quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

ILAÇÕES DE UM CAFEICULTOR MENTECAPTO




Tenho participado, nos últimos dias, da Rede Social do Café com a intenção de provocaros debates esclarecedores sobre o mercado, pois não sou apenas expectador, mas também produtor, e sinto os problemas da atividade.
O estímulo advindo do aumento de preços, irreal e fora de contexto, como o que ocorreu em 2010/11, foi apenas uma forma encontrada pelos que se jactam detentores dasgalinhas dos ovos de ouro de promover-lhes a sobrevivência, após mais de uma década de sufoco. Não estava nem está faltando café no mundo. Mas poderia faltar. Tudo não passou de “um agrado”, pra não deixar a ave ficar fraca demais.
Como consequência, as maravilhas apregoadas para os próximos anos pelos grandes entendidos da própria cadeia produtora, sem fundamento técnico, levaram os cafeicultores a investir desvairadamente nas lavouras, o que não é de todo errado quando se faz com sensatez, e pior, a ampliar as plantações.
Entretanto, a máxima "quem não tem competência não se estabelece" é imortal.
Foi o suficiente pra deixar a galinhada assanhada, o que resultou no que temos hoje, grande desalento sem retorno, até que o ciclo se complete e tudo recomece. Os pouco eficientes – hoje, todo aquele que produz menos de 30 sacas de café limpo por hectare - tiveram sobrevida. E não pela competência, os excessivos volumes de café no mundo voltaram. Agora não adianta o produtor reclamar, esbravejar e ser arrogante. Bravatas não vão afetar os reis do mercado.
Tudo isso é bom para todos que comercializam e processam café e para os produtores de insumos.
E quando analistas sensatos se dispõem a falar são denegridos por alguns produtores e mesmo ameaçados, como relatou um deles.   
Nestes momentos de euforia de preços, haja produtos novos e miraculosos no mercado e produtores desejosos de se tornar mais atualizados e tecnicamente mais eficientescom o seu uso, como se isso fosse a solução. Mas todo cuidado é pouco, já que milagres nesta área são raros.
Apenas quanto aos defensivos, mudanças frequentes podem até fazer sentido, pois pragas e doenças costumam se adaptar muito rapidamente, tornando-se resistentes a aplicações continuadas do mesmo produto.
Há que se considerar que o cafeeiro continua sendo quase o mesmo nos últimos 50 anos, mantendo suas necessidades fisiológicas básicas. Diz-se quase, porque o melhoramento genético o tem modificado um pouco nos últimos anos. O “novo café” pode até ser mais produtivo, mas, infelizmente, as sensibilidades ao clima e as exigências nutricionais são, em geral, maiores. Esta parece ser uma regra biológica universal: maior capacidade reprodutiva menor capacidade de sobrevivência.
E para complicar, o clima está se tornando mais agressivo e pouco se pode fazer a respeito no momento, a não ser mitigar seus efeitos nocivos com arborização, irrigação, fertilização mais equilibrada - o que não significa apenas aumentar os adubos seja no solo ou na folha.
Aliás, tem-se insistido há muito tempo no uso de doses exageradas de nutrientes, que, ou aumentam a vegetação, ficando a lavoura bela, mas pouco produtiva, ou modificam a razão folha/fruto, com a maior carga de frutos, podendo acentuar o depauperamento da planta durante seca e temperatura mais alta. É complicado, não? Do tipo se correr o bicho pega se ficar ele come. Mas nada que um técnico competente não possa equacionar.
Não se mencionou ainda o aspecto da qualidade, outro calcanhar de Aquiles da cafeicultura O mercado está a exigir qualidade. Certíssimo, nada contra, e o cafeicultor tem, em geral, prazer em afirmá-la. Mas, além de satisfazer o ego, o que ele tem ganhado com isto, com as devidas exceções? Não tem sido possível estabelecer uma equação geral, e os princípios da oferta e da procura comandam o espetáculo.
Por exemplo, em 2011 o café Rio foi vendido a R$ 330 enquanto o CD de boa qualidade por R$ 550 ou mais. Hoje, o Rio vai por R$ 280 e o mesmo CD não passa de R$ 350. Quem acreditou no conto da Carochinha está se dando mal! Apenas um modo de ver a coisa: pode ficar pior!
Quase tudo sobre o que se falou até agora tem a ver com os custos de produção, e isto pode resultar em lucro ou prejuízo, fracasso ou êxito! Mas, esse problema pode ser perfeitamente modulado pelo produtor, com assistência adequada. Estes são aspectos intra-porteira, e plenamente possíveis de serem manipulados pelo produtor com o uso de tecnologia própria. Reafirmo: quando se tem clima e solo adequados, até a cafeicultura na montanha dá lucro; tudo depende do manejo.
Alguém poderia questionar: Mas há tecnologia? A tecnologia abunda e de longuíssima data. O que está faltando mesmo é levá-la ao produtor. Este sim é o aspecto mais importante que deveria ser cobrado dos GOVERNOS, estadual e federal. Pois, só alguns privilegiados, que podem pagar, têm acesso ela e, mesmo aqui, podem surgir imprevistos caros. Aquele que presta a assistência técnica pode estar vinculado a alguma empresa de insumos, por exemplo, e fica fácil concluir sobre as consequências nefastas.
Agricultura é risco mesmo. E não é só chuva de pedra, seca, geada, roubo etc. O mercado também. Um seguro bem bolado e honesto para a produção é outra coisa que se deve exigir dos GOVERNANTES.
Quanto ao mercado só nos restam os hedges, e o mercado de opções é uma boa saída. Já disse várias vezes e repito, não entendo dessas coisas, mas há mais de 10 anos especialistas aconselham-me a usá-las. Não direi mais nada a não ser sugerir que leiam o que escreveram os especialistas aqui neste sítio.
Para concluir, pretendo voltar à chaga e meter o indicador. Enquanto o produtor ficar só reclamando, e não aplicar a si próprio a expressão “pôr a cabeça pra funcionar, adquirir conhecimento e tirar a bunda da cadeira, ou seja, mover-se”, nada vai ser resolvido.
Há muito, muito mais coisas para se elencar, mas fica para 2013, que ninguém é de ferro.

A TODOS UM NATAL DE PAZ E BOAS ENTRADAS!

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