Queda de demanda da China e problemas com os movimentos sociais podem derrubar altos lucros da Vale
Pedro Carrano
Pedro Carrano
Mina de Carajás, no Pará: Vale possui dívida de R$ 4 bilhões com o Estado brasileiro e mais R$ 30 bilhões com a Receita Federal
É a primeira vez em dez anos que a Vale não vai distribuir dividendos extras a seus acionistas. Ao contrário de 2011, neste ano a mineradora se limitou ao pagamento da segunda parcela de 3 bilhões de dólares de um total de dividendos mínimos de 6 bilhões de dólares que haviam sido aprovados pela diretoria executiva da companhia para o ano de 2012.
Declínio?
Segundo organizações e especialistas, a queda nos resultados da empresa se relaciona com a demanda oriental. "A principal razão da queda das ações da Vale é a instabilidade no mercado do minério, a perspectiva de uma diminuição de consumo de ferro por parte da China e a dependência excessiva, nessa conjuntura, da Vale com a China", analisa Danilo Chammas, da organização Justiça nos Trilhos, que integra o Movimento dos Atingidos pela Vale.
Ferro na alma
Neste contexto, a Vale continua propondo projetos agressivos de expansão. O principal deles se dá na região Norte do Brasil. Na avaliação de Chammas, há uma postura da empresa no sentido de aprovar projetos passando por cima da legislação ambiental. "O risco de ter suas obras paralisadas pelo Poder Judiciário é algo que deve estar preocupando muito a direção da empresa, que deve se esforçar para tranquilizar os acionistas.
A empresa tem investido muitas forças no enfrentamento jurídico e também com uma nova política, inaugurada há cerca de um ano, de incidência sobre os órgãos de licenciamento para conseguir "um processo de licenciamento ambiental muito mais ‘azeitado'", descreve Danilo Chammas, referindo-se à conference call (audioconferência) cedida por Luciano Siani, Diretor Executivo de Finanças e Relações com Investidores, onde teria feito esta referência.
A intencionalidade da Vale na exploração de minério-de-ferro resultou que a maior reserva de minério do planeta, em Eldorado dos Carajás (PA), foi reduzida de 400 para 85 anos de estimativa de exploração, no curto espaço de uma década, sinal do extrativismo intenso na região. De todo o minério exportado em 2010, 70% teve Carajás como origem e a China como destino, como já apontavam informações do Fórum Social Mundial do ano de 2009.
A intenção agora é montar uma infraestrutura cujo destino é o porto de São Luís, no Maranhão. "A Vale está precisando mostrar aos acionistas a força e as perspectivas de novos grandes investimentos de médio prazo", descreve. O maior é a duplicação do Sistema Norte: abertura de uma nova enorme mina (S11D, com potencial de 90 milhões de toneladas ao ano); construção de uma segunda ferrovia de 900 Km ao lado da primeira; um novo ramal ferroviário de 100km e a ampliação do porto de Ponta da Madeira, em São Luís (que já é o porto mais profundo da América Latina), para exportação.
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