domingo, 24 de fevereiro de 2013

Paulo Moreira Leite lança A outra história do Mensalão


  22 DE FEVEREIRO DE 2013

Prefaciado por Jânio de Freitas, livro considera julgamento do STF farsesco e influenciado por interesses de classe. Tiragem de 18 mil exemplares estaria prestes a se esgotar
Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual

São Paulo – O jornalista Paulo MoreiraLeite lançou na noite de ontem (19), no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo, seu livro A outra história do mensalão (da Geração Editorial), com um debate transmitido ao vivo pela internet, em parceria com a TVT e a Rede Brasil Atual. O livro reúne os 37 posts publicados pelo autor em blog que mantinha em site da revista Época, da qual se desligou em dezembro.
No evento, o autor respondeu a questões de blogueiros e jornalistas por cerca de duas horas. Ele falou sobre o julgamento do chamado caso mensalão, o papel do Ministério Público e do Judiciário na atual conjuntura política, o poder da mídia, a necessidade de democratizar os meios de comunicação e a possível orquestração de um golpe político no país, entre outros temas.
Sobre o Supremo Tribunal Federal, ele questionou com veemência: “O tribunal que não quis julgar a tortura que sofreu o [deputado federal] José Genoino é o mesmo que depois condenou Genoino sem hesitação. Será que isso não significa nada?” Perguntado sobre se Lula não é de certa maneira responsável pelos resultados do julgamento do caso mensalão, já que foi o presidente que mais nomeou ministros para a corte (oito), Moreira Leite disse que o ex-presidente “pensou grande” e esteve diante de um fato acima de sua influência: “As pessoas sucumbem a pressões”. Além disso, explicou, “Lula, como representante dos trabalhadores, não era poder dominante, era governo. E um governo que não interessa às elites.”
Democracia e mídia
Segundo Moreira Leite, as forças políticas representadas pela mídia tradicional e pela oposição institucional “foram vencidas em 2002, depois em 2006 e em 2010, e mais uma vez em 2012”. Por isso, ”estão muito irritados” e procuram outras vias para tentar novamente voltar ao poder. “Eles desaprenderam a ganhar no campo  democrático, não têm candidatos”. Para o jornalista, nem mesmo os mínimos avanços sociais e econômicos conquistados pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff são tolerados pela direita nacional. “A burguesia não aceita mais fazer o que considera concessões. Como a oposição não encontra resposta no campo democrático, “tudo é motivo para achincalhar” o governo, de Lula a Dilma.
Se, por um lado, as investidas antidemocráticas não têm surtido efeitos para retomar o poder via eleições, por outro o jornalista vê uma ameaça na conjuntura atual que não havia nos dois governos Lula: a economia internacional. “Vivemos um momento em que não há as condições mundiais que permitiram um crescimento como o chinês de alguns anos atrás, hoje a Europa está afundando, e começa a haver consequências [no Brasil]. O mundo está mais ‘hostil’ que aquele que Lula enfrentou no primeiro mandato”, analisou.
Segundo o jornalista, embora ainda haja índices como, por exemplo, o aumento da renda, “o mundo não está nos ajudando, mas de certa maneira está nos atrapalhando”. Para ele, nesse ambiente Dilma está sendo pressionada a repensar alguns aspectos da política econômica.
Essa conjuntura, na visão do autor de A outra história do mensalão, pode dar fôlego à estratégia de ataques sistemáticos e permanentes da mídia. No entanto, em sua avaliação, “não estamos na iminência de um golpe, porque temos um governo muito popular e o governo está forte”.
Ministério Público
Moreira Leite também foi perguntado sobre a opinião do ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, a respeito da atuação, sob forte pressão midiática, do Ministério Público relacionada ao mensalão. Em evento recente, Dirceu disse que o MP é um “monstro” criado pela esquerda brasileira. “Hoje, metade dos prefeitos do Brasil são investigados pelo Ministério Público. É difícil acreditar que metade dos prefeitos do país sejam ladrões. Imagine como é um prefeito trabalhar sob esse tacão”, segundo o jornalista.
Apesar de o MP ter “um poder exagerado, não acho que deva ser extinto. Mas esse é um debate que a sociedade precisa fazer”, afirmou Moreira Leite. O autor se disse favorável à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, de 2011, que retira poder de investigações criminais do Ministério Público, atribuindo essa incumbência às polícias federal e civis dos Estados e do Distrito Federal. “A proposta, no limite, melhora a situação. Mas, mas não se pode entregar toda a investigação exclusivamente à polícia.”

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