É arriscado basear o desenvolvimento apenas em setores intensivos em recursos naturais
MARCELO MITERHOF
MARCELO MITERHOF
Quer dizer, é arriscado basear o desenvolvimento apenas em setores intensivos em recursos naturais. Os avanços só costumam dar certo por um tempo limitado quando uma potência industrial é carente desses produtos. A razão é que a indústria é a principal geradora e difusora de inovações, comandando o desenvolvimento produtivo e sendo menos acessível à competição de novos produtores.
Segundo, é notável na experiência argentina a constatação de que o país tinha no início do século 20 altos níveis de urbanização e de escolarização da população. Contudo, sua industrialização foi menos profunda que a brasileira.
Isso sugere que a estratégia de pavimentar o caminho para o desenvolvimento, qualificando a mão de obra e criando uma infraestrutura eficiente, entre outros elementos das clamadas reformas, não é condição suficiente para trilhá-lo.
O capitalismo é, como Marx e Keynes o caracterizaram, uma economia monetária de produção, em que a moeda tem um papel central e distintivo do que ocorre em outros sistemas econômicos.
Isso faz com que a demanda seja sua principal alavanca, algo que pode ser dado exogenamente pelas exportações ou criado pelos gastos públicos, estabelecendo as condições que incentivarão o investimento para aumentar os demais fatores
-aqueles considerados como premissas por outras visões do pensamento econômico- que levam ao desenvolvimento.
A experiência argentina é útil quando a emergência da China, uma potência consumidora de produtos primários, recolocou a possibilidade de retomar o desenvolvimento baseado na exportação de commodities.
Há riscos óbvios nessa estratégia, como a China ampliar a produtividade agrícola à medida que sua população se urbaniza ou conseguir outros fornecedores. Ou ainda o seu consumo de minério de ferro cair à medida que país se torne autossuficiente em sucata, um insumo mais barato do aço.
De qualquer forma, a ascensão chinesa permitiu a Brasil e Argentina reduzir expressivamente a principal restrição que limitou suas industrializações voltadas ao mercado interno: o balanço de pagamentos.
Antes, a política econômica, em vez de estar centrada no ciclo de negócios, baseava-se na administração da restrição externa e de seus impactos inflacionários.
Agora, num momento de crise internacional, que reduz a demanda pelas exportações, é factível que a elevação do gasto público alavanque a demanda interna para reativar a atividade econômica.
Portanto, não se trata de relegar a segundo plano a agropecuária e o extrativismo. Além da importância econômica, eles foram cruciais, por exemplo, para interiorizar o Brasil. Porém é preciso aproveitar a época de bonança para alavancar a indústria e garantir o crescimento sustentado. Além de serem incluídos no padrão de consumo moderno, os brasileiros precisam de mais empregos de qualidade crescente -algo que a indústria proporciona, com desdobramentos nos serviços.
Nos anos 30, a restrição de divisas impulsionou a industrialização brasileira: ao dificultar sobremaneira as importações, incentivou a produção local. Seria inovador retomar uma política de industrialização num período favorável de balanços de pagamentos. O resultado deve ser mais robusto.
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