terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Carta enviada a Ricardo Boechat, pelos comentários na Bandnews hoje pela manhã (01.02.2013)


Por Roberta Züge - postado em 01/02/2013

 Prezado Ricardo Boechat.

Acompanho, como milhões de outros brasileiros, seu programa na rádio Bandnews. Gosto muito de seus comentários e críticas, de modo geral, construtivas.

No entanto, hoje pela manhã, durante as críticas aos resíduos de agrotóxicos de alimentos no Brasil, fiquei extremamente desolada com a iniquidade que ouvi de sua parte. Acredito que desconheça a realidade da agropecuária séria que existe no território nacional. Não vou me ater aos vegetais, pois minha formação é na área pecuária, apesar de conhecer o amplo trabalho que é realizado com a produção integrada de frutas (PI Brasil), que contempla a sustentabilidade da produção em todas as suas esferas, entre elas a segurança do alimento, ponto da sua crítica.

Mas, sinto-me capacitada para argumentar sobre a produção pecuária de produtores e agroindústrias sérias.

Primeiro ponto: a questão de litros de hormônios no frango. Isto está mais do que comprovado que não há viabilidade para se utilizar tal recurso. Os hormônios, como os com efeitos tireostáticos, androgênicos, estrogênicos ou gestagênicos e ß-agonistas, demandam tempo de utilização para iniciar sua ação no organismo. Nosso frango é abatido com 45 dias, o que não seria suficiente para conseguir qualquer efeito. Aliado a estes fatores, o custo do hormônio inviabilizaria a produção, o preço seria muito alto do frango para o consumidor!

Citando informações técnicas:
“O Ministério da Agricultura, por meio de Instruções Normativas, regulamenta o uso de substâncias que podem ser administradas na alimentação animal, algo que para aves acontece desde 2004 e para bovinos é feito desde 2001.”

Quando se refere à proibição desses produtos na alimentação de aves a norma é bem clara quando diz que é proibida a administração, por qualquer meio, na alimentação e produção de aves, de substâncias com efeitos tireostáticos, androgênicos, estrogênicos ou gestagênicos, bem como de substâncias ß-agonistas, com a finalidade de estimular o crescimento e a eficiência alimentar. É assim que está definido na Instrução Normativa nº 17 de 18 de julho de 2004.

Cláudio Bellaver, pesquisador da Embrapa Aves e Suínos de Concórdia, em Santa Catarina, já explicou aos autores, editores de revistas, jornalistas, profissionais liberais formadores de opinião e leitores em geral, “que é um mito errado assumir que os frangos necessitam de hormônio exógeno (externo e adicional ao fisiológico) para apresentarem a boa performance produtiva que apresentam”.

Veja também a reportagem da TV Cultura, no Roda Viva.
http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/roda-viva-recebe-antonio-gilberto-bertechini

Outro ponto, de cruel desconhecimento, é sobre sua citação da “carne com quilos de remédios”, convidou-o a visitar o trabalho que realizamos com os produtores rurais, aqui na Região Oeste do Paraná . Neste caso com suínos, onde todos os medicamentos (quando aplicados) são realizados por prescrição técnica e cumpridos seus respectivos períodos de carência. Possuímos procedimentos para a aplicação e registros das atividades, que somente é realizada depois do funcionário ser treinado. Tudo feito com muita seriedade. Além dos requisitos para a garantia da segurança do alimento, trabalhamos com foco na sustentabilidade da produção, da proteção ambiental, na saúde e segurança dos envolvidos e na garantia do bem estar animal.

Neste mesmo sentido de produção leiteira, há, por parte de um grande número de produtores e laticínios, um rigoroso controle de resíduos no leite. Existem produtores que mantém salas de ordenhas separadas para animais em tratamento, para que não ocorra nenhuma contaminação no leite que é comercializado.

Por favor, busque mais informações nos organismos que possuem competência para afirmar tais questões de produção. Nosso país é amplamente dependente das pessoas que trabalham na agropecuária e, a maioria delas, não merece tais adjetivos citados pela manhã dos alimentos que produzem.

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