quinta-feira, 13 de março de 2014

O segredo de um libanês em livro

Editora de Beirute publicou Sir al-Mi'at Am, em árabe. Obra tem como base as memórias de um imigrante que morou no Brasil e deixou no seu país de origem um amor que nunca viveu.



Divulgação
Saad (esq.), Hourani (centro) e Khatlab (dir.) no lançamento do livro
São Paulo – Um livro publicado no Líbano conta a história, o grande amor e as impressões sobre o mundo em guerra de um libanês que viveu no Brasil. A obra “Sir al-Mi’at Am” é de autoria de Chebl Issa El Khoury, que se mudou do seu país para terras brasileiras em 1910, onde viveu até a sua morte, em 1980. A obra foi publicada em árabe e se baseia nas memórias do libanês, com relatos da vida do imigrante em São Paulo, o seu primeiro amor no Líbano, a história do seu país em um período em que o mundo vivia a 1ª Guerra Mundial e a emigração de libaneses para Brasil e Estados Unidos. Em português, o título quer dizer “O segredo dos cem anos”.
Segundo informações de Roberto Khatlab, diretor do Centro de Estudos e Culturas da América Latina na Universidade Saint-Esprit de Kaslik (Cecal-Usek), que apresentou os originais no Líbano e escreveu o prefácio do livro, as memórias começaram a ser escritas em 1945. Além de uma história da emigração, o livro é um romance, um drama. “Mostra as sensibilidades e tradições orientais, sendo o próprio autor um personagem da história que descreve um universo no qual ele enfrenta vários obstáculos”, afirma Khatlab à ANBA.

Uma das linhas mestras do livro é a relação do autor com uma libanesa que Chebl identifica apenas com as iniciais T.S. Ele a conheceu em 1904, há mais de cem anos, quando tinha 17 anos e ela 14. A moça se casou com um homem bem mais velho dos Estados Unidos, para onde foi morar, mas retornou em 1908, arrependida. Foi aí que reencontrou Chebl. Mas apesar do amor que sentia por T.S, o libanês teve que se mudar para o Brasil para ajudar financeiramente a família, que vivia no Líbano. Ele prometeu retornar para buscá-la, mas foi impedido pela guerra que se desenrolava. Chebl só teve notícias da amada em 1945. Ela havia morrido. Ele estava casado e com filhos.

“A partir de 1945 Chebl escreveu o manuscrito em árabe com toda esta história. Ele foi descoberto só em 1980, quando ele faleceu e sua filha o encontrou entre os seus pertences”, conta Khatlab. No material ele deixava um recado: “Deve ser impresso”. O neto de Chebl, José Antônio Alves Silva, foi ao Líbano, em uma viagem em memória aos seus antepassados. No país árabe Silva encontrou Khatlab, a quem encarregou a missão de publicar a obra do avô.

O lançamento ocorreu no começo de março na Feira de Livros de Antelias e a publicação foi feita pela editora Dar Saer Mashrek (Todo o Oriente), de Beirute, em colaboração com a Cecal-Usek como parte da sua Coleção América Latina. “Os árabes precisam de fontes de leituras sobre a América Latina e este é o nosso objetivo com a coleção”, afirma Khatlab. Essa coleção, também chamada de Biblioteca América Latina, faz parte da Biblioteca Central da Usek e fica disponível para leitura de estudantes, professores e interessados no tema. O livro pode ser adquirido na editora ou via contato de Khatlab.
Estiveram no lançamento do livro, na Feira de Livros de Antelias, Antonio Saad, dono da editora Dar Saer Mashrek, escritor e apresentador de televisão, Guita Hourani, diretora do Centro de Estudos sobre a Emigração Libanesa na Notre Dame University, e Ramzi Salame, escritor, Alberto Voss Rubio, ex-embaixador do Uruguai no Líbano, Jacques Menassa, fotógrafo, membros da família El Hkoury, entre outras personalidades. 

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