Vou interpretar à minha maneira reflexões muito ricas, partilhadas por vários colegas, sobre "Oportunidades e Desafios ao Desenvolvimento", seminário promovido pelo Instituto de Economia da UNICAMP juntamente com a Plataforma de Política Social (de 7 a 9 de maio), reunindo dezenas de pesquisadores do campo pluridisciplinar das políticas sociais. A dois destes pesquisadores - Ermínia Maricato e Paulo Baltar - sou devedor de "insights" brilhantes, colhidos em conversas diversas.
Guilherme C. Delgado
Guilherme C. Delgado
1) a especulação fundiária urbana, conduzida pelo investimento em infraestrutura urbana (desregulada) e pela expansão da construção civil, adicionadas à especulação imobiliária rural, provocada por uma peculiar expansão das "commodities", também desregulada e financeiramente estimulada pelo sistema de crédito rural;
2) o ingresso maciço de capital estrangeiro, principalmente a partir de 2004, quando pelo desempenho das exportações, principalmente dos setores primários, a economia brasileira passa a ser vista como solvável e confiável, do ponto de vista do movimento internacional de capitais.
O outro fator de constrangimento ora sob análise - a dependência externa, na forma como esta vem se manifestando -, o déficit nas transações externas liga-se também de maneira visceral ao primeiro - a especulação fundiária -, passando forçosamente pelo enfraquecimento industrial, que provavelmente é a causa oculta de todo esse processo vicioso. Vejamos como isto se revela na conjuntura.
Se considerarmos o déficit nas transações externas como indicador de dependência externa, veremos que este fator não é novo, nem necessariamente sinônimo de constrangimento externo ao desenvolvimento. Por isso precisamos qualificá-lo.
Há seis anos o país acumula persistente e crescente déficit nas transações externas (2008-2013), depois de se livrar dele por curto período (2003-2007), graças a um acelerado processo de incremento das exportações primárias, mas também manufatureiras (num primeiro momento). Mas nos últimos cinco anos tivemos um agravamento quantitativo e qualitativo desse déficit, que é histórico nos "serviços" (dividendos, juros, viagens, seguros, fretes etc.).
Triplica o déficit dos serviços e a este se adiciona no último triênio um déficit muito forte no comércio de produtos manufaturados. Com tal configuração do "déficit" externo, que este ano deve ultrapassar os 3% do PIB, cerca de 60 bilhões de dólares, ficaremos ainda mais constrangidos para crescer nos ramos e atividades que vínhamos nos especializando recentemente:
a) o setor primário exportador, relativamente desacelerado, com certa retração das "commodities";
b) a construção civil e a infraestrutura, desaceleradas pela especulação imobiliária e pela fraqueza do investimento público;
Os desafios que estão postos não são fatalidades, mas constrangimentos estratégicos de caráter estrutural e essencialmente políticos. Mas será que governo e oposição leem a situação dessa forma? Ou continuam apostando no jogo de cartas marcadas, que ora é ganho pelo grupo da estagnação neoliberal, ora pelo neo-subdesenvolvimento - crescimento econômico constrangido pela dependência e pela concentração da riqueza?
Pergunto para provocar reflexão ética e política.
Guilherme Costa Delgado é doutor em economia pela UNICAMP e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.
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