Elaine de Azevedo
Diante de tantos equívocos e informações duvidosas veiculados na mídia sobre a qualidade dos orgânicos - se são mais saudáveis, saborosos, mais caros ou nutritivos - vale iniciar uma discussão que aborde, de forma ampla , a relação orgânicos e saúde.
Primeiro de tudo é bom dar uma olhada na definição de Agricultura Orgânica (AO) dentro da legislação brasileira. A Agricultura Orgânica (AO) tem como objetivos a auto-sustentação da propriedade agrícola no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais para o agricultor, a minimização da dependência de energias não renováveis na produção, a oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes que ponham em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente, o respeito à integridade cultural dos agricultores e a preservação da saúde ambiental e humana.
Também é importante lembrar que o alimento orgânico não é somente "sem agrotóxicos" como se veicula normalmente. Além de ser isento de insumos artificiais como os adubos químicos e os agrotóxicos (e isso resulta na isenção de uma infinidade de subprodutos como excesso de nitratos, metais pesados, etc) ele também deve ser isento de drogas veterinárias, hormônios e antibióticos e de organismos geneticamente modificados. Durante o processamento dos alimentos é proibido o uso das radiações ionizantes (que produzem substâncias cancerígenas, como o benzeno e formaldeído) e aditivos químicos sintéticos como corantes, aromatizantes, emulsificantes, entre outros.
A partir da compreensão desses dois conceitos é que podemos iniciar a discutir a relação entre AO e saúde.
A AO, sob a ótica da saúde e qualidade de vida, será abordada, primeiramente na dimensão da saúde humana dentros dos conceitos de toxicidade e valor nutricional e, posteriormente, na dimensão sócio-ambiental e cultural. O termo agricultura (e agropecuária) convencional aqui utilizado refere-se a agropecuária moderna com base em práticas como o uso de agrotóxicos, adubos sintéticos e drogas veterinárias, confinamento animal, engenharia genética, monocultura e mecanização maciça.
A AGRICULTURA ORGÂNICA E A DIMENSÃO DA SAÚDE HUMANA
A nutrição é um dos principais fatores de promoção da saúde humana e da qualidade de vida e são inegáveis as repercussões do modo de produção agrícola sobre o estado geral de saúde da população.
Com relação aos inúmeros contaminantes acima descritos provenientes da agricultura convencional, é muito provável que eles interferem de diversas formas, sobre a saúde humana. Mas é inegável também a complexidade desse efeito a longo prazo, que se relaciona a outras causas ambientais de doença como o uso de cigarro, a poluição do ar e da água, o uso dos plásticos e outros derivados do petróleo amplamente utilizados na nossa sociedade, o sedentarismo, o estresse, etc. Talvez por isso, o uso dessas substâncias tenha sido subestimado pelas autoridades de saúde e cientistas. Muitas vezes, a ciência, diante do incerto e do não comprovado, ignora os riscos.
Muitos dos contaminantes provenientes da agropecuária moderna foram testados em animais, sem informações suficientes e seguras do seu poder cumulativo, do efeito combinado e da mutabilidade e possibilidades de interação desses contaminantes, sem que se possa, desta forma, estabelecer inter-relações precisas e imediatas entre as conseqüências do consumo a longo prazo e as disfunções orgânicas, como as intoxicações diversas, alergias e alguns tipos de câncer.
Além disso, essas substâncias são, muitas vezes, ofertadas em doses acima das recomendadas, com controle precário por parte das autoridades, e combinadas diversamente numa ingestão variada de produtos in natura e industrializados, oferecidos hoje pela produção agropecuária e industrial convencional.
O maior perigo é que as consequências da ingestão destes produtos não aparecem de forma imediata no consumidor. Algumas repercussões teratogênicas, neurológicas, gástricas e ósseas, alergias e intoxicações agudas causadas por aditivos sintéticos e agrotóxicos já são imediatamente associadas ao agente causal. Entretanto, os efeitos cumulativos e mutagênicos destas substâncias que se depositam na gordura do organismo ou exaurem lentamente órgãos com função de desintoxicação não são ainda totalmente conhecidos e devem igualmente preocupar as autoridades de controle sanitário e os especialistas da área da saúde.
Esse quadro deveria tornar a questão do consumo de alimentos orgânicos como uma alternativa, a longo prazo, de minimizar tais efeitos ambientais, assim como a adoção de outras práticas saudáveis. Ninguém pensa que hoje é possível ser saudável somente ingerindo alimentos orgânicos ou fazendo exercícios físicos ou diminuindo o contato com utensílos de plástico. Todas essas decisões, de forma conjunta, fazem parte de conceitos de promoção de qualidade de vida e de consciência ambiental veiculadas pela Organização Mundial da Saúde e órgãos de saúde pública do mundo inteiro e que interferem na nossa saúde como um todo.
O POLÊMICO TEMA DO VALOR NUTRICIONAL DOS ORGÂNICOS COMPARADOS AOS CONVENCIONAIS
Com relação ao valor nutricional dos orgânicos, na análise dos poucos estudos comparativos existentes entre produtos da agricultura convencional e da Agricultura Orgânica, espera-se que os últimos apresentem melhor valor nutricional.
Alguns desses estudos indicam que frutas, verduras e cereais orgânicos contêm mais minerais, aminoácidos, vitamina C, açúcares totais e fitoquímicos, além de maior teor de matéria seca, quando comparados aos convencionais ou àqueles produzidos com a utilização de adubos de síntese química. Para os alimentos de origem animal, provenientes de animais não confinados existem alguns estudos que mostram maior teor de fitoquímicos e de vitamina A, além de um equilíbrio na relação entre os ácidos graxos ômega 3 e 6 nas carnes, leite e ovos desses animais. Tais pesquisas podem ser encontrados em bibliografia abaixo indicada, mas não conseguem acabar com a polêmica questão: os orgânicos são mais nutritivos que os convencionais?
Certamente, muitos fatores e variáveis devem ser considerados nas pesquisas entre alimentos orgânicos e convencionais que tornam difícil comparar os resultados:
O tempo de produção orgânica e do restabelecimento da vida do solo (que vai influenciar diretamente na qualidade do alimento produzido);
O tipo de sistema orgânico utilizado e seu impacto sobre a qualidade do solo (lembrando que a AO não prioriza somente a retirada dos agrotóxicos e insumos, mas é um padrão que interfere em todo o ambiente. Uma horta orgânica na cidade ou no laboratório tem uma produtividade e produz alimentos diferentes daqueles cultivados em um sistema orgânico que considera o restabelecimento da biodiversidade fauna e da flora local);
A variabilidade dos fatores externos no sistema produtivo como a luz solar, a temperatura, a chuva, o armazenamento e o transporte, que influenciam diretamente no conteúdo de nutrientes de plantas.
Outra questão que merece atenção e determina o valor nutricional é o tipo de enfoque para validar o valor nutricional. Pode-se determinar o valor nutricional dos alimentos através do enfoque analítico ou sistêmico:
O analítico, de abordagem calórico-quantitativa, foca principalmente na quantidade dos macronutrientes. Esses são sintetizados a partir da fotossíntese e que, por isso, têm intensa relação com a luz solar (e menos com o solo). São os macronutrientes (carboidratos, gorduras e proteínas) que produzem calorias e que estão presentes em maior quantidade nos alimentos. Os micronutrientes, que não produzem calorias são considerados, mas o enfoque calórico prevalece.
Para determinar o valor nutricional dos alimentos orgânicos, prioriza-se o enfoque sistêmico de avaliação nutricional que considera, além da presença dos macronutrientes, também (e especialmente) a presença de micronutrientes e fitoquímicos considerando que essas substâncias são objetos de grande interesse hoje na Nutrição.
Outro aspecto importante nesse enfoque sistêmico é a sinergia entre os nutrientes do alimento, ou seja, a relação equilibrada entre todos eles, presente no alimento integral. Não é necessariamente importante um alimento ter mais nutriente do que o outro, mas se todos os nutrientes estão presentes no alimento de forma equilibrada e disponível ao organismo.
Por exemplo, em um alimento produzido com grande quantidade de nitrogênio no solo espera-se encontrar mais proteína (pois o nitrogênio é base da molécula de proteína). Isso não quer dizer que ele é mais saudável ou nutritivo. O que difere um alimento industrializado, enriquecido com alto teor de vitamina C, de um copo de suco de laranja natural é exatamente a sinergia que a laranja, como alimento natural, possui. Essa qualidade torna a absorção da vitamina muito mais eficiente e o alimento, mais saudável.
Além disso, o enfoque sistêmico de avaliação nutricional procura avaliar também a qualidade biológica do alimento frente aos efeitos produzidos sobre a saúde do organismo humano (ausência de contaminantes, promoção de fecundidade, resistência às doenças e longevidade). Se o alimento tem um bom valor calórico não significa necessariamente que ele é saudável.
Resumindo: quantidade de caloria não é um bom parâmetro para avaliar qualidade de um alimento! Em tempos de Nutrição Contemporânea a ênfase da pesquisa em Nutrição Funcional está justamente nos elementos que estão em menor quantidade nos alimentos comumente consumidos (os minerais, vitaminas e as substâncias funcionais) e cuja carência tem relação com muitas doenças sérias, como câncer, diabetes e algumas doenças cardiovasculares. Hoje MENOS É MAIS!
De forma geral, acredita-se que os alimentos orgânicos apresentam valor nutricional balanceado (e não necessariamente maior), especialmente no teor de minerais, pois são produzidos a partir de um solo mais rico e equilibrado nesses nutrientes.
Sabe-se que a desmineralização dos solos está relacionada à produção de plantas de baixo teor mineral. A técnica do arado rasgando a terra, importada dos países frios, acaba com os nutrientes do solo, produz plantas débeis e alimentos de baixa qualidade nutricional. As deficiências de nutrientes são cada vez mais comuns e como conseqüência disso, aumentam as doenças carenciais (como osteoporose, anemia, hipovitaminoses) e a saúde humana entra em declínio. Pode-se dizer, que a qualidade do solo reflete e define a saúde de quem ingere os alimentos nele cultivados. Segundo dados do Senado Norte Americano e pesquisas realizadas na Inglaterra e Estados Unidos, o nível de micronutrientes em alimentos vegetais diminuiu de forma alarmante da última metade do século até hoje e grande parte da população está carente em minerais e vitaminas.
Muitos médicos ou nutricionistas hoje apelam às cápsulas vitamínicas e minerais alegando que os alimentos estão "pobres". Ora, em vez de apoiar a indústria química de complementos porque não apoiar uma agricultura que enriquece e equilibra o solo e seu teor de nutrientes? Algumas vezes, a suplementação é importante, por curto prazo e em baixas doses, mas não é nas pílulas que encontramos a saúde que buscamos.
Além disso, se a ciência ainda não consegue comprovar todos os benefícios do orgânico (ou os riscos dos transgênicos, os efeitos da irradiação, dos aditivos sintéticos, etc) então o consumidor e a área da saúde devem aprender a utilizar o principio da precaução. Tal princípio prega que devemos prevenir os riscos e isso implica em não consumir os alimentos ou as tecnologias cujos impactos são imprevisíveis ou desconhecidos. O sério problema de consumir alimentos com alto teor de agrotóxicos, durante todos esses anos, sem pesquisas conclusivas que comprovassem sua inocuidade, tem sido pago com muito sofrimento e segue ainda impune, diante da frágil premissa de que precisamos produzir "mais alimentos". O que nós precisamos é produzir alimentos saudáveis para todos.
Para finalizar esse assunto, apesar da importância de pesquisas comparativas do valor nutricional dos alimentos, esses estudos, por si só, não são capazes de avaliar as condições de saúde das pessoas. Nós precisamos de pesquisas baseadas em marcadores biológicos e/ou clínicos adequados, bem como estudos longitudinais que relacionem dieta, longevidade e qualidade de vida de povos e grupos de pessoas que seguem uma vida equilibrada, incluindo nela alimentos orgânicos.
O texto AO e Saúde socioambiental disponível nesse Portal dá continuidade ao tema, abordando outros conceitos de saúde ampliados pela AO
Primeiro de tudo é bom dar uma olhada na definição de Agricultura Orgânica (AO) dentro da legislação brasileira. A Agricultura Orgânica (AO) tem como objetivos a auto-sustentação da propriedade agrícola no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais para o agricultor, a minimização da dependência de energias não renováveis na produção, a oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes que ponham em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente, o respeito à integridade cultural dos agricultores e a preservação da saúde ambiental e humana.
Também é importante lembrar que o alimento orgânico não é somente "sem agrotóxicos" como se veicula normalmente. Além de ser isento de insumos artificiais como os adubos químicos e os agrotóxicos (e isso resulta na isenção de uma infinidade de subprodutos como excesso de nitratos, metais pesados, etc) ele também deve ser isento de drogas veterinárias, hormônios e antibióticos e de organismos geneticamente modificados. Durante o processamento dos alimentos é proibido o uso das radiações ionizantes (que produzem substâncias cancerígenas, como o benzeno e formaldeído) e aditivos químicos sintéticos como corantes, aromatizantes, emulsificantes, entre outros.
A partir da compreensão desses dois conceitos é que podemos iniciar a discutir a relação entre AO e saúde.
A AO, sob a ótica da saúde e qualidade de vida, será abordada, primeiramente na dimensão da saúde humana dentros dos conceitos de toxicidade e valor nutricional e, posteriormente, na dimensão sócio-ambiental e cultural. O termo agricultura (e agropecuária) convencional aqui utilizado refere-se a agropecuária moderna com base em práticas como o uso de agrotóxicos, adubos sintéticos e drogas veterinárias, confinamento animal, engenharia genética, monocultura e mecanização maciça.
A AGRICULTURA ORGÂNICA E A DIMENSÃO DA SAÚDE HUMANA
A nutrição é um dos principais fatores de promoção da saúde humana e da qualidade de vida e são inegáveis as repercussões do modo de produção agrícola sobre o estado geral de saúde da população.
Com relação aos inúmeros contaminantes acima descritos provenientes da agricultura convencional, é muito provável que eles interferem de diversas formas, sobre a saúde humana. Mas é inegável também a complexidade desse efeito a longo prazo, que se relaciona a outras causas ambientais de doença como o uso de cigarro, a poluição do ar e da água, o uso dos plásticos e outros derivados do petróleo amplamente utilizados na nossa sociedade, o sedentarismo, o estresse, etc. Talvez por isso, o uso dessas substâncias tenha sido subestimado pelas autoridades de saúde e cientistas. Muitas vezes, a ciência, diante do incerto e do não comprovado, ignora os riscos.
Muitos dos contaminantes provenientes da agropecuária moderna foram testados em animais, sem informações suficientes e seguras do seu poder cumulativo, do efeito combinado e da mutabilidade e possibilidades de interação desses contaminantes, sem que se possa, desta forma, estabelecer inter-relações precisas e imediatas entre as conseqüências do consumo a longo prazo e as disfunções orgânicas, como as intoxicações diversas, alergias e alguns tipos de câncer.
Além disso, essas substâncias são, muitas vezes, ofertadas em doses acima das recomendadas, com controle precário por parte das autoridades, e combinadas diversamente numa ingestão variada de produtos in natura e industrializados, oferecidos hoje pela produção agropecuária e industrial convencional.
O maior perigo é que as consequências da ingestão destes produtos não aparecem de forma imediata no consumidor. Algumas repercussões teratogênicas, neurológicas, gástricas e ósseas, alergias e intoxicações agudas causadas por aditivos sintéticos e agrotóxicos já são imediatamente associadas ao agente causal. Entretanto, os efeitos cumulativos e mutagênicos destas substâncias que se depositam na gordura do organismo ou exaurem lentamente órgãos com função de desintoxicação não são ainda totalmente conhecidos e devem igualmente preocupar as autoridades de controle sanitário e os especialistas da área da saúde.
Esse quadro deveria tornar a questão do consumo de alimentos orgânicos como uma alternativa, a longo prazo, de minimizar tais efeitos ambientais, assim como a adoção de outras práticas saudáveis. Ninguém pensa que hoje é possível ser saudável somente ingerindo alimentos orgânicos ou fazendo exercícios físicos ou diminuindo o contato com utensílos de plástico. Todas essas decisões, de forma conjunta, fazem parte de conceitos de promoção de qualidade de vida e de consciência ambiental veiculadas pela Organização Mundial da Saúde e órgãos de saúde pública do mundo inteiro e que interferem na nossa saúde como um todo.
O POLÊMICO TEMA DO VALOR NUTRICIONAL DOS ORGÂNICOS COMPARADOS AOS CONVENCIONAIS
Com relação ao valor nutricional dos orgânicos, na análise dos poucos estudos comparativos existentes entre produtos da agricultura convencional e da Agricultura Orgânica, espera-se que os últimos apresentem melhor valor nutricional.
Alguns desses estudos indicam que frutas, verduras e cereais orgânicos contêm mais minerais, aminoácidos, vitamina C, açúcares totais e fitoquímicos, além de maior teor de matéria seca, quando comparados aos convencionais ou àqueles produzidos com a utilização de adubos de síntese química. Para os alimentos de origem animal, provenientes de animais não confinados existem alguns estudos que mostram maior teor de fitoquímicos e de vitamina A, além de um equilíbrio na relação entre os ácidos graxos ômega 3 e 6 nas carnes, leite e ovos desses animais. Tais pesquisas podem ser encontrados em bibliografia abaixo indicada, mas não conseguem acabar com a polêmica questão: os orgânicos são mais nutritivos que os convencionais?
Certamente, muitos fatores e variáveis devem ser considerados nas pesquisas entre alimentos orgânicos e convencionais que tornam difícil comparar os resultados:
O tempo de produção orgânica e do restabelecimento da vida do solo (que vai influenciar diretamente na qualidade do alimento produzido);
O tipo de sistema orgânico utilizado e seu impacto sobre a qualidade do solo (lembrando que a AO não prioriza somente a retirada dos agrotóxicos e insumos, mas é um padrão que interfere em todo o ambiente. Uma horta orgânica na cidade ou no laboratório tem uma produtividade e produz alimentos diferentes daqueles cultivados em um sistema orgânico que considera o restabelecimento da biodiversidade fauna e da flora local);
A variabilidade dos fatores externos no sistema produtivo como a luz solar, a temperatura, a chuva, o armazenamento e o transporte, que influenciam diretamente no conteúdo de nutrientes de plantas.
Outra questão que merece atenção e determina o valor nutricional é o tipo de enfoque para validar o valor nutricional. Pode-se determinar o valor nutricional dos alimentos através do enfoque analítico ou sistêmico:
O analítico, de abordagem calórico-quantitativa, foca principalmente na quantidade dos macronutrientes. Esses são sintetizados a partir da fotossíntese e que, por isso, têm intensa relação com a luz solar (e menos com o solo). São os macronutrientes (carboidratos, gorduras e proteínas) que produzem calorias e que estão presentes em maior quantidade nos alimentos. Os micronutrientes, que não produzem calorias são considerados, mas o enfoque calórico prevalece.
Para determinar o valor nutricional dos alimentos orgânicos, prioriza-se o enfoque sistêmico de avaliação nutricional que considera, além da presença dos macronutrientes, também (e especialmente) a presença de micronutrientes e fitoquímicos considerando que essas substâncias são objetos de grande interesse hoje na Nutrição.
Outro aspecto importante nesse enfoque sistêmico é a sinergia entre os nutrientes do alimento, ou seja, a relação equilibrada entre todos eles, presente no alimento integral. Não é necessariamente importante um alimento ter mais nutriente do que o outro, mas se todos os nutrientes estão presentes no alimento de forma equilibrada e disponível ao organismo.
Por exemplo, em um alimento produzido com grande quantidade de nitrogênio no solo espera-se encontrar mais proteína (pois o nitrogênio é base da molécula de proteína). Isso não quer dizer que ele é mais saudável ou nutritivo. O que difere um alimento industrializado, enriquecido com alto teor de vitamina C, de um copo de suco de laranja natural é exatamente a sinergia que a laranja, como alimento natural, possui. Essa qualidade torna a absorção da vitamina muito mais eficiente e o alimento, mais saudável.
Além disso, o enfoque sistêmico de avaliação nutricional procura avaliar também a qualidade biológica do alimento frente aos efeitos produzidos sobre a saúde do organismo humano (ausência de contaminantes, promoção de fecundidade, resistência às doenças e longevidade). Se o alimento tem um bom valor calórico não significa necessariamente que ele é saudável.
Resumindo: quantidade de caloria não é um bom parâmetro para avaliar qualidade de um alimento! Em tempos de Nutrição Contemporânea a ênfase da pesquisa em Nutrição Funcional está justamente nos elementos que estão em menor quantidade nos alimentos comumente consumidos (os minerais, vitaminas e as substâncias funcionais) e cuja carência tem relação com muitas doenças sérias, como câncer, diabetes e algumas doenças cardiovasculares. Hoje MENOS É MAIS!
De forma geral, acredita-se que os alimentos orgânicos apresentam valor nutricional balanceado (e não necessariamente maior), especialmente no teor de minerais, pois são produzidos a partir de um solo mais rico e equilibrado nesses nutrientes.
Sabe-se que a desmineralização dos solos está relacionada à produção de plantas de baixo teor mineral. A técnica do arado rasgando a terra, importada dos países frios, acaba com os nutrientes do solo, produz plantas débeis e alimentos de baixa qualidade nutricional. As deficiências de nutrientes são cada vez mais comuns e como conseqüência disso, aumentam as doenças carenciais (como osteoporose, anemia, hipovitaminoses) e a saúde humana entra em declínio. Pode-se dizer, que a qualidade do solo reflete e define a saúde de quem ingere os alimentos nele cultivados. Segundo dados do Senado Norte Americano e pesquisas realizadas na Inglaterra e Estados Unidos, o nível de micronutrientes em alimentos vegetais diminuiu de forma alarmante da última metade do século até hoje e grande parte da população está carente em minerais e vitaminas.
Muitos médicos ou nutricionistas hoje apelam às cápsulas vitamínicas e minerais alegando que os alimentos estão "pobres". Ora, em vez de apoiar a indústria química de complementos porque não apoiar uma agricultura que enriquece e equilibra o solo e seu teor de nutrientes? Algumas vezes, a suplementação é importante, por curto prazo e em baixas doses, mas não é nas pílulas que encontramos a saúde que buscamos.
Além disso, se a ciência ainda não consegue comprovar todos os benefícios do orgânico (ou os riscos dos transgênicos, os efeitos da irradiação, dos aditivos sintéticos, etc) então o consumidor e a área da saúde devem aprender a utilizar o principio da precaução. Tal princípio prega que devemos prevenir os riscos e isso implica em não consumir os alimentos ou as tecnologias cujos impactos são imprevisíveis ou desconhecidos. O sério problema de consumir alimentos com alto teor de agrotóxicos, durante todos esses anos, sem pesquisas conclusivas que comprovassem sua inocuidade, tem sido pago com muito sofrimento e segue ainda impune, diante da frágil premissa de que precisamos produzir "mais alimentos". O que nós precisamos é produzir alimentos saudáveis para todos.
Para finalizar esse assunto, apesar da importância de pesquisas comparativas do valor nutricional dos alimentos, esses estudos, por si só, não são capazes de avaliar as condições de saúde das pessoas. Nós precisamos de pesquisas baseadas em marcadores biológicos e/ou clínicos adequados, bem como estudos longitudinais que relacionem dieta, longevidade e qualidade de vida de povos e grupos de pessoas que seguem uma vida equilibrada, incluindo nela alimentos orgânicos.
O texto AO e Saúde socioambiental disponível nesse Portal dá continuidade ao tema, abordando outros conceitos de saúde ampliados pela AO
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