quinta-feira, 20 de junho de 2013

As manifestações do Brasil pelo mundo afora


As manifestações do Brasil pelo mundo afora

Escrevendo de Berlim, nosso colunista Flávio Aguiar ressalta que, após as manifestações nas ruas brasileiras, muitas autoridades já estão dispostas a rever as tarifas. Enquanto isso, na Europa, apesar dos protestos locais, predomina a lógica da “Austerität über alles und alle”, ou seja, a austeridade acima de tudo e por cima de todos. Onde há mais democracia?

As manifestações de São Paulo e de outras cidades brasileiras repercutiram pelo mundo afora. Houve manifestações de solidariedade (aos manifestantes) e de repúdio à violência da polícia em várias cidades europeias, inclusive em Berlim, de onde escrevo.

É claro que nestas manifestações surgiram comentários do tipo “nada mudou no Brasil”. “O PT é igual ao PSDB”. Ou ainda: “O PT repete a ditadura”. É previsível.

Também é claro que voltam as perguntas – na mídia – ecoando as esperanças da direita brasileira, sobre “se o Brasil terá capacidade para organizar eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas”. Estas perguntas vêm com o apoio das reivindicações (para mim equivocadas) de que o dinheiro investido na Copa poderia ser usado em escolas, educação, saúde, etc.

Sim, o Brasil deveria investir mais nestas áreas. Mas uma coisa não se opõe a outra. O que prejudica o investimento social é o pagamento dos juros da dívida pública. A visibilidade da Copa, das Olimpíadas, etc., vai ajudar este investimento, não prejudicar. Além de que os investimentos nestes eventos esportivos estão beneficiando investimentos de infraestrutura e micro e média-empresas que vão repercutir na demanda por aqueles quesitos maiores da sociedade brasileira. Mas, enfim, isto é uma discussão a ser feita em profundidade. Fica para outra oportunidade. De momento, quem quiser algo a respeito pode dar uma olhada na edição da Carta Capital desta semana.

Repercutiu bem a atitude da presidenta Dilma reconhecendo a legitimidade democrática das manifestações (pacíficas). Foi comparada positivamente à atitude do primeiro-ministro Tayyip Erdogan, da Turquia, afirmando (este) que os manifestantes das praças Gezi e Taksim eram apenas “vândalos”(também os há no Brasil), “terroristas” e outros termos desqualificadores.

Neste campo houve uma lacuna importante na mídia internacional. Não basta comparar a atitude da nossa presidenta à do primeiro-ministro de Ankara. É necessário compará-la, acompanhada do anúncio de muitas outras autoridades brasileiras de que estarão dispostas a rever a questão das tarifas, às atitudes dominantes na Europa toda – em Berlim, Bruxelas, Frankfurt, Atenas, Madri, Lisboa, Dublin, etc. etc.

Nestes governos predomina a lógica – contra os milhares de manifestantes em todo continente – da “Austerität über alles und alle” – a austeridade acima de tudo e por cima de todos. Ou seja, se há um déficit de democracia em toda parte, de momento ele é maior por aqui do que por aí, no Brasil.
Apesar das balas de borracha da Polícia Militar de São Paulo. Mas o gás pimenta daqui é tão ruim quanto o daí.

Em tempo: assim como não dá para atribuir a torrente de manifestantes a conspirações, coincidentes, embora não conjuntas, de PSTUs, PCOs, PSOLs, PSDBs e DEMs (estes partidos não dispõem de tal poder de fogo junto à população em geral nem à população jovem), também não dá para atribuir a ocorrência dos vandalismos a infiltrações policiais ou outras.

Este é um fenômeno de escala mundial.

Neste ponto, o Brasil deve se curvar ante à Europa, onde o vandalismo em algumas manifestações é permanente e tornou-se organizado, com o concurso de movimentos como os “Chaoten” ou “Autonomen”. Quando eles vão intervir, parece até haver uma combinação com a polícia sobre hora, trajeto e lugar para o lançamento de coquetéis e bombas de gás lacrimogênio, depredação de vitrines, agências bancárias, etc. Contra as estações de metrô ninguém investe – elas ajudam, não prejudicam a fuga.
Nada como uma organização de primeiro mundo.

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