A revista de negócios e economia, Forbes, publicou semana
passada na quarta-feira, 22 de janeiro, a lista dos 100 grupos e
pessoas mais ricas do mundo.
A revista americana de negócios e economia, Forbes, publicou semana passada na quarta-feira, 22 de janeiro, a lista dos 100 grupos e pessoas mais ricas do mundo, de acordo com levantamento que faz anualmente, cujas fortunas alcançam cifras na casa de bilhões de dólares. De propriedade da companhia de mesmo nome, é uma publicação com artigos e reportagens sobre finanças, investimento, indústria e marketing.
Como todo tipo de levantamento de rendas e patrimônios, este pode não ter retratado com fidedignidade os números respectivos seja por conta da infinidade de fontes para as avaliações dos ativos líquidos em cada país e no exterior, seja por conta da disposição dos afortunados de informarem ou não suas situações de riqueza, além da possibilidade de não haver em muitos casos total e verdadeira correspondência entre o bem possuído e o nome de quem se apresenta realmente como detentor.
Assim, os números coligidos pela revista podem tanto estar subdimensionados quanto superdimensionados em alguns casos ou outros. A avaliação final, no entanto, não invalida nem o levantamento, nem o quadro final uma vez que as cifras são tão elevadas, e de difícil visualização para todos nós cidadãos comuns, que erros eventuais menores ou maiores não perturbam significativamente nem de longe os resultados encontrados. A única possibilidade de dúvida ou falha se refere a um informante ou outro se ver mal colocado na lista por se achar em posição subvalorizada em relação aos demais.
A riqueza para quem acumula como negócio ou profissão nunca tem limite para cima que satisfaça, qualquer um que esteja na faixa dos melhores aquinhoados em rendas e patrimônios vai continuar querendo sempre mais. Nesse grupo de bilionários ninguém é solidário com os demais, o lema é competir para subir e subir para competir.
Pois bem, entre os 100 bilionários mais ricos do mundo apontados pelo levantamento da Forbes encontram-se 5 brasileiros listados abaixo:
Os 5 maiores bilionários brasileiros segundo a Forbes
1. Jorge Paulo Lemann (Cervejaria) - US$ 17,8 bilhões (33º)
2. Joseph Safra (Banco) - US$ 15,9 bilhões (46º)
3. Antônio Ermírio de Moraes e família (diversos) - US$ 12,7 bilhões (74º)
4. Dirce Navarro de Camargo e família (Construção) - US$ 11,5 bilhões (87º)
5. Eike Batista (Mineração e petróleo) - US$ 10,6 bilhões (100º)
Total dos 5 brasileiros mais ricos - US$ 68,5 bilhões (Fonte: Forbes)
A soma dos 5 maiores bilionários do Brasil, todavia, não chega a superar a cifra do bilionário mais rico do mundo, Carlos Slim, mexicano, da área de telecomunicações, com fortuna estimada em US$ 73 bilhões. Mas a soma consegue, sim, ultrapassar o total de toda a renda auferida pelas pessoas de 10 anos e mais em idade de trabalho no país. Senão vejamos.
Tomando como referência os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) de 2011, os últimos publicados e disponibilizados pelo IBGE, obtém-se a distribuição dos rendimentos da população economicamente ativa (PEA), de 10 anos e mais de idade, por faixas de salario mínimo e rendimento médio de cada faixa. Logo, calcula-se a renda total do conjunto desses indivíduos que declararam rendimentos do trabalho principal na semana de referencia do levantamento, multiplicando-se o rendimento médio de cada uma das faixas pelas respectivas frequências (números de informantes).
A renda total calculada da PEA chega, então, em R$ 119,7 bilhões em 2011, a qual, ao ser atualizada para o ano de 2013, utilizando as taxas oficiais de inflação de 2012 (5,84%) e 2013 (5,91%), atinge a cifra de R$ 134,2 bilhões. Voltando agora à soma dos 5 bilionários mais ricos do Brasil, US$ 68,5 bilhões, e convertendo-a em reais para valores de 2013 (utilizando-se a taxa média anual de câmbio do ano), apura-se R$ 147,8 bilhões.
Os 5 bilionários brasileiros mais ricos conseguem juntar um patrimônio líquido em imóveis, plantas industriais, toda sorte de papeis financeiros e demais ativos, equivalente a 1,1 vez o total de toda a renda do trabalho apurada no país. Cada real ganho por um trabalhador no mercado equivale a 1,1 real de patrimônio líquido dos cinco bilionários brasileiros.
Se os montantes dos bilhões de propriedade dos mais ricos mostram a pujança de seus negócios herdados, associados com canais do Estado e multiplicados pelos titulares e famílias, o outro lado da cifra comparativa mostra os ganhos anuais que recebem todos os trabalhadores brasileiros, dos melhores e aos piores posicionados no mercado.
De um lado, o vigor do capitalismo em suas mais diversas manifestações nas mãos dos donos da economia, de outro o trabalho produtivo de quem leva adiante a expansão econômica pelo esforço de sua força de trabalho manifesta em experiências, aptidões e conhecimentos acumulados.
O valor da propriedade do capital e o valor do trabalho empregado. Outro retrato rascante do fosso social presente na sociedade brasileira, onde poucos acumulam demais e milhões de outros cuja soma de rendimentos não chega a ser nem igual.
A melhoria da desigualdade registrada pelos índices que a mensuraram nos últimos anos no Brasil se vale única e exclusivamente da incorporação de mais trabalhadores ao mercado, entrando nas faixas mais baixas de rendimentos, alguns conseguindo subir um pouco mais para atingir as faixas pertencentes à classe média. Apenas isso. Nada mais além disso.
O exercício comparativo feito aqui serve para alertar que o acúmulo de riqueza é bom economicamente para o país, mas quando elevado ao extremo, reunido em poucos domínios, é desastroso socialmente. Aumenta o fosso social, acirram as diferenças, alimentam rebeldias e protestos, incentivam desmandos de toda sorte e guardam no meio social uma bomba relógio que mais dia menos dia pode chegar a explodir às vezes sem ter nem para que, às vezes de forma organizada através de campanhas de grupos que se sentem injustiçados.
Democracia não se faz somente com direitos de ir e vir, opinar, se manifestar, se reunir, sentir e viver cidadania. Democracia se ganha com ganhos justos, sem diferenças abissais entre ricos e pobres, sem distonias de propósitos e projetos para a construção de uma nação afluente, irmanada, poderosa.
* Economista (Doutor/Unicamp)
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