segunda-feira, 4 de março de 2013

Lideranças da ‘Teologia da Libertação’ escrevem aos cardeais; Casaldáliga envia poema


Lideranças da ‘Teologia da Libertação’ escrevem aos cardeais; Casaldáliga envia poema

O manifesto assinado por 2 mil teólogos da libertação, entre eles d. Pedro Casaldáliga, Leonardo Boff e Jon Sobrino, pede ao futuro Papa, quem quer que venha a ser, que considere como prioritária a expectativa dos católicos por uma Igreja aberta para as mudanças exigidas pelo mundo contemporâneo. Casaldáliga ainda enviou um poema ao papa emérito Bento XVI. Por Dermi Azevedo

Pela primeira vez na história da Igreja Católica, os cardeais eleitores do Papa recebem, de um bispo, um poema. O autor da poesia é o bispo emérito de São Félix do Araguaia/MT, o religioso catalão d. Pedro Casaldáliga, um dos representantes mais expressivos da Teologia da Libertação. 

O texto foi também enviado ao papa emérito Bento XVI. Paralelamente, d. Pedro assinou na semana passada um manifesto de 2 mil teólogos da libertação, entre os quais o brasileiro Leonardo Boff e o espanhol Jon Sobrino, com ampla atuação em todo mundo e que foi punido pelo então cardeal Joseph Ratzinger, quando era prefeito (ministro-chefe) Congregação da Doutrina da Fé (antigo Santo Ofício). 

O manifesto pede ao futuro Papa, quem quer que venha a ser, que considere como prioritária a expectativa dos católicos por uma Igreja aberta para as mudanças exigidas pelo mundo contemporâneo. 


De Pedro do Araguaia para o Pedro de Roma:

“Deixa a Cúria, Pedro”

Deixa a Cúria, Pedro,

Desmonta o sinedrio e as muralhas,

Ordene que todos os pergaminhos impecáveis sejam alterados

pelas palavras de vida, temor.

Vamos ao jardim das plantações de banana,

revestidos e de noite, a qualquer risco,

que ali o Mestre sua o sangue dos pobres.

A túnica/roupa é essa humilde carne desfigurada,

tantos gritos de crianças sem resposta,

e memória bordada dos mortos anônimos.

Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente

e César os abençoa a partir da sua arrogância.

Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.

O povo é apenas um “resto”,

um resto de esperança

Não O deixe só entre os guardas e príncipes.

É hora de suar com a Sua agonia,

É hora de beber o cálice dos pobres

e erguer a Cruz, nua de certezas,

e quebrar a construção – lei e selo – do túmulo romano,

e amanhecer

a Páscoa.

Diga-lhes, diga-nos a todos

que segue em vigor inabalável,

a gruta de Belém,

as bem-aventuranças

e o julgamento do amor em alimento.

Não te conturbes mais!

Como você O ama,

ame a nós,

simplesmente,

de igual a igual, irmão.

Dá-nos, com seus sorrisos, suas novas lágrimas,

o peixe da alegria,

o pão da palavra,

as rosas das brasas…

… a clareza do horizonte livre,

o mar da Galileia, ecumenicamente, aberto para o mundo.

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