sábado, 30 de março de 2013

CAFÉ SOLÚVEL BRASILEIRO E O AQUECIMENTO DO MERCADO DE ROBUSTA



Antônio Sérgio de Souza (graduando em Ciências de Alimentos - UFV CRP[1]); Cláudio Pagotto Ronchi (Orientador/Coordenador) (Eng. Agro. D.Sc. em Fisiologia Vegetal - UFV CRP1); Paulo Afonso Ferreira (Eng. Agro. D.Sc. em Fitopatologia UFV CRP1) e Sergio Parreiras Pereira(Eng. Agro. D.Sc. em Fitotecnia - Pesquisador IAC[2]).

INTRODUÇÃO
            Para compreendermos a produção do café solúvel brasileiro, precisamos antes, fazer uma análise de seu principal componente, o café Robusta ou Conilon (Coffeea canephora).
            Neste estudo, faremos um apanhado do quadro atual da produção mundial do grão de café robusta, bem como uma análise do potencial dos países produtores. Abordaremos a industrialização e a exportação brasileira de café solúvel, assim como, a expansão do consumo para novos mercados mundiais.
            Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi enfocar nas perspectivas mundiais para produção do café robusta, assim como, a evolução do consumo, o momento atual de mercado, sua imagem junto a governos e torrefadores internacionais
DESCRIÇÃO
            De acordo com Neto (2012), a primeira produção de café solúvel é atribuída a Satori Kato de Chicago (EUA), porém a primeira produção industrial foi feita pelo químico inglês George Constant Washington na Guatemala. Um dia, enquanto aguardava sua esposa no jardim de sua casa para tomar café, ele observou no bico do bule um pó muito fino, parecia ser a condensação do vapor dessa bebida. Isto o intrigou e levou-o a descobrir o café solúvel. Em 1906 ele iniciou alguns experimentos e já, em 1909, iniciou a primeira comercialização de café solúvel, produto que recebeu o nome de Red E Coffee. O tradicional Nescafé foi criado, em 1937, a pedido do Governo de Getúlio Vargas. Neste período, o Brasil encontrava-se com excesso de produção, graças a baixa demanda mundial provocada pela crise gerada pela quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929.
            Segundo Ronchi (2009), o C. canephora originou-se no Congo (África), e recebeu o nome de 'Robusta' por traduzir sua rusticidade e resistência, sobretudo à ferrugem. Com raízes mais profundas, gera árvores mais altas, tem origem em sub-bosques densos de Florestas Equatorias, altitude de até 1.200 m, temperaturas médias anuais entre 24 e 26 oC; precipitação superior a 2.000 mm, distribuídas ao longo de nove meses do ano, umidade relativa alta, próxima à saturação. "Ocaférobustaéconsideradoumabebidaneutra,usadoem misturas(blends)eutilizadonaindústriadecafésolúvelenastorrefações,pois possui uma maior concentraçãodesólidossolúveis,oqueresultaem maior rendimento industrial" (MATIELLO, 1991).
            Visto como coadjuvante pela indústria de torrefação tradicional, o robusta é menosprezado pelos especialistas em cafés especiais. Segundo Josephs (2013), para Andrea Illy, presidente-executivo da illycaffè, os grãos de robusta normalmente não são cafés finos e não apresentam o sabor refinado do arábica, que é buscado pela indústria.
             Na matéria do The Wall Street Jornal, Josephs (2013) cita que por produzir uma bebida de sabor extremamente duro, de gosto amargo e qualidade inferior, em 1989, a Costa Rica criou uma lei proibindo o cultivo e autorizou o governo a destruir as árvores existentes de café robusta. Em 2010, os produtores de café da Nicarágua, país vizinho, tomaram as ruas exigindo uma lei similar contra robusta, mas não foram bem sucedidos.
DISCUSSÃO
            O Brasil, que dominava o mercado mundial de café solúvel, perdeu em 2010 a liderança para a Índia (FERREIRA, 2013). O Brasil chegou a possuir 11 empresas com industrialização de café solúvel. No entanto, há mais de 40 anos não se abre uma nova. Atualmente, só sete industrializam o café solúvel em solo brasileiro (NEVES, 2008). Essas empresas têm seu foco voltado para a exportação, sendo que aproximadamente 87% do faturamento total, proveem das vendas externas (NEVES, 2009).
            A indústria brasileira de café solúvel amarga um processo de estagnação em suas exportações, em uma tendência que se mantém há mais de uma década em sentido inverso ao mercado global.
            Dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) apontam que os embarques de café solúvel da indústria brasileira cresceram apenas 0,3% em 2012, sendo exportadas 3,31 milhões de sacas de 60 kg - cerca de 1 milhão de sacas a menos que a Índia. Em receita ouve uma alta de 3%, para US$ 672 milhões, puxada pela alta dos preços do café robusta (FERREIRA, 2013).
            Com base em projeções da LMC/Olam, Saoud (2011), estima que o consumo de solúvel no mundo cresceu a uma taxa anual de 2,95% de 2005 a 2010, a qual deverá manter em crescimento de 2,7% ao ano até 2015. Tendo o consumo de solúvel obtido um crescimento diferenciado em seis países: Brasil 3,0%, Indonésia 3,5%, Tailândia 7,0%, Filipinas 3,8%, Malásia 4,0%, Índia 3,0% e China 7,3%, as taxas de crescimento anual deveram continuar acima de 3% até 2020, o que representará um incremento de demanda em 3 milhões de sacos de robusta.
            Para novos consumidores, o solúvel, por ser prático e mais econômico, é apontado como a "porta de entrada" para a introdução do consumo de café em grandes mercados emergentes, como a China, Ex-repúblicas soviéticas e em toda região asiática, na qual o desempenho das exportações de café brasileiras não são boas.
            A produção de café robusta brasileira é insuficiente para atender a demanda das fábricas de solúvel, principalmente nos primeiros meses do ano. Segundo a Abics, a demanda total pela variedade no Brasil é de aproximadamente 15 milhões de sacas, para uma produção estimada em apenas 12,5 milhões, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para a safra 2012/13, sendo que cerca de 85% da produção  brasileira de robusta é absorvido pela indústria do solúvel.
            Segundo estimativa de Saoud (2011), se o consumo mundial de robusta continuar crescendo no mesmo ritmo verificado nos últimos 10 anos (média anual de 3,6%), deverá saltar dos atuais 54,4 milhões para 77,6 milhões de sacas em 2020, um aumento de 23 milhões de sacas. Caso o crescimento arrefeça para uma taxa média anual de 2,5%, deverá
atingir 69,74 milhões de sacas, ou 15 milhões de sacas acima do volume consumido hoje. Uma estimativa mais conservadora, que use uma taxa de crescimento baixa, de 1,75% ao ano, significaria um acréscimo de 10 milhões de sacas no consumo mundial de robusta, que chegaria a 64,8 milhões de sacas em 2020.
MATERIAL E MÉTODOS
            Analisado as barreiras apontadas como impeditivas ao crescimento da indústria brasileira de solúvel, observa-se que essa vive uma realidade de estagnação ante uma tendência de crescimento mundial. De acordo com a consultoria P&A Marketing Internacional, especializada no mercado internacional de café, a indústria de solúvel vai seguir na inércia enquanto não resolver a questão do drawback (FERREIRA, 2013). O "Drawback" é a possibilidade de importar matéria prima, sem a cobranças de impostos, para que seja reexportado o produto industrializado.
            Segundo Ferreira (2013), o setor  é penalizado com sobre taxa de importação de 9% pela Rússia, um grande importador de solúvel. Este cenário deve se agravar com a eliminação do Brasil do Sistema Geral de Preferências da União Europeia (SGP), no âmbito da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), que prevê tarifas mais baixas para produtos exportados por um grupo de países em desenvolvimento.
            No mercado interno, o café solúvel apresenta um desempenho anêmico, com faturamento em 2012 de aproximadamente R$ 450 milhões, nível esse similar ao de 2011 com volume inferior a um milhão de sacas (FERREIRA, 2013).
            A valorização e o aquecimento de demanda do robusta no nível internacional é um fator preocupante para a industria brasileira de solúvel. Em 2012, os papeis robusta-futuros, negociados na bolsa de Londres (NYSE Liffe) tiveram alta de 13% no ano. Por outro lado, os contratos futuros de café arábica negociados na bolsa de Nova Iorque (ICE Futures) caíram 36% no período (JOSEPHS, 2013).
RESULTADOS
            Segundo Saoud (2011), mantendo o consumo mundial de robusta, que atualmente está em 54.475 milhões de sacas, um crescimento conservador de 1.75% ano, chegaremos em 2020 consumindo 64.825 milhões de sacas em 2020, apontando para um cenário de déficit de 10 milhões de sacas baseado-se na produção atual.
            O estudo de Saoud (2011), aponta que para atender está nova demanda, o Brasil poderá elevar sua produção em 3 milhões de sacas, com uso de espécies mais resistentes a doenças e mais produtivas, expansão das áreas irrigadas, melhores tratos culturais e expansão da área no sul da Bahia. O Vietnã que num período de 15 anos se transformou de um país, desconhecido por muitos consumidores, no maior produtor mundial de Robusta, não tem muito potencial para aumento na área plantada e está implantado um programa de renovação de suas lavouras, que deverá elevar a produção em 2 milhões de sacas. A Indonésia em comparação com o Vietnã, tem o dobro da área cultivada, mas com um rendimento baixo, com média de apenas 7 sacas por hectare. No entanto, melhorando a produtividade, tem grande potencial para aumentar significativamente a produção, podendo elevar em mais 3 milhões de sacas. Os demais países produtores de robusta, como Índia (300 mil sacas), África (1 milhão sacas), Ásia (750 mil sacas), entre outros, deveram produzir juntos 2 milhões de sacas, segundo projeções da LMC/Olam (SAOUD 2011).
CONCLUSÕES
            Como o consumo de robusta e solúvel cresce a taxas superiores à produção, tem-se perspectivas reais para o aumento da produção de café conilon. Mesmo com consumo crescendo a taxas modestas, se terá um cenário de déficit, estimulado pelo o aumento do volume de robusta utilizado nos blends pelas grandes torrefações, que foi motivado pela elevação dos preços do café arábica em 2010.
            O café solúvel brasileiro apresenta um cenário de perda gradual de mercado, com a perspectiva de agravamento, com a indústria brasileira desmotivada e a expansão na industrialização de solúvel na Ásia, principalmente na Índia.
REFERÊNCIAS

 
FERREIRA, Carine. Indústria de café solúvel amarga mais um ano de fraqueza. Valor Econômico, São Paulo, 18 jan. 2013. Disponível em: . Acesso em: 8 fev. 2013.
JOSEPHS, Leslie. Robusta’s Moment in the Sun. The Wall Street Jornal,Nova Iorque, 8 fev. 2013. Disponível em: . Acesso em: 12 fev. 2012.
MATIELLO, José B. O Café: Do Cultivo ao Consumo. São Paulo: Editora Globo, 1991.
NETO, S. L.. C. Produção de Café Solúvel Através de Secagem Spray-Drying. Universidade Regional de Blumenau – FURB. Blumenau, 2012.
NEVES, Leo de A. Plataforma de exportação de café solúvel. Revista do Café, ano 84, n. 815, set. 2005.
NEVES, Lincoln W. de A. Fazer ou Comprar: uma análise sob a perspectiva das teorias da Economia dos Custos de Transação e da Visão Baseada nos Recursos. Tese (Doutorado em Engenharia Industrial). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC RJ, Rio de Janeiro, 2009.
RONCHI, Claudio P. A Origem do Café Conilon. Cetcaf, Vitória, 19 ago. 2009.Disponível em:. Acesso em: 12 fev. 2012.
SAOUD, Raja. Café robusta não é mais um coadjuvante. Revista do Café,  ano 90, n. 838,  jul. 2011.
SAOUD, Raja. 2011-20: The Decade of Robusta. Brasil Coffee Dinner.São Paulo, 31 Mai. 2011. Slides.

[1]Universidade Federal de Viçosa - Campus Rio Paranaíba - MG, UFV CRP
[2]Instituto Agronômico de Campinas, IAC SP

Antonio Sergio Souza - 34 9167 6506  ( antonio.sergio@ufv.br )

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