Por Olivia Alonso e Ana Fernandes | Valor
SÃO PAULO - A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil suspenderam contratos de crédito para a MRV Engenharia, que teve seu nome incluído no Cadastro de Empregadores, lista de pessoas físicas e jurídicas que cometeram infrações contra trabalhadores. Segundo a Caixa, apenas os novos créditos ficam suspensos. Os empreendimentos já contratados terão seu curso normal para liberação das parcelas e para o financiamento para os compradores das unidades habitacionais.
O nome da MRV voltou à lista do Ministério do Trabalho em 28 de dezembro, o que já havia acontecido no ano passado. Desta vez, por uma autuação feita em 2011 referente a um empreendimento em Curitiba.
A suspensão do crédito da Caixa e do BB acontece logo após a inclusão da empresa na lista, uma vez que os dois bancos são signatários do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil. Procurado pelo Valor, o BB não confirmou a suspensão do crédito para a MRV, pois afirma que suas relações comerciais com seus clientes são protegidas pelo sigilo bancário e comercial. No entanto, confirmou que é signatário do pacto e que “cumpre rigorosamente” o estabelecido na portaria que trata da inclusão de empresas infratoras no cadastro de empregadores que submetem trabalhadores a condições análogas às de escravos.
Segundo a própria MRV, cerca de 80% de suas vendas são financiadas pela Caixa, outros 15% pelo BB e o restante por outras instituições.
Queda na bolsa
Nesta manhã, os investidores reagem à notícia vendendo os papéis da empresa, que lideram as perdas do Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, com baixa de 3,67% às 12h20 (horário de Brasília), cotados em R$ 11,54. No mesmo horário, o índice registrava alta de 2,44%.
“A queda das ações acontece mais por conta da imagem da companhia do que por um resultado material, pois ainda é muito cedo para calcular quais serão os impactos. A MRV já não tem reportado resultados bons e o público da empresa, principalmente de baixa renda, está atento a este tipo de propaganda negativa”, diz o analista Rodolfo Amstalden, da Empiricus Research.
Um outro analista afirma que o principal problema é a insegurança criada entre investidores pela reincidência da MRV na lista do Ministério do Trabalho. “Já no ano passado a MRV teve três casos, em municípios diferentes, e agora em um quarto local, Curitiba. Fica a incerteza se poderão ocorrer mais casos”, diz.
Eduardo Silveira, analista do Banco Espírito Santo, ressalta ainda a insegurança maior entre investidores internacionais. Silveira considera exagerado se falar em “trabalho escravo” no caso da MRV, mas que o termo acaba saindo na mídia internacional e assustando o investidor estrangeiro. “Ver lá fora a palavra ‘escravidão’ acaba sendo extremamente negativo.”
Silveira acredita que a queda deve ser pontual hoje e que deve ficar nesse patamar de 3% a 4%. Nos próximos dias, vai depender, segundo ele, do tempo que a incorporadora fará para tirar o nome da lista do Ministério do Trabalho e, consequentemente, retomar as linhas de crédito da Caixa e do BB.
Posição da MRV
Em nota enviada hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a MRV afirmou que toma “todas as medidas e ações cabíveis” para excluir seu nome do Cadastro de Empregadores. A companhia disse ainda que a volta de seu nome à lista foi fruto de uma atualização do ministério, já que a autuação é de 2011, que revelou supostas irregularidades promovidos por uma empresa terceirizada. Segundo a MRV, o contrato de serviço foi suspenso em 2011.
No ano passado, a MRV já havia passado por situação semelhante. Em agosto, a Caixa suspendeu a concessão de crédito à incorporadora por ter seu nome na mesma lista do Ministério do Trabalho. Naquela ocasião, duas filiais do interior paulista e uma subsidiária da companhia, em Goiânia, foram incluídas no cadastro. Em setembro, a MRV reverteu a situação, tirou o nome da lista por meio de liminar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e retomou as linhas de crédito imobiliário da Caixa. A MRV é uma maiores repassadoras de recursos do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida.
(Olivia Alonso e Ana Fernandes|Valor)
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