quarta-feira, 9 de março de 2016

Potencial feminino de assentadas contribui para um campo mais justo em Santa Catarina

Publicado dia 08/03/2016
foto: Ascom Incra/SC

O protagonismo feminino nos assentamentos da reforma agrária em Santa Catarina tem, ao poucos, alterado a imagem do campo enquanto reduto exclusivo masculino. Empoderadas e organizadas, as mulheres se destacam em áreas diversas, sobretudo no cultivo orgânico, na guarda de sementes crioulas, na arte e na cultura e na educação. Segundo dados do Sistema Integrado de Gestão Rural da Ater (Sigra), em 2015, 421 famílias assentadas no estado declararam que suas mulheres participavam de grupos de mães, de mulheres, idosas ou grupos produtivos.
 São histórias de perseverança como as de Lucimeri, Maria Aparecida, Lucia e Liliane, que formam o grupo agroecológico do assentamento Pátria Livre, em Correia Pinto. Apesar dos desafios, as mulheres produzem desde 2011 com certificação orgânica participativa, entregando seus produtos em estabelecimentos públicos e comerciais, residências e, desde 2015, em feira realizada todas as quartas-feiras pela manhã no centro da cidade.
 O grupo surgiu pela afinidade entre elas, pela conscientização do papel social da terra em produzir alimentos sadios e devido à necessidade de se organizar. “Pela nossa experiência de vida, vemos que sempre dependeu muito das mulheres a questão da soberania alimentar, pela sensibilidade em defender a vida, por caber a nós o cuidado com alimentação de crianças e idosos”, defende Lúcia Maranho. Responsáveis do plantio à comercialização, elas colocam à prova quem desconfie da capacidade da mulher no campo, sobretudo no manejo de orgânicos, que exigem mais dedicação. “O sexo frágil é uma piada machista, desafio qualquer homem a produzir do jeito e na quantidade que produzimos”, diz Lúcia.
 Sensibilidade
Se para as assentadas da Serra Catarinense a principal qualidade é a persistência, no Oeste, no assentamento Bela Vista, município de Abelardo Luz, a assentada Maritania Andretta Risso se deixa conduzir pela sensibilidade feminina. Em suas mãos, as sementes também germinam arte, que irão contar histórias e contribuir para a formação de cidadãos.
A artista plástica começou sua trajetória com o artesanato aprendido com a mãe e hoje ampliou sua atuação, utilizando a arte para conscientização acerca da história de luta das famílias assentadas e da importância da relação justa com a terra. “Esse registro que a arte possibilita contribui para a história, é o que fica para os nossos filhos e as crianças que vem pela frente”, revela Maritania. Para conhecer mais sobre a trajetória da artista, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=_CQoe78bHK4
 Coletividade
Foi também pensando no futuro da próxima geração que a família Buffon, do assentamento Hermínio Gonçalves, de Caçador, no Meio Oeste catarinense, incentivou os estudos de seus filhos. A filha, Raquel, acredita que esse incentivo, seus anos de estudo no ensino público e seu engajamento político contribuíram para que neste ano ela ingressasse no curso superior de Medicina com bolsa integral pelo Programa Universidade para Todos (Prouni).
 A jovem pode ser um exemplo do que mostra a II Pesquisa Nacional sobre a Educação na Reforma Agrária, divulgada em 2015, que apontou que o sexo feminino foi maioria nos cursos de magistério, graduação e pós-graduação oferecidos às assentadas de 1998 a 2011, o que demonstra uma tendência maior entre as mulheres em prosseguir nos estudos de nível superior.
Para Raquel, a distância da escola e o desafio em cursar uma das graduações mais concorridas no país não impediram que conquistasse uma vaga. Hoje, ela é a porta de entrada para a realização de outros sonhos não apenas para si mesma, mas para sua família, sua comunidade e também para o país. “A faculdade de Medicina significa para mim uma futura segurança financeira para meus pais, mas também quero contribuir para uma saúde mais humanitária no país, um atendimento mais justo, quem sabe num postinho no assentamento, pois quero estar onde realmente precisam de médicos”, explica a universitária.
 Juntas, essas mulheres assentadas catarinenses são apenas uma mostra de todo o potencial feminino que há na reforma agrária. Elas compartilham o mesmo sentimento de cuidado com a família, que se estende à comunidade e transforma todas as relações. Prova de que esse modo “feminino” de viver e produzir é um benefício para todos na busca por uma sociedade mais justa.
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