sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Seminário discute resgate, conservação e valorização de raças nativas na Paraíba



Publicado dia 24/11/2015
Assentado José Benício apresenta sua experiência na preservação de espécies nativas de insetos do Semiárido - Foto: ACCJPT
 
O resgate, a conservação e a valorização das raças nativas de animais do Semiárido brasileiro foram os principais compromissos assumidos por todas as organizações que estiveram presentes no Seminário Raças Nativas na Agricultura Familiar Agroecológica, realizado de 17 a 19 de novembro, no Santuário Padre Ibiapina, em Arara, município do Agreste paraibano, a cerca de 170 quilômetros de João Pessoa. 
 
O Instituto de Assessoria a Cidadania e ao Desenvolvimento Local Sustentável (IDS), contratado pelo Incra/PB para promover a articulação institucional e assessoria técnico-pedagógica às equipes de assistência técnica aos assentamentos, compôs a comissão organizadora juntamente com o Núcleo de Extensão Rural Agroecológica (NERA) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em parceira com organizações da Articulação do Semiárido Paraibano, como: o Coletivo das Organizações da Agricultura Familiar do Cariri, Seridó e Curimataú; o Programa de Aplicação de Tecnologias Apropriadas às Comunidades (Patac); o Pólo Sindical da Borborema; a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) e o Coletivo ASA Cariri Oriental (Casaco).
 
O Seminário teve como objetivos aprofundar a reflexão sobre a importância das raças nativas na agricultura familiar de base agroecológica para a convivência com o Semiárido; analisar a influência das especializações e suas ameaças ao sistema de criação animal agroecológico; bem como refletir sobre o papel das políticas públicas governamentais voltadas para a criação animal e identificar desafios e perspectivas no sentido de fortalecer o resgate das raças nativas para as famílias agricultoras e de áreas de reforma agrária.
 
Quatro das seis entidades contratadas pelo Incra/PB para prestar Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) aos assentamentos paraibanos participaram do Seminário: a Cooperativa de Prestação de Serviços Técnicos da Reforma Agrária da Paraíba (Cooptera), a Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Autopromoção (Coonap), a Associação Centro de Capacitação João Pedro Teixeira (ACCJPT) e o Instituto Penha e Margarida (Ipema). Técnicos e assentados assistidos pelas entidades em cinco núcleos territoriais (Curimataú, entorno de Alagoa Grande, Borborema, entorno de Mari e Bananeiras) estiveram presentes no evento. 
 
O Seminário contou ainda com a participação da Red Combiand, uma articulação ibero-americana que reúne pesquisadores de cerca de 20 países que estudam raças nativas e adaptadas para o desenvolvimento sustentável. Dois pesquisadores da Red participaram do encontro: Maria Esperanza Camacho, do Instituto Andaluz de Investigación y Formación Agraria y Pesquera, e Juan Vicent Delgado Bermejo, da Universidad de Córdoba.
 
Experiências da ATER
Dois dos quatro agricultores guardiões de raças nativas de animais que apresentaram suas experiências no primeiro dia do evento, e foram certificados como guardiões de raças nativas pela Coordenação do Seminário, são assentados da reforma agrária paraibanos. 
 
José Francisco Benício, mais conhecido como Seu Zé de Arunda, do Assentamento Maria Preta, no município de Araçagi (PB), compartilhou sua experiência na preservação de espécies nativas de insetos do Semiárido. A família do agricultor, assistida pela zootecnista da ACCJPT Jeovana Gomes da Silva, vive no assentamento há 15 anos, onde mantém um meliponário com 37 caixas de abelhas nativas sem ferrão, de espécies como a Jandaíra, Moça Branca, Uruçú, Mosquito e Cupira. 
 
A produção de mel das duas caixas das pequenas abelhas Mosquito é pouca – cerca de meio litro por ano, dependendo da florada –, mas, em razão da grande procura devido às suas propriedades medicinais, cada litro de mel chega a ser comercializado por até R$ 200. O litro do mel produzido pelas dez caixas de abelhas Moça Branca e Uruçú também pode chegar a R$ 200. E cada litro de mel produzido nas 25 caixas de Jandaíra pode ser comercializado por até R$ 100. 
 
Seu Arunda também fabrica e vende as caixas desenvolvidas por ele para a criação das abelhas nativas, obtendo mais uma fonte de renda para a família. Segundo ele, para que as abelhas nativas se mantenham produtivas e organizadas é necessário contar com um bom pasto apícola de onde possam retirar o néctar e o pólen. Por isso, ele replanta nos arredores de casa e no lote, espécies de árvores que aumentam as alternativas florais para as abelhas. “Quando se planta para colher cedo, também se acaba cedo! Quando se planta para colher tarde se tem mais prosperidade. Por isso, planto árvores e crio abelhas nativas, contribuindo com o meio ambiente”, afirmou o agricultor assentado. 
 
Outra experiência foi apresentada por Érika de Almeida Bezerra, filha dos assentados Rita de Almeida e Laerte Bezerra, do Assentamento José Horácio, no município de Alagoa Grande (PB). A experiência de criação de perus é acompanhada pela técnica em agropecuária do Ipema Vera Lúcia Francelino. 
 
A família mantém a criação de perus desde os tempos da avó de Rita, que, com o passar dos anos, acumulou vastos conhecimentos medicinais na criação dos animais. Os cuidados preventivos, baseados na fitoterapia, envolvem a utilização do limão na água para evitar as corizas, conhecidas como “gogo”. A semente do mastruz é usada na alimentação dos filhotes recém-nascidos para evitar vermes e resfriados. E é utilizado babosa na cura da bouba aviária, que se apresenta na forma de caroços nas aves.
 
De acordo com Érika, a higiene do galinheiro possui um papel importante na criação das aves. Por isso, é realizada com plantas de cheiro forte, como a arruda, o cravo-de-defunto ou meladinha, que ajudam na prevenção a outros tipos de infecção e micróbios.
 
Perspectivas
De acordo com os participantes, o seminário contribuiu para a ampliação de conhecimentos necessários à conservação das raças e para o fortalecimento da luta por políticas públicas para a valorização das raças nativas. 
 
As equipes de ATER, com o apoio de entidades parceiras, se comprometeram a realizar pesquisas e projetos para o resgate do conhecimento tradicional e para a conservação da biodiversidade animal do Semiárido paraibano nos assentamentos da reforma agrária. 
 
Também devem ser estimuladas a troca de animais entre guardiões de raças nativas para a ampliação da biodiversidade e a catalogação das raças nativas existentes nos territórios para conhecimento do valor genético e cultural das criações. Para isto, foi acordado que deve haver uma maior qualificação das equipes de assessoria técnica para lidar com o tema junto às famílias em transição agroecológica. 
 
A necessidade de projetos de investimento produtivo para as iniciativas de preservação das raças nativas também foi discutida, assim como o estímulo à pesquisa participativa por parte das assessorias e das universidades e institutos de pesquisa. (Material atualizado às 13h18min, de 24.11.2015)
 
Assessoria de Comunicação Social do Incra/PB
(83) 3049-9259
http://www.incra.gov.br/pb

Nenhum comentário:

Postar um comentário