WikiObama: como é conduzido o governo dos EUA
Em documentos revelados pelo WikiLeaks tomamos conhecimento de ações do governo
norte-americano e seus lobbies para combater a lei do pré-sal e que a Casa Branca
pressionou autoridades ucranianas para obstaculizar o desenvolvimento do projeto
conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes.
Portanto, já é hora pararmos com essa ladainha de visita simbólica ou de início de uma nova
parceria estratégica.
Reginaldo Nasser
Qual é o real significado, em termos de política externa, da visita do presidente da república
imperial? Até que ponto devemos levar em consideração a sua fala? Em 2009, Obama fez o famoso
discurso do Cairo que deverá entrar para a história da diplomacia como um dos mais importantes
exercícios de retórica, pois o apoio aos ditadores e a Israel continuou como nunca. Como esquecer
da carta que enviou ao Presidente Lula instando o Brasil a trazer o Irã para a mesa de negociação e
dias depois condenar a “aproximação” dos dois países? Nesse sentido, creio ser apropriado
relembrar os ensinamentos do sociólogo alemão, Max Weber, em texto publicado no início do século
XX. Weber advertia que aquele que realmente quisesse encontrar o verdadeiro poder do Estado, não
deveria dar tanta relevância para os discursos parlamentares ou para as falas dos presidentes, mas
sim observar a forma como é conduzida a administração rotineira do Estado.
Que tal uma passada de olhos sobre os acontecimentos dessa semana e verificar a “rotina imperial”
( 12 a 19 de março)?
Após a derrubada de Mubarak, Obama disse que "era a força moral da não-violência, e não a
violência, a força moral que dobrou o arco da história para a justiça”. Entretanto o Pentágono e o
lobby da indústria de armas dobraram o arco da história contra os manifestantes pró-democracia no
Bahrein. Pode ser mera coincidência, mas é curioso constatar que, após viagem do Secretário de
Defesa, Robert Gates, ao Bahreim no dia 11 de Março a Arábia Saudita enviou tropas para aquele
pais dando maior consistência ao processo contra-revolucionário com extrema violência.
Os seis Estados membros do Conselho de Cooperação do Golfo (Bahrein, Kuwait, Omã, Qatar,
Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos) têm fortes ligações com o Pentágono desde os anos
1990. Receberam dos EUA nos últimos quatro anos grandes quantidades de material militar
(veículos blindados, aviões, metralhadora e munições) no valor de US $ 70 bilhões. O circulo de
poder entre a indústria militar, os Estados do Golfo e o Pentágono inclusive asseguraram uma
mudança da doutrina de “mudança de regime ", como no Egito ou Tunísia, para “alteração de
regime” a fim de garantir o atual governo.
No dia 18 de março o Center for Constitutional Rights (Fundado em 1966 por ativistas dos direitos
civis nos EUA) divulgou um relatório solicitando a administração de Obama a passar da retórica à
ação, e a urgência em adotar medidas concretas para cumprir com as suas obrigações internacionais
dos direitos humanos. As denúncias versam sobre questões que vão desde a discriminação racial, “Revoluções no Mundo Árabe e Islâmico: Regimes Políticos, Síria e Irã - 2012
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execuções extrajudiciais até a prática de tortura no Iraque, Afeganistão e Guantamo (lembram-se
da promessa em início de mandato?).
No dia 17 de março em matéria do The Guardian ficamos sabendo que os militares dos EUA estão
desenvolvendo um software que permitirá secretamente manipular os meios de comunicação com
falsos nomes para influenciar e espionar as redes sociais com o objetivo de combater as “ideologias
extremistas”. O porta-voz Centcom, orgão gerenciador do projeto, esclareceu, sem meias palavras
que nenhuma das intervenções será feita em língua inglesa porque seria ilegal!
Na política doméstica, esta cada vez mais claro que Washington perdeu o interesse pelo problema
do desemprego. O governo Obama foi derrotado na “guerra de idéias”. Em recente pesquisa de
opinião pública, a maioria dos americanos, com razão, já não nota diferença significativa entre
democratas e republicanos no que se refere ao debate sobre o deficit. (Paul Krugman The Forgotten
Millions, 18/03/ 2011 The New York Times).
Em documentos revelados pelo WikiLeaks tomamos conhecimento de ações do governo norteamericano e seus lobbies para combater a lei do pré-sal e que a Casa Branca pressionou autoridades
ucranianas para obstaculizar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação
da plataforma de lançamento dos foguetes. Portanto, já é hora pararmos com essa ladainha de
visita simbólica ou de início de uma nova parceria estratégica.
(*) Professor de Relações Internacionais da PUC (SP) e Programa de Pós-Graduação San Tiago
Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP)
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