quarta-feira, 16 de março de 2016

E se cada carioca que vai à Rede Pública tivesse a caneta de Eduardo Paes? Vídeo


Por Fábio Lau
Imagem da internet: prefeito surfa entre pacientes
Imagem da internet: prefeito surfa entre pacientes
Eduardo Paes, o prefeito do Rio, levou seu filho ao hospital público Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Lá, como pai e não gestor da cidade, se ofendeu com o modelo de atendimento oferecido pelos médicos. Tem levado bordoadas de todos os lados. Supostamente ofendeu a profissional que teria agido de acordo com o modelo de burocracia comum à rede. Até a mídia amiga, Grupo Globo portanto, tem batido em Paes. Qual a razão? Corporativismo, redução da verba publicitária, desgaste da imagem no campo político? A turma crítica levanta várias hipóteses. Tudo é possível. Mas quem tem sido deixado de fora na discussão é o cidadão. Aquele que precisa da rede pública e tem um atendimento muito aquém do oferecido ao filho do prefeito... este tem sido deixado de lado.

O corporativismo médico é praga para a qual ainda não se inventou remédio. Experimenta postar em uma rede social a sua queixa e logo aparecerá um médico ou amigo do filho de um médico, para defender a categoria. Uma prima que não via há duas décadas apareceu para defenestrar-me e defender a médica. E deixou claro que o médico pode ser até competente, mas como é mal educado!!! E, na defessa cega da categoria (e não do paciente) usam um argumento infalível: desvalorização dos profissionais que tanto estudaram. E agora, coitados, ficam ali ganhando uma miséria.

A questão salarial é indiscutível. Hoje os médicos, em geral, ganham tanto quanto gozam de prestígio. Uma matemática perversa que não atende aos enfermos - que é o objetivo da existência da Medicina, embora muitos não enxerguem assim.

Quando da chegada dos chamados Médicos cubanos no país, no Programa Mais Médicos, os profissionais foram recepcioná-los nos aeroportos. Não para dar boas vindas ou desejar boa sorte a colegas que trariam esperança a brasileiros que convivem há séculos com a deficiência do setor. Os humilharam. Não houve, ali, corporativismo porque afinal chegavam de um país mais pobre que o Brasil onde o sistema, comunista, que pressupõe divisão igualitária de renda, os impede de acumularem riqueza como em um modelo capitalista. 

Uma médica destilou seu preconceito ao dizer que as médicas cubanas pareciam empregadas domésticas que atuam no Brasil. Mas eis que, três anos depois, são eles os preferidos no atendimento em postos de saúde onde disputam pacientes (disputam é força de expressão) com profissionais formados aqui. Outra fonte de preconceito são as cotas raciais nas universidades que promete colocar no mercado milhares de jovens negros e pobres em ambulatórios e centros médicos no país e na periferia das capitais.

A atividade médica no Brasil remonta ao século XIX. Surgiu com a Faculdade de Medicina da Bahia mais de três séculos após a chegada dos portugueses (1808). Até então nossos médicos eram formados em Coimbra (Portugal) ou Montpellier (França). A escola era diferenciada pela riqueza dafamília. Os mais abastados iam para a França. Muitos, ao se formarem, mudavam para a capital e deixavam no interior, nas fazendas, seus pais e os negócios da família que lhe garantiram o diploma.

E foi neste êxodo natural que a nossa Medicina se consolidou e se cristalizou da maneira perversa como vemos. Todos nos grandes centros a despeito da necessidade do interior. Até hoje o perfil dos nossos profissionais, com exceções e das mais honrosas, é elitista. Afora os aguerridos e abnegados, a lógica é a boa formação da universidade pública e o serviço na rede privada - distanciando-se ainda mais do cidadão que bancou seu estudo através dos impostos recolhidos e transferidos para as universidades.

O caso do prefeito, uma perversidade do mundo real, retrata algo muito especial. Todos estamos sujeitos a estas armadilhas. A médica que o atendeu e se viu oprimida (e agora tira uma semana de licença para curar as feridas do sentimento, reais mas invisíveis) e o prefeito que amarga em ano eleitoral sua maior derrocada - como se já não bastasse apostar na candidatura de um agressor de mulheres para sua sucessão.

Mas esquecido, no banco de espera, está o cidadão. Meu tio Newton, com seu problema crônico nos rins, aguarda há meses um nefrologista que o atenda. Ele, seu vizinho e o outro, na mesma sala de espera, não contam com a caneta do prefeito. Se tivessem, com certeza, Eduardo Paes não estaria só neste momento. O problema da Saúde é o doente, não é o médico ou o prefeito. E quem é que vai olhar por ele?

Estão politizando o ataque do prefeito à médica para não darem margem a discussão do modelo de Saúde. Ela é a vítima. O paciente virou espectador.




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