terça-feira, 24 Março, 2015 - 18:30
Conforme o último Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres compõem 47,9% da população do meio rural. Para dar visibilidade a esta parcela expressiva e estimular o pensamento crítico sobre práticas de igualdade entre homens e mulheres, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) lançou, na tarde desta terça-feira (24), a “Coletânea sobre estudos rurais e gênero – Prêmio Margarida Alves 4ª edição – Mulheres e agroecologia”.
Fátima Brandalise, coordenadora do Nead, salientou a relevância de divulgar os trabalhos sobre a mulher no campo. “A temática é muito importante e é o que o Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário coloca como prioridade”, acrescentou.
O conteúdo da edição dialoga as políticas públicas de apoio e estímulo à produção agroecológica, executadas pelo MDA e pactuadas no Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Dentre essas políticas, destaca-se a Assistência Técnica e Extensão Rural Agroecológica, a primeira a incorporar 50% de mulheres em seu público beneficiário, além das ações do Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais, cujos projetos apoiados já possibilitaram atendimento de mais de 138 mil mulheres em ações de capacitação para produção, beneficiamento e comercialização, com foco na agroecologia e na economia feminista solidária, bem como na reforma agrária, onde elas representavam 70% dos beneficiários em 2014.
Iniciativas premiadas
A publicação reúne 16 trabalhos vencedores do Prêmio Margarida Alves, realizado em 2014. Parte da coleção Nead Especial, a obra apresenta artigos em três categorias: Ensaio inédito, Relatos de experiências e Memórias. Além dos textos ganhadores, foram reconhecidos cinco trabalhos com menção honrosa.
Magnólia Azevedo e Sarah Luiza Moreira tiveram seu trabalho “Mulheres e agroecologia: multiplicadoras agroecológicas transformando o semiárido” premiado na categoria Relatos de experiência. O artigo descreve as práticas desenvolvidas pelo Centro de Pesquisa e Assessoria Esplar na capacitação de vinte multiplicadoras agroecológicas de nove municípios do semiárido cearense. “A agroecologia é instrumento de empoderamento das mulheres, é resistência e mecanismo de superação da dominação patriarcal, se vista sob a ótica feminista”, destacaram as autoras.
A trajetória organizativa das mulheres no Polo da Borborema, na Paraíba, foi tema do trabalho de Julia Scaglioni Serrano, um dos vencedores na categoria Ensaio inédito. “A junção da agroecologia com a produção científica valoriza outros conhecimentos que estão fora dos polos acadêmicos e não são vistos como saber”, apontou Julia, que também atua como educadora popular em comunidades rurais.
Parceiros
O Prêmio Margarida Alves de Estudos Rurais e Gênero e a coletânea de artigos são promovidos pelo MDA – por meio da Diretoria de Políticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas (DPMR) e do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead) –, pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A 4ª edição do Prêmio contou com apoio de importantes centros de pesquisa e movimentos sociais: Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), Rede de Estudos Rurais, Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais (CNMTR), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento da Mulher Trabalhadora Rural, Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babau (MIQCB), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf – Brasil), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Quem foi Margarida Alves
Margarida Maria Alves foi a primeira mulher eleita, em 1973, para a presidência do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba. Em plena ditadura militar, Margarida foi uma das pioneiras na luta pelos direitos dos trabalhadores rurais. Foi também uma das fundadoras do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural. Durante os 12 anos que atuou no sindicato, foram movidas mais de 600 ações trabalhistas.
Sua luta entrou em choque contra uma das maiores usinas de cana-de-açúcar da região: a Usina Tanques, onde os operários e as operárias não tinham sequer carteira assinada. Margarida Alves começou a receber várias ameaças e, no dia 12 de agosto de 1983, foi assassinada por um matador de aluguel na porta de casa.
Margarida Alves se tornou um símbolo político e tem seu nome carregado em uma marcha que reúne todos os anos, em Brasília, no dia 12 de agosto, milhares de mulheres trabalhadoras rurais: a Marcha das Margaridas.
A publicação estará disponível para download gratuito na seção Publicações (Nead Especial) da página: www.nead.gov.br
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