quarta-feira, 6 de março de 2013

Memória: Chávez e o Media Watch Global


Memória: Chávez e o Media Watch Global

Em maio de 2002, logo após a segunda edição do Fórum Social Mundial, um grupo de jornalistas de vários países viajou a Caracas para levar solidariedade e apoio ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que havia sido alvo de um golpe de Estado que acabou fracassando. Alguns meses antes, em março do mesmo ano, foi lançada a proposta de criação do Media Watch Global, um observatório internacional de mídia. Carta Maior relembra esse momento.

Em maio de 2002, logo após a segunda edição do Fórum Social Mundial, um grupo de jornalistas de vários países viajou a Caracas para levar solidariedade e apoio ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que havia sido alvo de um golpe de Estado que acabou fracassando. Alguns meses antes, em março do mesmo ano, foi lançada a proposta de criação do Media Watch Global, um observatório internacional de mídia, o que acabou ocorrendo em março, em Paris. Na ocasião, Ignácio Ramonet foi eleito para a presidência do Media Watch e o diretor da Carta Maior, Joaquim Ernesto Palhares, o secretário geral da entidade, que ficou com a responsabilidade de organizar a visita do grupo de jornalistas a Venezuela.

A Carta Maior relembra esse encontro, reproduzindo a matéria escrita na época por Marcel Gomes e Carlos Tibúrcio:


Hugo Chávez elogia Media Watch e pede imprensa livre e imparcial

Caracas e São Paulo – Em um gesto que demonstra a relevância do debate sobre a imprensa no atual cenário de crise institucional da Venezuela, o presidente Hugo Chávez convidou os fundadores do Media Watch Global – o observatório internacional de imprensa, criado durante o II Fórum Social Mundial, no início do ano – para um almoço no Palácio Miraflores, sede do governo.

O encontro foi realizado no dia 15, pouco depois da criação da seção venezuelana do Media Watch, que reúne jornalistas, intelectuais e membros da sociedade civil para um trabalho de monitoramento e crítica da imprensa local. Participaram da reunião jornalistas de 12 países, representando veículos como Le Monde Diplomatique e Radio France Internacional (França), El Mundo (Espanha), Il Manifesto e IPS (Itália), Página 12 (Argentina) e The Guardian (Inglaterra). Carta Maior e O Pasquim 21 representaram o Brasil.

Prometendo falar pouco, Chávez fez uma saudação de cerca de uma hora aos convidados, relatou episódios do golpe de Estado e da reação popular e militar dos setores que saíram às ruas em defesa do governo. O presidente disse esperar que o Media Watch Venezuela contribua para a existência de uma imprensa livre, soberana e imparcial no país.

Não faltam fundamentos à crítica de Chávez. Durante a tentativa de golpe contra seu governo, os principais veículos de comunicação do país, tanto dos meios eletrônicos quanto impressos, adotaram um claro posicionamento favorável aos golpistas, cobrindo com destaque a rápida ascensão do líder empresarial Pedro Carmona. Analistas venezuelanos declararam que os grupos de comunicação participaram ativamente do movimento. Quando a revolta popular exigiu o retorno de Chávez ao poder, as principais televisões decidiram não mostrar imagens da mobilização, alegando que não queriam incentivar uma possível guerra civil.

Seria inevitável que o almoço se transformasse em uma coletiva de imprensa. Respondendo a El Mundo, da Espanha, o presidente da Venezuela informou que seguiria no mesmo dia para a Cúpula de Madrid, onde pretende buscar apoio junto a governos europeus. Il Manifesto, de Itália, perguntou se há risco de outra tentativa de golpe no país. Chávez afirmou que sim, não afastando a possibilidade de tentativas de homicídio contra ele, mas que não será fácil para os golpistas realizar novo ato.

Primeiro, porque sofreram um revés inesperado, perderam credibilidade e estão sendo investigados por suas ações. Segundo, porque o governo está fazendo um enorme esforço para acalmar o país, convidando ou mesmo convocando todos os setores da sociedade para um novo diálogo. Em especial, estão sendo abertas negociações com grupos empresariais, meios de comunicação, igrejas, sindicatos e outros setores populares. Os empresários da mídia, porém, já anunciaram que não participarão mais das conversações conciliatórias propostas por Chávez. ONG deverá chegar à Itália, Colômbia e Argentina

Criado durante o II Fórum Social, o Media Watch Global começou a operar efetivamente nesta última semana. Na segunda-feira (13), um encontro a Universidade de São Paulo com a delegação de jornalistas e intelectuais estrangeiros selou a criação do Media Watch Brasil, a seção local da ONG. Foi organizado também um comitê internacional encarregado de dirigir a ONG até sua completa legalização. Participam Roberto Sávio (IPS), Ignacio Ramonet diretor do (Le Monde Diplomatique), Jair Borin (diretor do Departamento de Jornalismo da ECA-USP), Joaquim Enesto Palhares (Agência Carta Maior), Bernardo Kuncinki (professor titular da ECA-USP e colunista da Agência Carta Maior) e Carlos Tibúrcio (membro do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial). No dia seguinte, a delegação seguiu para Caracas, onde se juntaram a profissionais venezuelanos para organização do Media Watch Venezuela. Novas seções da ONG deverão ser criadas na Itália, Colômbia e Argentina.

Em uma de suas intervenções, Ignácio Ramonet defendeu o Media Watch como uma maneira de o cidadão comum ter acesso à crítica de imprensa, que tende a ficar restrita aos meios acadêmicos e eventos específicos, como o Fórum Social. “Durante muito tempo a informação foi colocada como um quarto poder, que deveria defender os cidadãos dos abusos dos outros poderes. Mas a globalização econômica criou conglomerados midiáticos que tal porte que o objetivo de informar foi diluído entre outros interresses”, disse. “Daí que é preciso fortalecer um quinto poder, que seria representado pela sociedade civil e deveria contrabalançar os outros poderes. É nesse contexto que o Media Watch deve ser pensado, como mais um passo do movimento popular que nasceu em Seattle e criou o Fórum Social de Porto Alegre”, afirmou Ramonet.

O método de trabalho no Media Watch ainda está sendo planejado, mas o provável é que seus membros se debrucem sobre o estudo de casos polêmicos. No encontro na USP, foram discutidos possíveis temas, como a cobertura da imprensa nas próximas eleições brasileiras, a partir da insistente vinculação do nome do candidato petista à Presidência, Luis Inácio Lula da Silva, às oscilações das bolsas de valores, o quase monopólio dos meios italianos de comunicação mantido pelo primeiro ministro Sílvio Berlusconi, a ausência de imprensa livre na África, além, é claro, da conivência da mídia venezuelana com a tentativa de golpe de Estado contra Hugo Chávez.

Imprensa venezuelana destacou Media Watch

Para Cristina Quitanda, professora de Comunicação da Universidade Central da Venezuela, o caso venezuelano merece ser analisado tanto pelos sinais de omissão da imprensa durante a tentativa de golpe quanto pelos estragos causados na credibilidade da mídia do país. “Chegava o final de tarde e as bancas ainda estavam com pilhas de jornais, o que mostra que havia uma massa crítica funcionando e a população já não confiava no que os jornalistas escreviam”, disse Cristina.

Os jornalistas venezuelanos Andrés Izana, repórter de rádio e TV, e Azalia Venegas, diretora da Escola de Comunicação Social da Venezuela, deram testemunhos sobre os recentes acontecimentos em seu país. Andrés contou que se viu obrigado eticamente a pedir demissão da Radio Caracas Televisión, em protesto contra a proibição determinada pela direção das emissoras de difundir informações apuradas pelos repórteres durante o período de reação ao golpe de Estado no país. O clima político no país permanece muito tenso. O interesse dos profissionais e dos meios de comunicação venezuelanos pela Media Watch Global revela a importância da iniciativa para o país. O jornal El Universal publicou na terça-feira (14), em sua seção de política, matéria de destaque anunciando o evento.

O diretor do Le Monde Diplomatique deixou claro também que todo cidadão pode se filiar ao Media Watch Global. Mas lembrou de algumas categorias, que considera, fundamentais para o seu bom desempenho: jornalistas; professores, pesquisadores e estudantes de comunicação; e advogados e juristas especializados no assunto.

Ramonet sugeriu também que o Media Watch Global de cada país convide personalidades democráticas, de grande respeitabilidade ética, para compor Conselhos da entidade, dando-lhe a devida autoridade moral para cumprir as suas funções. O diretor do Le Monde Diplomatique deixou claro também que o Media Watch Global não é uma instituição contra ou hostil aos meios de comunicação e às empresas. É um movimento, disse ele, voltado para aperfeiçoar a qualidade da informação na sociedade, o que interessa aos meios de comunicação.

Participantes estrangeiros do encontro de São Paulo
Bernard Cassen - França - Le Monde Diplomatoque;
Ignacio Ramonet - França - Le Monde Diplomatique;
Roberto Savio - Itália - IPS;
Mauricio Matteuzzi - Itália - Il Manifesto;
Francisco Herranz - Espanha - El Mundo;
Miguel Tuñez López - Espanha - Prof. Cat. de Jornalismo da Universidade de Santiago de Compostela;
Arturo Guerrero Ramírez - Colômbia - Diário El Colombiano e Revista Comercio de Fenalco;
Ivonne Trias Hernandez - Uruguai - Semanário Brecha;
Ulisses Gorini - Argentina - Rádio Rivadavia;
Steve Rendall - EUA - Fairness & Acurracy In Reporting;
Dario Pignotti - Argentina - Página 12;
Mario Lubetkin - Uruguai - IPS;
Cristina Gonzalez - Venezuela – Universidade Central da Venezuela;
Maximilien Arvelaiz - Venezuela - Il Manifesto e Covert Action Quartely.


Participantes estrangeiros do encontro de Caracas

Além dos presentes no encontro de São Paulo, compareceram à Caracas para a instalação do Media Watch Venezuela:

Richard Gott – Inglaterra – The Guardian;
Ramon Chao – França – Radio France Internacional;
Carlos Gavetta – Argentina – Le Monde Diplomatique.
Joaquim Ernesto Palhares - Carta Maior

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