Medidas de incentivo ao setor nos últimos três anos contribuíram ainda para remessa de lucro ao exterior de US$ 14,6 bi pelas montadoras
IURI DANTAS
IURI DANTAS
Lobby. A ajuda a conta-gotas, em vez de políticas de longo prazo para tornar a indústria nacional mais competitiva, reflete o lobby de alguns setores viciados em receber auxílio estatal, diz Gabriel Leal de Barros, especialista em crédito público do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
"A indústria automotiva do Brasil tem 60 anos e a da Coreia do Sul, 35, e eles são tão mais competitivos que o consumidor consegue perceber isso simplesmente entrando no carro", afirma Barros, que defende reformas econômicas e investimentos em infraestrutura para reduzir custos da indústria.
Os dados mostram que o País "abre mão de muita coisa para atender aos interesses desse setor, a um custo enorme", diz Julio Miragaia, coordenador de Políticas Econômicas do Conselho Federal de Economia. "Provavelmente, a maior parte da desoneração tenha sido enviada na forma de lucros para o exterior."
Se houve queda no preço ao consumidor, a política do governo não estimulou a concorrência, segundo o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento. "Os dados demonstram que o regime beneficiou mais as empresas tradicionalmente instaladas do que a entrada de novos concorrentes, o que seria a intenção original."
Para Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o automóvel representa "o bem típico da indústria capitalista", por significar aos olhos do consumidor "ascensão social e liberdade". Além disso, ao cortar impostos das montadoras, o governo acaba beneficiando uma imensa cadeia de empregos.
"Não existe cadeia produtiva mais perfeita, intensa, longa e encadeada que a da indústria automobilística", diz Almeida, citando empregos na fabricação de aço, borracha, plástico, componentes eletrônicos, autopeças, venda de seguro, financiamento e manutenção como exemplos.
Prejuízo. Indagado sobre a necessidade de estímulo estatal em meio à crise internacional, o professor de economia da Fundação Dom Cabral, Rodrigo Zeidan, afirma que "uma crise traz prejuízo e pronto". "As políticas de renúncia fiscal devem ser estruturadas para o longo prazo e não apenas para resolver problemas de altos estoques. O que importa para a sociedade são investimentos que geram empregos no futuro."
A reportagem questionou insistentemente os Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) para comentar o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
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