Olimpíadas 2012: terrorismo e transporte preocupam Londres
As duas preocupações centrais das autoridades britânicas, com os Jogos Olímpicos que iniciam dia 27 de julho, são terrorismo e transporte. A reação das autoridades britânicas tem sido qualificada de draconiana e inclui a instalação de mísseis antiaéreos em áreas residenciais.O prefeito reeleito de Londres, o conservador Boris Johnson, escreveu recentemente à ministra do Interior, Theresa May, queixando-se da demora de até três horas nos aeroportos que “estão criando uma terrível imagem do Reino Unido na véspera dos jogos olímpicos”. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.
Marcelo Justo - Londres
Londres - Em meio à crise econômica mundial, os jogos olímpicos começam oficialmente dia 27 de julho. Em uma Europa convulsionada, com o Reino Unido mergulhado em sua segunda recessão em três anos, o primeiro ministro David Cameron prometeu que vai converter esses jogos em ouro puro. A aposta é o impacto positivo do turismo e dos investimentos em infraestrutura. “Estou seguro que podemos ganhar cerca de 13 bilhões de libras (22 bilhões de dólares, aproximadamente) como resultado destes jogos”, assinalou Cameron.
Apesar do draconiano plano de ajuste governamental, que contempla um corte do gasto estatal equivalente a 130 bilhões de dólares em cinco anos, o governo assegurou que as Olimpíadas de Londres 2012 não serão como os jogos celebrados no Reino Unido, em 1948, apelidados de Jogos da Austeridade, pelas terríveis condições do pós-guerra. Os números são claros. Calcula-se que o investimento final destes jogos rondará os 15 bilhões de dólares: cerca de 0,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Em comparação, em 1948, o gasto foi de 0,01% do PIB.
Segundo o Escritório de Turismo Britânico, o Reino Unido receberá 14.700 participantes, 120 chefes de Estado, 22 mil periodistas e cerca de 320 mil turistas. Com esses números exorbitantes no horizonte, o setor hoteleiro, o de restaurantes, o de roupas e souvernirs esperam fazer seu melhor agosto. Um estudo do Banco Lloyds prevê lucros superiores aos esperados pelo primeiro ministro: 16,5 bilhões de libras (cerca de 28 bilhões de dólares).
No entanto, segundo o especialista em economia e esportes da Cass Business School de Londres, Peter Grant, não há razões para pensar que as Olimpíadas ajudarão a levantar a economia em seu conjunto. “Não há nenhuma prova de que eventos desportivos como os jogos olímpicos ou as copas mundiais de futebol favoreçam uma economia. Os estudos feitos a respeito são bem claros. A ideia de regenerar uma parte da cidade, como está se fazendo com o leste de Londres, gera um indiscutível benefício econômico, mas não se deve aos jogos. Poderia ter sido feito simplesmente investindo dinheiro nesta obra”, explica Grant.
As Olimpíadas de Atenas em 2004 são um exemplo do impacto prejudicial que os jogos podem ter sobre uma economia. O evento custou mais de 11 bilhões de dólares. O governo investiu cerca de 3 bilhões de dólares em construção e melhorias de centros desportivos, o resto em transporte e infraestrutura. Um ano mais tarde, o déficit fiscal grego havia disparado para 4% e o crescimento econômico caído de 4,2% para 2,8%. Cinco anos mais tarde, a crise se tornou estrutural e a Grécia teve que ser resgatada pelos países da eurozona e pelo Fundo Monetário Internacional.
Uma questão de imagem
Apesar desses dados, o especialista da Cass Business School de Londres acredita que os jogos olímpicos podem ter um pacto positivo. “Não se pode falar de benefícios em termos puramente econômicos. É preciso pensar em termos políticos, sociais, de projeção global. O impacto que tem para a imagem nacional e o posicionamento em nível global de um país é muito importante. Pode-se dizer que um país que pode organizar um evento desta magnitude é uma nação organizada com projeção mundial. É o que quer um país como o Brasil que buscará consolidar seu novo lugar no concerto de nações com o próximo mundial de futebol e os jogos olímpicos”, assinalou Grant.
Os britânicos têm uma visão similar sobre os benefícios que os jogos olímpicos podem trazer. Uma pesquisa popular no site Voxpops mostrou que somente 21% não consideram os jogos como uma grande oportunidade econômica. Cerca de 7% disse que se tratava de um desperdício de dinheiro, mas a grande maioria (71%) reivindicava os jogos como uma questão de orgulho nacional.
“Pode ser que beneficie a economia de Londres, mas isso não é o mais importante. Temos que mostrar ao mundo que podemos fazê-lo muito bem. Se uma economia desenvolvida como a nossa não pode realizar os jogos olímpicos quer dizer que estamos muito mal”, resumiu Helen Ward. uma das pessoas que responderam à pesquisa.
Essa projeção política e mundial foi muito clara em alguns casos sinistros e emblemáticos. A ditadura militar argentina usou a Copa do Mundo de 1978 para tentar unificar a nação e projetar uma imagem internacional que apagasse do mapa as violações aos direitos humanos. Os jogos Olímpicos de Munique, em 1936, sob o governo nazista, foram outro caso flagrante de utilização política de um evento esportivo.
Em um marco democrático, a coalizão conservadora-liberal democrata espera injetar uma certa dose de otimismo no humor dos consumidores, afetado hoje em dia pela queda do poder aquisitivo dos últimos quatro anos (a pior queda do nível de vida desde o pós-guerra) e pela ameaça de perda de emprego. Essa aposta de aumentar o prestígio internacional e unificar a população mediante um grande evento que eleve a autoestima nacional tem seu risco. “O perigo é que os jogos olímpicos não saiam bem, que a imagem internacional fique no chão e haja uma espécie de confirmação pela negativa de que as coisas não estão nada bem. Neste sentido, os dois grandes perigos são o terrorismo e o transporte”, assinala Grant.
Sobre terroristas e bombas
O temor de atentados terroristas paira sobre a maioria dos grandes eventos esportivos que dedicam gigantescos orçamentos para garantir a segurança do público e dos participantes. Os jogos olímpicos de Munique, em 1972, marchava às mil maravilhas, até que irrompeu o conflito entre Israel e Palestina. Hoje, esse evento é lembrado pelo sequestro e assassinato de 11 atletas da equipe de Israel nas mãos do Setembro Negro. Os recordes desportivos e a organização do evento caíram no esquecimento.
A reação das autoridades britânicas tem sido qualificada de draconiana. Em julho, o Alto Tribunal de Londres rejeitou o recurso apresentado pelos moradores do bairro de Leytonstone que queriam impedir a instalação de mísseis antiaéreos no telhado da torre de Fred Wigg, um edifício de 17 andares: há outros cinco lugares de instalação de mísseis antiaéreos para os jogos olímpicos.
No dia 10 de julho três homens compareceram ante à Corte acusados de planejar atos terroristas. No dia anterior, a polícia havia detido seis pessoas em uma casa perto de uma das sedes dos jogos, apreendendo granadas de fumaça. Na semana anterior, houve 14 prisões e uma situação quase cômica na qual a polícia fechou uma das rotas principais da Inglaterra pela atividade suspeita detectada em um ônibus. Essa atividade não foi outra coisa que um cigarro eletrônico.
Londres tem uma longa experiência com o tema. O temor a atentados do Exército Republicano Irlandês (IRA) dominou a vida da capital durante os anos 80 e 90. Os atentados suicidas contra o transporte público no dia 7 de julho de 2005 marcaram os londrinos e causaram o aumento das operações antiterroristas. As autoridades parecem estar se preparando para o impensável. Em maio, a Real Força Aérea utilizou jatos Typhoon em uma base aérea do oeste de Londres para um exercício militar preparatório aos jogos olímpicos. “Este exercício é para levar nosso pessoal e sua organização até o limite, de modo de que estejam prontos para qualquer eventualidade”, explicou o ministro da Defesa, Philip Hammond.
As medidas de segurança correm o risco de levar ao limite o próprio conjunto da sociedade. A polícia, por exemplo, está autorizada a dispersar grupos de duas ou mais pessoas que se encontrem nas imediações dos jogos olímpicos. Os críticos assinalam que a introdução destas “Olympics Dispersal Zone” é muito similar a que se viveu nos últimos jogos olímpicos em Beijing. “Não é o que se se espera em uma sociedade supostamente livre e democrática”, disse Claire Laker-Mansfield, organizadora de manifestações contra essas medidas.
Sobre como chegar aos jogos olímpicos
Em nível de transporte, os britânicos estão muito menos preparados. O prefeito reeleito de Londres, o conservador Boris Johnson, escreveu recentemente à ministra do Interior, Theresa May, queixando-se da demora de até três horas nos aeroportos que “estão criando uma terrível imagem do Reino Unido na véspera dos jogos olímpicos”.
O impacto dos cortes orçamentários adotados pela coalizão no governo para lidar com o déficit fiscal é evidente. Em abril, uma comissão parlamentar alertou que os recursos para a Agência de Fronteiras do Reino Unido não bastavam para cobrir todos os postos de imigração. Uma força de trabalho descontente agrava o problema. No dia 10 de maio, os quatro mil trabalhadores da Agência se somaram a uma greve de servidores públicos pela reforma de seu sistema de aposentadoria. “É um perigo muito sério. Uma lembrança que ficou grava a respeito dos jogos olímpicos de Atlanta em 1996 foi sobre os problemas de transporte que, em alguns casos, impediram os atletas de chegar a seus compromissos”, assinala Grant.
Os aeroportos não são a única preocupação. Em Londres, diariamente dois milhões de pessoas confluem nas principais estações de trens e cerca de 3 milhões de passageiros utilizam o trem subterrâneo. Esse sistema está em condições de receber 340 mil visitantes adicionais? Recentemente, um cidadão londrino, resignado em viajar em um vagão de metrô lotado de gente, comentava com outro passageiro: “imagine o que vai ser quando chegarem os jogos olímpicos”.
Olimpíadas e mão de ferro
A imagem internacional que será projetada pelos jogos olímpicos dependerá em grande medida de algumas zonas chave da capital inglesa. Em Stratford, leste da capital, onde se encontra o Parque Olímpico, sede do evento, a polícia lançou uma operação de segurança para “limpar” a região de pessoas consideradas “antissociais”: prostitutas, mendigos, jovens revoltosos. Cerca de 80 bordeis que funcionavam na zona, que gira em torno de um dos principais terminais ferroviários da capital, foram fechados nos últimos meses.
Segundo o conservador Daily Mail, uma espécie de guardião da sempre latente moral vitoriana britânica, a capital está ameaçada por uma inundação de batedores de carteira e prostitutas durante as Olimpíadas.
A polícia negou que essas operações estejam ligadas aos jogos olímpicos. No entanto, essa busca de uma Londres de cartão postal, livre de “indesejáveis”, procurou acusações de “limpeza social”. Em abril, o município responsável pela zona do Parque Olímpico revelou que estava buscando alojamento para cerca de 32 mil famílias das listas de espera para habitações sociais.
O diretor executivo de Shelter, uma organização que defende os direitos dos sem teto, disse que as Olimpíadas estavam agravando uma situação crítica de habitação. “Centenas de famílias estão sendo obrigadas a mudar de região. O papel do governo não deve ser o de erradicar essas famílias para que não sejam vistas. Sua responsabilidade é que estas pessoas tenham uma moradia, disse o diretor da organização”, Campbell Robb.
Tradução: Katarina Peixoto
Apesar do draconiano plano de ajuste governamental, que contempla um corte do gasto estatal equivalente a 130 bilhões de dólares em cinco anos, o governo assegurou que as Olimpíadas de Londres 2012 não serão como os jogos celebrados no Reino Unido, em 1948, apelidados de Jogos da Austeridade, pelas terríveis condições do pós-guerra. Os números são claros. Calcula-se que o investimento final destes jogos rondará os 15 bilhões de dólares: cerca de 0,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Em comparação, em 1948, o gasto foi de 0,01% do PIB.
Segundo o Escritório de Turismo Britânico, o Reino Unido receberá 14.700 participantes, 120 chefes de Estado, 22 mil periodistas e cerca de 320 mil turistas. Com esses números exorbitantes no horizonte, o setor hoteleiro, o de restaurantes, o de roupas e souvernirs esperam fazer seu melhor agosto. Um estudo do Banco Lloyds prevê lucros superiores aos esperados pelo primeiro ministro: 16,5 bilhões de libras (cerca de 28 bilhões de dólares).
No entanto, segundo o especialista em economia e esportes da Cass Business School de Londres, Peter Grant, não há razões para pensar que as Olimpíadas ajudarão a levantar a economia em seu conjunto. “Não há nenhuma prova de que eventos desportivos como os jogos olímpicos ou as copas mundiais de futebol favoreçam uma economia. Os estudos feitos a respeito são bem claros. A ideia de regenerar uma parte da cidade, como está se fazendo com o leste de Londres, gera um indiscutível benefício econômico, mas não se deve aos jogos. Poderia ter sido feito simplesmente investindo dinheiro nesta obra”, explica Grant.
As Olimpíadas de Atenas em 2004 são um exemplo do impacto prejudicial que os jogos podem ter sobre uma economia. O evento custou mais de 11 bilhões de dólares. O governo investiu cerca de 3 bilhões de dólares em construção e melhorias de centros desportivos, o resto em transporte e infraestrutura. Um ano mais tarde, o déficit fiscal grego havia disparado para 4% e o crescimento econômico caído de 4,2% para 2,8%. Cinco anos mais tarde, a crise se tornou estrutural e a Grécia teve que ser resgatada pelos países da eurozona e pelo Fundo Monetário Internacional.
Uma questão de imagem
Apesar desses dados, o especialista da Cass Business School de Londres acredita que os jogos olímpicos podem ter um pacto positivo. “Não se pode falar de benefícios em termos puramente econômicos. É preciso pensar em termos políticos, sociais, de projeção global. O impacto que tem para a imagem nacional e o posicionamento em nível global de um país é muito importante. Pode-se dizer que um país que pode organizar um evento desta magnitude é uma nação organizada com projeção mundial. É o que quer um país como o Brasil que buscará consolidar seu novo lugar no concerto de nações com o próximo mundial de futebol e os jogos olímpicos”, assinalou Grant.
Os britânicos têm uma visão similar sobre os benefícios que os jogos olímpicos podem trazer. Uma pesquisa popular no site Voxpops mostrou que somente 21% não consideram os jogos como uma grande oportunidade econômica. Cerca de 7% disse que se tratava de um desperdício de dinheiro, mas a grande maioria (71%) reivindicava os jogos como uma questão de orgulho nacional.
“Pode ser que beneficie a economia de Londres, mas isso não é o mais importante. Temos que mostrar ao mundo que podemos fazê-lo muito bem. Se uma economia desenvolvida como a nossa não pode realizar os jogos olímpicos quer dizer que estamos muito mal”, resumiu Helen Ward. uma das pessoas que responderam à pesquisa.
Essa projeção política e mundial foi muito clara em alguns casos sinistros e emblemáticos. A ditadura militar argentina usou a Copa do Mundo de 1978 para tentar unificar a nação e projetar uma imagem internacional que apagasse do mapa as violações aos direitos humanos. Os jogos Olímpicos de Munique, em 1936, sob o governo nazista, foram outro caso flagrante de utilização política de um evento esportivo.
Em um marco democrático, a coalizão conservadora-liberal democrata espera injetar uma certa dose de otimismo no humor dos consumidores, afetado hoje em dia pela queda do poder aquisitivo dos últimos quatro anos (a pior queda do nível de vida desde o pós-guerra) e pela ameaça de perda de emprego. Essa aposta de aumentar o prestígio internacional e unificar a população mediante um grande evento que eleve a autoestima nacional tem seu risco. “O perigo é que os jogos olímpicos não saiam bem, que a imagem internacional fique no chão e haja uma espécie de confirmação pela negativa de que as coisas não estão nada bem. Neste sentido, os dois grandes perigos são o terrorismo e o transporte”, assinala Grant.
Sobre terroristas e bombas
O temor de atentados terroristas paira sobre a maioria dos grandes eventos esportivos que dedicam gigantescos orçamentos para garantir a segurança do público e dos participantes. Os jogos olímpicos de Munique, em 1972, marchava às mil maravilhas, até que irrompeu o conflito entre Israel e Palestina. Hoje, esse evento é lembrado pelo sequestro e assassinato de 11 atletas da equipe de Israel nas mãos do Setembro Negro. Os recordes desportivos e a organização do evento caíram no esquecimento.
A reação das autoridades britânicas tem sido qualificada de draconiana. Em julho, o Alto Tribunal de Londres rejeitou o recurso apresentado pelos moradores do bairro de Leytonstone que queriam impedir a instalação de mísseis antiaéreos no telhado da torre de Fred Wigg, um edifício de 17 andares: há outros cinco lugares de instalação de mísseis antiaéreos para os jogos olímpicos.
No dia 10 de julho três homens compareceram ante à Corte acusados de planejar atos terroristas. No dia anterior, a polícia havia detido seis pessoas em uma casa perto de uma das sedes dos jogos, apreendendo granadas de fumaça. Na semana anterior, houve 14 prisões e uma situação quase cômica na qual a polícia fechou uma das rotas principais da Inglaterra pela atividade suspeita detectada em um ônibus. Essa atividade não foi outra coisa que um cigarro eletrônico.
Londres tem uma longa experiência com o tema. O temor a atentados do Exército Republicano Irlandês (IRA) dominou a vida da capital durante os anos 80 e 90. Os atentados suicidas contra o transporte público no dia 7 de julho de 2005 marcaram os londrinos e causaram o aumento das operações antiterroristas. As autoridades parecem estar se preparando para o impensável. Em maio, a Real Força Aérea utilizou jatos Typhoon em uma base aérea do oeste de Londres para um exercício militar preparatório aos jogos olímpicos. “Este exercício é para levar nosso pessoal e sua organização até o limite, de modo de que estejam prontos para qualquer eventualidade”, explicou o ministro da Defesa, Philip Hammond.
As medidas de segurança correm o risco de levar ao limite o próprio conjunto da sociedade. A polícia, por exemplo, está autorizada a dispersar grupos de duas ou mais pessoas que se encontrem nas imediações dos jogos olímpicos. Os críticos assinalam que a introdução destas “Olympics Dispersal Zone” é muito similar a que se viveu nos últimos jogos olímpicos em Beijing. “Não é o que se se espera em uma sociedade supostamente livre e democrática”, disse Claire Laker-Mansfield, organizadora de manifestações contra essas medidas.
Sobre como chegar aos jogos olímpicos
Em nível de transporte, os britânicos estão muito menos preparados. O prefeito reeleito de Londres, o conservador Boris Johnson, escreveu recentemente à ministra do Interior, Theresa May, queixando-se da demora de até três horas nos aeroportos que “estão criando uma terrível imagem do Reino Unido na véspera dos jogos olímpicos”.
O impacto dos cortes orçamentários adotados pela coalizão no governo para lidar com o déficit fiscal é evidente. Em abril, uma comissão parlamentar alertou que os recursos para a Agência de Fronteiras do Reino Unido não bastavam para cobrir todos os postos de imigração. Uma força de trabalho descontente agrava o problema. No dia 10 de maio, os quatro mil trabalhadores da Agência se somaram a uma greve de servidores públicos pela reforma de seu sistema de aposentadoria. “É um perigo muito sério. Uma lembrança que ficou grava a respeito dos jogos olímpicos de Atlanta em 1996 foi sobre os problemas de transporte que, em alguns casos, impediram os atletas de chegar a seus compromissos”, assinala Grant.
Os aeroportos não são a única preocupação. Em Londres, diariamente dois milhões de pessoas confluem nas principais estações de trens e cerca de 3 milhões de passageiros utilizam o trem subterrâneo. Esse sistema está em condições de receber 340 mil visitantes adicionais? Recentemente, um cidadão londrino, resignado em viajar em um vagão de metrô lotado de gente, comentava com outro passageiro: “imagine o que vai ser quando chegarem os jogos olímpicos”.
Olimpíadas e mão de ferro
A imagem internacional que será projetada pelos jogos olímpicos dependerá em grande medida de algumas zonas chave da capital inglesa. Em Stratford, leste da capital, onde se encontra o Parque Olímpico, sede do evento, a polícia lançou uma operação de segurança para “limpar” a região de pessoas consideradas “antissociais”: prostitutas, mendigos, jovens revoltosos. Cerca de 80 bordeis que funcionavam na zona, que gira em torno de um dos principais terminais ferroviários da capital, foram fechados nos últimos meses.
Segundo o conservador Daily Mail, uma espécie de guardião da sempre latente moral vitoriana britânica, a capital está ameaçada por uma inundação de batedores de carteira e prostitutas durante as Olimpíadas.
A polícia negou que essas operações estejam ligadas aos jogos olímpicos. No entanto, essa busca de uma Londres de cartão postal, livre de “indesejáveis”, procurou acusações de “limpeza social”. Em abril, o município responsável pela zona do Parque Olímpico revelou que estava buscando alojamento para cerca de 32 mil famílias das listas de espera para habitações sociais.
O diretor executivo de Shelter, uma organização que defende os direitos dos sem teto, disse que as Olimpíadas estavam agravando uma situação crítica de habitação. “Centenas de famílias estão sendo obrigadas a mudar de região. O papel do governo não deve ser o de erradicar essas famílias para que não sejam vistas. Sua responsabilidade é que estas pessoas tenham uma moradia, disse o diretor da organização”, Campbell Robb.
Tradução: Katarina Peixoto
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