sexta-feira, 29 de março de 2013

A renúncia do Papa evidencia a crise do Catolicismo Romano


Num período de crise e declínio do capitalismo, para muita gente a religião é a única certeza a que apegar-se. Mas se o próprio Papa já não está convicto de que pode manter-se em suas funções até a morte, a ilusão de solidez começa a ruir. O efeito da surpresa do anúncio do afastamento/da aposentadoria pelo Papa Benedito XVI na consciência de mais de um bilhão de católicos romanos é de um terremoto espiritual, e certamente também terá consequências políticas

Mauro Venetti

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A última vez que um Papa renunciou a suas funções antes de Benedito XVI foi em 1415 quando Gregório XII se afastou para recompor o Cisma Ocidental (Western Schism), cisão que perdurou por quarenta anos entre a Igreja de Roma e Igreja de Avignon. O próprio porta-voz papal desmentiu a existência de sérios riscos de saúde por traz da presente abdicação. Parece que a renúncia papal fundamenta-se em profunda cisão dentro da Igreja Católica e, particularmente, no seio da Cúria Romana, isto é, ogoverno da Igreja e seu aparato administrativo, sua teocracia em miniatura. 
A base material da Igreja

A Igreja Católica é organizada como um cruzamento entre uma monarquia feudal e um partido político moderno. Em um mundo dominado pelo sistema capitalista de produção, isto desempenha o papel de um coletivo ideológico em benefício da burguesia, influenciando 1.2 bilhões de pessoas em todos os continentes. Para desempenhar sua tarefa reacionária, ela emprega, em acréscimo aos leigos atuantes em organismos e estruturas sob seu controle, um aparato de mais de 400.000 padres, a metade dos quais concentrados na Europa, 750.000 freiras etc. Somente nos Estados Unidos, mais de um milhão de homens e mulheres trabalham para a Igreja Católica, de uma forma ou de outra.
Esta enorme máquina de propaganda é financiada fundamentalmente de três formas: em moeda corrente e por meio de trabalho voluntário, inclusive trabalho de frades e freiras, que – pelo menos no papel – não estão habilitados a possuir qualquer coisa pessoalmente; com a renda que usufruem das propriedades que possui; e através do parasitismo dasfinanças de alguns estados, notadamente da República Italiana. Mas estas fontes financeiras estão se tornando cada vez mais escassas. 

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