sábado, 30 de março de 2013

O Fórum e seus mártires


O Fórum e seus mártires

Chokri Bensaïd, o líder da oposição de esquerda, assassinado em fevereiro, e Hugo Chávez. São os nomes mais lembrados em menções, cartazes e faixas agitadas no Fórum Social Mundial da Tunísia, indicando que esse espaço continua sendo o da mobilização antimperialista.

É Páscoa e não é. Na Tunísia, país predominantemente muçulmano, a Páscoa passa quase em branco. É engraçado: muitas lojas guardam ainda a decoração natalina, com luzinhas imitando renas e pinheiros. Não tive tempo de pesquisar o significado disso, além do comercial.

Mas não há coelhinhos, nem sexta-feira santa (a não ser no sentido de toda a sexta ser o dia sagrado, da grande oração, para os muçulmanos), nem chocolate, nem corrida às igrejas. É claro que há comunidades cristãs no país, e elas celebram a Páscoa. Mas são minoritárias, e não aparecem na paisagem geral.

Entretanto, vivemos uma forma especial de “sincretismo”. Na quinta-feira santa do calendário cristão, houve uma cerimônia especial no Teatro Municipal da cidade, em homenagem aos “mártires do Fórum”.

O primeiro mártir celebrado era local: Chokri Bensaïd, o líder da oposição de esquerda, assassinado em fevereiro. Seu nome, seu retrato estão em toda parte, encabeçando uma longa lista de mártires e desaparecidos, donde despontavam mais os mortos – autoimolados ou não, durante a “Revolução do Jasmim” aqui na Tunísia – e os desaparecidos, sobretudo na Argélia.

O assassinato de Bensaïd pesa sobre o governo encabeçado pelo Partido Ennadha, muçulmano, que encabeça o atual governo. O partido procura se desvencilhar de qualquer resquício de sectarismo islâmico. Neste sábado, antes da marcha de encerramento (comentário depois), tivemos a oportunidade de ir à Medina. Lá conversamos longamente com um comerciante local, de bijuterias, membro do partido. Contou-nos ter ficado preso durante o regime de Ben Ali dos 19 aos 25 anos de idade; que considera serem os ocidentais, europeus, norte-americanos, muito preconceituosos (em geral) em relação aos partidos islâmicos. Que para esta visão os islâmicos não podem nunca chegar ao poder, mesmo que eleitos legitimamente numa eleição democrática. Que eles (este foi um tema muito repisado em todo o Fórum) não desejam reprimir ninguém, que querem “iniciar uma nova Tunísia”, e que neste sentido o Fórum é muito bem-vindo, de abertura, convívio, resolução dialogada de conflitos.

A bem dizer, este é o desafio que está colocado para o novo governo (composto também por dois partidos laicos), junto com o de elucidar o crime de Bensaïd.

Já o segundo “mártir do Fórum” era nada mais nada menos do que o ex-presidente Hugo Chávez. Parece que a morte prematura, vitimado por um câncer relativamente fulminante, o ungiu não apenas no plano nacional e latino-americano, mas mundial. Isto foi palpável não apenas na homenagem oficial do Fórum, mas em todo ele. Para onde quer que a gente se voltasse, Hugo Chávez e seu carisma estavam presentes. Eram retratos, cartazes, menções (se num evento, sempre aplaudidas), lembrando que o Fórum continua sendo um espaço de mobilização antimperialista.

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