam com as promessas de ascensão social pelo estudo. Isso gera um desconforto que tem laços também éticos e existenciais.
Como assim?
Há um excesso de valorização da posse de mercadoria e pouco espaço para a socialização em comunidade. Há uma massa de jovens que está em busca de causas coletivas. Porque vivemos uma época de um individualismo muito exacerbado.
É possível um paralelo com as manifestações dos anos 60 e 70?
A agitação dos anos 60 e 70 combinou com um momento de modernização da sociedade e de ampliação do acesso ao ensino, que foi restrito, mas que gerou manifestações ligadas ao combate à ditadura. Ultimamente, tem havido uma retomada do desenvolvimento e uma ampliação impressionante de vagas no ensino. A minha intuição sociológica é de que é menos a passagem de ônibus e mais a manifestação de desconforto dessa nova geração que não está encontrando um lugar muito claro na sociedade.
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