sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Libaneses necessitados em seu próprio país





Com a Guerra civil na Síria, aumenta cada vez mais o numero de refugiados Sírios no Líbano. Esses refugiados são famílias, constituídas por crianças, mulheres e idosos. 

Todos sabem que crianças necessitam cuidados especiais, tais como: educação e ensino, medicação, vestuário, calçados e alimentação. Sem citar os abrigos apropriados, com água, luz, saneamento básico, aquecimento, direitos básicos mínimos de qualquer ser humano. 

Como o Líbano pode acolher refugiados, independente de que pais eles são provenientes, quando é evidente que o país não tem condições de ajudar nem os próprios libaneses?

Existem áreas muito pobres no Líbano, sem água e luz, com famílias vivendo em situação crítica, sem acesso a luz, a água, saneamento básico, sem aquecimento, por um alto custo de vida. Crianças fora das escolas, porque os pais não tem condição financeira para pagar o ensino dos filhos, mesmo nas escolas publicas, pois até nas escolas públicas existe uma taxa mínima a ser paga, as escolas públicas no Líbano não são totalmente gratuitas, como deveriam ser.


Visitamos uma dessas áreas no Beqaa, parte de Hermel, e outra chamada Faour, onde encontramos crianças entre 3 a 10 anos de idade brincando na rua, no frio, vestindo apenas camisetas e descalços. 


Quando perguntamos por que eles estavam brincando do lado de fora àquela hora ao invés de estarem na escola, elas simplesmente responderam que não estão matriculadas na escola, porque os pais não tem como pagar o ensino pra eles, apenas trabalham para conseguir alimentá-los. 
Ao perguntarmos por que estavam tão mal agasalhados e brincando no frio, disseram que eles não têm agasalhos ou sapatos apropriados. 

Pedimos a eles que nos mostrassem a casa onde vivem, e constatamos que essas crianças vivem em situação realmente muito precária e nada saudável. 

O teto do que deveria ser um lar, pingava água em vários cantos, o que talvez justifique a opção deles de ficar do lado de fora, onde provavelmente estava menos frio. 

Na casa vive uma família com seis crianças. Existem outras áreas no Líbano, como Akkar, por exemplo, onde outras famílias sofrem com os mesmos problemas.

Como o governo libanês pode acolher refugiados, se uma boa parte da população libanesa necessita urgentemente de ajuda e não vive dentro das condições mínimas à que um ser humano necessita? 

Como abrigar refugiados de outro país, providenciando meios necessários e adequados de sobrevivência para eles, quando parte do próprio povo, que deveriam receber ajuda do governo, vive em total miséria e descaso das autoridades públicas?

Antes de abrigar os refugiados que estão entrando no Líbano, o governo Libanês deveria acolher essas crianças e famílias libanesas, e providenciar moradia e ensino digno a elas, porque isso é obrigação do Estado. 


Essas pessoas são libanesas como todos os demais libaneses, e eles têm seus direitos e a mesma importância que os demais libaneses, e tanto quanto os refugiados sírios que estão entrando no país. 

É dever do Governo, reduzir o numero de crianças das ruas, e colocá-las dentro das escolas, vestidas, calçadas, alimentadas e oferecer a elas condições de vida mais decentes e humanas, ajudar essas famílias a terem um pouco de dignidade. 

Esse ano é ano de eleição e diversos políticos pedirão votos de todos os cidadãos libaneses, mas antes de pensarem em garantir uma cadeira no governo, eles deveriam mostrar interesse pela população libanesa e ajudar quem realmente necessita, e não tentar esconde-los da sociedade, permitindo que eles vivam marginalizados da sociedade, e em condições tão sub-humanas.

O número de refugiados vem crescendo cada vez mais, a cada dia, devido à situação na Síria. 
E os partidos políticos estão constantemente em atrito, porque querem abriga-los no Líbano, sem avaliar a verdadeira capacidade do país para isso. É como querer colocar 200 pessoas dentro de um quarto. 

Essas pessoas não necessitam apenas de um teto para serem abrigadas, mas de ser atendidas, todas as suas necessidades básicas, respaldo médico, porque alguns necessitam até de internação médica, as crianças precisam frequentar as escolas.


Pelo lado humanitário, solidário, sem duvida o Líbano tem capacidade de acolher esses refugiados, mas além deles, há os libaneses citados anteriormente, que vivem em péssimas condições, que ainda não foram “acolhidos” pelo governo libanês e aguardam em silêncio serem notados e ajudados. 

Como ignorar essas pessoas para socorrer em primeiro plano os refugiados sírios?

Devido a tempestade que tomou conta do país essa semana, pudemos ver através de noticiários de TV a situação precária em que várias famílias libanesas vêm vivendo, pessoas que foram carregadas pelas enchentes, pessoas que morreram de frio. 

Essas pessoas devem ter prioridade para o governo libanês, antes de o governo pensar em acolher refugiados de outros países. 

Recentemente, no programa Lel Nasher do repórter Tony Khalifa, eu vi o diretor de um hospital dando uma entrevista, informando o número de refugiados internados no referido hospital de forma gratuita, e pedindo para que outros hospitais os atendessem gratuitamente também.

Interessante observar que há um ano, o mesmo programa de TV noticiou o caso de um cidadão libanês, cuja esposa deu a luz a gêmeos , e os bebês precisaram de um tratamento especial porque eles nasceram com problemas, o que aumentou a conta do hospital. 
E quando a mãe e os gêmeos tiveram alta do hospital, o pai foi obrigado a deixar um dos bebês no hospital, como garantia de que ele iria pagar a conta do hospital. 

E esse cidadão libanês, só pode retirar seu filho do hospital depois de ter ido a este programa de TV contar a sua história, e receber uma ligação ao vivo do Ministro da Saúde dizendo para ele ir buscar o bebê no hospital.

Como um hospital pode exigir a um pai para deixar seu filho, recém-nascido, como garantia de pagamento? 


E como um hospital, usa um programa de TV para lutar pela causa dos refugiados sírios, convocando outros hospitais a ajudar os refugiados sírios gratuitamente, quando 
eles mesmos não tiveram humanidade por um pai libanês?

O lado miserável, injusto e desumano do país ninguém mostra, ninguém fala, e ninguém ajuda também. Mas essas pessoas existem, não são fictícias, e elas precisam de ajuda das autoridades desse país, que infelizmente só enxerga e valoriza cidadãos quem tem dinheiro e status social.



THERESE MOURAD

Gazeta de Beirute


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